Título: Alimentos voltam a puxar inflação no varejo
Autor: Bouças, Cibelle
Fonte: Valor Econômico, 24/10/2008, Brasil, p. A4

A inflação no varejo voltou a se acelerar antes de absorver os efeitos da depreciação do real frente ao dólar. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresentou alta de 0,3% em outubro, ante 0,26% em setembro. No acumulado do ano, o índice variou 5,28%, acima dos 3,4% verificados em igual período de 2007. Em 12 meses, a inflação acumulada é de 6,26%, superior ao apurado nos 12 meses encerrados em outubro do ano passado (6,2%).

O principal fator para a nova aceleração no índice, observaram economistas, foi a volta da inflação no grupo alimentação e bebidas, que em outubro registrou alta de 0,05%, enquanto em setembro apontava deflação de 0,25%. A valorização, de acordo com Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, é reflexo da oferta menor que a demanda de alguns produtos, como o caso do feijão, que passou de uma queda de 4,24% para alta de 3,29% e do arroz, que passou de uma deflação de 1,67% para inflação de 0,19% entre setembro e outubro. "É natural ainda não ter efeito do câmbio. Em geral, há uma demora de três meses para que uma alta dessa magnitude ter algum impacto no IPCA", afirmou. Vale prevê para outubro alta de 0,38% do IPCA e, para o ano fechado, variação de 6,1%, com efeito mais expressivo do câmbio em janeiro.

A economista-chefe do Banco ING, Zeina Latif, considera que um "efeito mínimo" pode ter sido detectado dentro do grupo vestuário, que saiu de uma alta de 0,42% em setembro para variação de 1,24% neste mês. "O item vestuário veio bem pressionado e isso também vem ocorrendo no atacado. Pode ter havido um reflexo do câmbio sobre os itens de vestuário importados da China, mas é um efeito ainda marginal", afirmou. De acordo com a economista, o efeito do câmbio nas últimas semanas deve demorar pelo menos um mês para chegar ao varejo. "Quando há muita oscilação no câmbio, normalmente as empresas postergam o reajuste de preços porque não sabem que nível de aumento será absorvido pelo mercado, até porque não se sabe já haverá uma retração do consumo no curto prazo", ponderou. O banco prevê para outubro alta de 0,35% do IPCA.

O economista da LCA Consultores Fábio Romão acrescentou que 30% dos itens avaliados no IPCA são preços administrados, geralmente indexados pelo Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) de meses anteriores, quando a inflação era mais baixa. "Quase um terço dos preços está blindado contra a desvalorização", disse. Dos outros 70%, a metade tem uma resposta mais direta às oscilações cambiais. "É preciso que a desvalorização dure mais tempo para que se perceba um repasse direto ao varejo", afirmou.

Conforme cálculo da LCA, o grupo de administrados subiu 0,16% em setembro e 0,18% em outubro, abaixo do índice geral. Já o conjunto dos preços livres (excluindo alimentos), subiu 0,57% em setembro e 0,5% em outubro. A média dos núcleos da inflação apontou variação menor em outubro, de 0,44%, do que em setembro (0,5%). Romão prevê para outubro um IPCA de 0,4%, mas esse índice pode vir mais alto se a desvalorização cambial perdurar, disse. Para novembro e dezembro, as altas seriam mais significativas, de 0,53% e 0,66%, respectivamente.