Título: Exportador se retrai e fluxo cambial tem déficit de US$ 3,75 bi no mês
Autor: Torres, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 23/10/2008, Finanças, p. C2

A saída de dólares do país aumentou na semana passada, com o saldo negativo do fluxo cambial do mês, aumentando de US$ 1,089 bilhão até o dia 10, para US$ 3,751 bilhões até a sexta-feira passada, dia 17. A piora ocorreu por uma combinação de saída maior no câmbio financeiro com um déficit de US$ 719 milhões no câmbio comercial ao longo da semana passada. Em setembro, houve entrada de líquida de US$ 2,803 bilhões no país. No mês de outubro de 2007 até o dia 17, o fluxo era positivo em US$ 2,872 bilhões.

O câmbio comercial, no qual são registrados os dados do comércio exterior brasileiro, proporcionou fluxo positivo de US$ 1,250 bilhão em outubro deste ano até o dia 17, resultado de exportações de US$ 7,583 bilhões e importações de US$ 6,333 bilhões. Até o dia 10, o saldo era de US$ 1,970 bilhão.

O câmbio financeiro, no qual são fechadas as operações com capitais e serviços, segue no vermelho. Nessa rubrica, as compras atingiram US$ 15,790 bilhões e as vendas somaram US$ 20,791 bilhões, gerando saída líquida de US$ 5,001 bilhões. Desde o agravamento a crise, o BC passou a abrir o resultado do fluxo cambial diário. Esses dados mostram uma ação maior dos importadores fechando o câmbio ao longo da semana passada, quando o dólar apresentou queda em relação aos picos atingidos no início do mês.

O fluxo comercial acumulado no ano, até o dia 17 passado, mostra entrada líquida de US$ 44,521 bilhões, com exportações de US$ 156,214 bilhões e importações de US$ 111,693 bilhões. O fluxo financeiro tem perda líquida de US$ 31,084 bilhões desde janeiro, com vendas de US$ 384,991 bilhões e compras de US$ 353,907 bilhões. Com isso, o fluxo acumulado total de 2008 está positivo em US$ 13,437 bilhões. No mesmo período do ano passado, porém, a entrada de divisas foi muito maior, de US$ 72,925 bilhões.

Os dados diários das operações de crédito para exportação na modalidade Adiantamento sobre Contrato de Câmbio (ACC) mostraram uma ligeira melhora, especialmente no final da semana passada. Após as linhas terem praticamente secado na segunda e terça-feira passada, com volumes de US$ 28 milhões e US$ 82 milhões, respectivamente, os repasses na modalidade voltaram a ocorrer depois de quarta-feira. Segundo os dados do BC, nos últimos três dias da semana passada o volume médio diário das operações de ACC foi de US$ 214 milhões.

Ainda que este possa ser um sinal de melhora, a situação ainda está longe do normal. Na semana passada como um todo, a média diária ficou em US$ 150 milhões. O volume é 29% maior que o ritmo médio de US$ 116 milhões por dia observado até o dia 10 deste mês, mas 55% menor que a média diária da primeira quinzena de setembro, de US$ 331 milhões.

Os dados confirmam que um dos principais canais de transmissão da crise financeira internacional para a economia brasileira ainda é o crédito para exportação. Sem acesso a funding em dólares - ou ao menos com receio de não conseguir renovar as captações que vencerem - os bancos reduzem os repasses para as empresas que vendem ao exterior.

Para tentar contornar este problema, o Banco Central lançou mão de duas estratégias. Uma é a que permite usar as reservas internacionais para dar funding em dólares para os bancos brasileiros repassarem crédito para as exportadoras. Na segunda-feira, o BC colocou US$ 2 bilhões à disposição do mercado, mas os quatro bancos que tiveram propostas aceitas tomaram apenas US$ 1,62 bilhão. Eles terão agora 30 dias úteis para repassar os recursos em linhas de crédito para o comércio exterior.