Título: Petrobras busca proteção ao alongar plano
Autor: Schüffner, Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 23/10/2008, Empresas, p. B8

Ao anunciar a possibilidade de alongar o Plano Estratégico do atual horizonte de cinco anos, indo além de 2013 e mirando 2020 como sugeriu o presidente da companhia, José Sergio Gabrielli em entrevista à "Folha de S.Paulo", a Petrobras poderá afastar a instabilidade dos próximos dois anos do seu plano de investimentos. É inegável que o cenário econômico mudou para pior. A desaceleração da economia global pode reduzir o consumo de derivados de petróleo e isso afeta as petrolíferas, incluindo a Petrobras, em duas frentes importantes: a receita com a venda do produto, que está em queda livre; e o custo de financiamento dos investimentos, que agora se tornou mais caro, com impacto direto sobre o pré-sal.

Desde a crise, o Risco Brasil subiu de 200 para 650 pontos básicos. Na última captação da Petrobras, de US$ 750 milhões em janeiro, ela pagou rendimento de 5,875% ao ano e agora o custo desse bônus está em 10%. E ninguém sabe até quando a situação vai se deteriorar. No último mês e meio o Risco Brasil subiu 119%. Desde 15 de setembro, quando a bancarrota do banco Lehman Brothers deu uma nova face à crise dando início ao ressecamento do crédito entre instituições financeiras, o indicador aumentou de 309 pontos para 677 pontos. Já o barril de petróleo, que foi negociado a US$ 143 no dia 30 de junho, está abaixo de US$ 70.

Se tiver menos dinheiro em caixa e o custo do dinheiro aumentar, a Petrobras pode ter problemas para fazer frente à sua pesada carteira de investimentos projetados para a próxima década. O programa de construção de quatro refinarias de grande porte, orçadas em US$ 43 bilhões, pode receber um freio e espera-se menos apetite nas operações da área internacional. Tudo isso somado pode afetar as regras em discussão sobre o pré-sal em Brasília em um ponto caro: o pagamento de impostos.

A própria Petrobras tem defendido o aumento dos royalties e da participação especial (PE) apenas na produção dos campos que forem licitados no futuro, o que excluiria os gigantes do pré-sal já descobertos e também os que já estão em produção.

Mas no governo há gente simpática a uma elevação imediata das alíquotas do royalty e da Participação Especial (PE), que é aplicada sobre a produção de campos maiores. No caso dessa última, a idéia é mudar também o limite mínimo para início da cobrança, o que significaria ampliar o número de projetos que pagariam o tributo. O maior efeito disso seria sentido pela Petrobras, de longe a companhia que mais paga tributos sobre a produção no Brasil. Não por acaso, Gabrielli já se posicionou publicamente contra essa elevação.

O banco Credit Suisse revisou suas projeções para o programa de investimentos da Petrobras até 2013. Em relatório intitulado "Choque de realidade", a estimativa do banco suíço é de que serão necessários US$ 150 bilhões para investimentos nos próximos cinco anos, ante os US$ 163 bilhões estimados no início do mês. Mesmo assim a companhia terá que levantar US$ 16 bilhões em financiamentos ou cortar despesas desse montante para fazer frente às suas necessidades. O banco espera que o corte, se necessário, seja direcionado às refinarias premium do Maranhão e Ceará e no Comperj, no Rio. Mesmo com todas essas dificuldades, acredita que a Petrobras continua sendo uma das mais atrativas companhias de petróleo do mundo e em privilegiada posição de acesso a reservas.