Título: Petroquímica amplia capacidade e quer fabricar mais 450 mil toneladas de resinas
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 24/10/2008, Brasil, p. A3

A Quattor, segunda maior petroquímica do Brasil, retomou segunda-feira a produção das linhas de matéria-prima e de resinas da unidade de Mauá (SP), desligadas desde agosto para a entrada em produção de ampliações feitas nas plantas de eteno e de polietilenos. No olho do furacão de uma das maiores crises financeiras mundiais, a empresa não só reativa a capacidade anual de produção de mais de 600 mil toneladas, como incorpora ao longo do ano 450 mil toneladas de capacidade de produção de resinas termoplásticas, com investimento total de R$ 2 bilhões. A coincidência preocupa, mas não assusta o presidente da empresa, Vitor Mallmann.

"Seria melhor se fosse em outra conjuntura, mas os projetos petroquímicos são de longa maturação", diz. Em entrevista ao Valor, Mallmann disse que o momento atual é de "esperar a espuma baixar" para ver se haverá redução significativa na ponta do consumo, o que terá impactos gerais em toda a cadeia produtiva. Por enquanto, segundo ele, houve um refluxo das vendas em setembro, já superado na primeira quinzena deste mês.

Na avaliação do executivo, os clientes buscaram em setembro "realizar estoques esperando clarear os preços" das resinas e agora retomaram as compras, porque a combinação da alta do dólar com a queda do preço do petróleo anulou o impacto sobre produtos que são matérias-primas da indústria de transformação de plásticos.

A chave do problema, segundo Mallmann, é saber como vão se comportar daqui para a frente os clientes desses transformadores. Daí sua preocupação com notícias como a desaceleração das vendas de veículos pela indústria automobilística, um dos maiores clientes das fábricas de matérias plásticas.

Formada pela associação da Unipar (60%), de cuja direção financeira Mallmann saiu para dirigir a nova empresa, com a Petrobras (40%), a Quattor, segundo seu presidente, não está sendo afetada diretamente pela redução do crédito ao comércio exterior. Mas ressalta que, ao afetar seus clientes, a falta de linhas como ACC e ACR afetam indiretamente a petroquímica.

Já a valorização do dólar diante do real, afeta "em termos contábeis" a dívida externa da empresa, feita fundamentalmente para a construção da Rio Polímeros, planta gasquímica de 540 mil toneladas anuais de capacidade, além de uma dívida feita com a IFC, braço do Banco Mundial que financia o setor privado. A dívida contraída para construir a Rio Polímeros foi de US$ 640 milhões.

Como a Quattor exporta cerca de 300 toneladas de produtos por ano, incluindo 150 mil toneladas da Rio Polímeros, a valorização do dólar recebido nas vendas anula o aumento da dívida. No caso dos débitos da planta gasquímica, os dólares ficam no exterior para pagar as parcelas com vencimento semestral.

Mallmann disse que a Quattor não teve problemas com derivativos cambiais, mas deixou sem resposta precisa o futuro da participação da empresa no projeto do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), liderado pela Petrobras. "Temos mantido conversações com a Petrobras sobre o equacionamento da matéria-prima para nos engajarmos (no projeto). Não tenho visibilidade para três meses, nem, para o longo prazo. Havendo redução da perspectiva de crescimento, vai impactar um projeto dessa magnitude."