Título: Favoritismo de Kassab abre debate sobre sucessão de Serra
Autor: Felício, César; Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 24/10/2008, Política, p. A9

O fim do segundo turno da eleição municipal em São Paulo inaugurou a articulação partidária para a sucessão estadual em 2010. No campo de aliados do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), a possível reeleição do prefeito Gilberto Kassab (DEM) reforça a certeza entre tucanos e integrantes do DEM de que Serra não disputará a reeleição dentro de dois anos. Kassab já sinalizou que não disputará o governo do Estado e o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) sofrerá contestações dentro do seu próprio grupo caso queira concorrer ao governo estadual. Julio Bittencourt/Valor

Kassab: prefeito chega ao segundo turno com grande vantagem nas pesquisas em relação à adversária petista

Há equilíbrio entre os outros pretendentes citados: no PSDB, o secretário da Casa Civil, Aloysio Nunes Ferreira Filho, o vice-governador Alberto Goldman, o líder do partido na Câmara dos Deputados, José Aníbal e o secretário municipal dos Esportes, Walter Feldman. No DEM, o secretário estadual do Trabalho, Guilherme Afif Domingos, o primeiro padrinho político de Kassab.

No PT, a ameaça de uma derrota de grandes proporções em São Paulo desencadeou um processo de mudança no eixo do poder no PT paulista. Em dificuldade nas pesquisas, a candidata Marta Suplicy aceitou ao longo da campanha a influência cada vez maior do Palácio do Planalto na condução de sua estratégia. Do marqueteiro João Santana à presença do chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, na coordenação do segundo turno.

Caso Marta perca a eleição, seu nome é lembrado para disputar o governo estadual, mas ela perde a aura de candidata natural. Terá que disputar internamente com adversários que contestarão a sua capacidade de ser competitiva depois das seguidas derrotas sofridas por seu grupo desde que se tornou hegemônico na máquina estadual.

No campo de lideranças mais distantes da ex-prefeita e ex-ministra, são citados como opções o secretário-geral do PT, o deputado José Eduardo Cardozo, e o senador Aloizio Mercadante. No campo mais próximo a Marta, são lembrados o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, e o prefeito de Osasco, Emídio de Souza, que está encerrando o mandato. Ponte entre Lula e o grupo de Marta, o deputado Antonio Palocci Filho depende de ser inocentado no Supremo Tribunal Federal das acusações que sofre por violação de sigilos constitucionais. Caso vença em São Bernardo do Campo, o ex-ministro Luiz Marinho também pode aparecer entre os cotados.

Independente do resultado eleitoral, Carvalho retira-se da disputa fortalecido como principal candidato a assumir a presidência nacional do PT em 2009 e coordenar o processo eleitoral nacional no ano seguinte. Dos dirigentes petistas é o que tem maior identificação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O grupo de Marta, hegemônico em São Paulo, tende a perder espaço para outras correntes. Em caso de derrota, seus rivais internos pensam em recorrer a Lula para a construção de uma candidatura "viável" em 2010. "Carvalho na presidência significa que Lula passa a ser o grande árbitro na escolha dos candidatos na próxima eleição, inclusive na sucessão estadual paulista", disse um petista antagonista do grupo martista.

Julio Bittencourt/Valor

Marta: candidata do PT abandona acenos para a classe média e retoma discurso ideológico no fim da campanha Mas mesmo com o desgaste em caso de derrota, o grupo martista ainda se impõe no Estado e na capital, onde tem 9 dos 11 vereadores petistas e 15 dos 22 deputados estaduais. "Marta sai maior, independente do resultado, pela aliança que fez com PSB, PCdoB e PDT e pela consistência programática de sua campanha. Está habilitada para disputas majoritárias em São Paulo e fora, na hipótese de uma derrota, na qual não acredito", disse o presidente estadual do PT, o prefeito de Araraquara Edinho Silva, eleito em uma aliança das alas martistas com correntes de esquerda.

No PSDB, o candidato derrotado no primeiro turno, Geraldo Alckmin, apressou-se em declarar apoio a Kassab e visitar os municípios onde o partido disputa o segundo turno, mas é criticado entre tucanos que o apoiaram no embate interno. Lembram que o ex-governador já foi candidato majoritário nas eleições de 2000, 2002, 2006 e agora. "Está na hora dele dar um tempo", afirmou, sob reserva, um de seus apoiadores.

A possível reeleição de Kassab o torna uma peça estratégica no esquema serrista, mas sua candidatura ao Estado é vista como inviável. Caso vença, Kassab terá como vice a pemedebista Alda Marcoantonio, ligada ao ex-governador Orestes Quércia. A prefeitura da capital fortaleceria excessivamente o ex-governador, que já obteve de Serra e do DEM o compromisso de apoio à sua candidatura ao Senado em 2010.

No DEM, o partido já definiu que Guilherme Afif Domingos será o representante em qualquer nível da eleição majoritária: Afif é simultaneamente candidato a governador, vice ou senador. É o mesmo que o partido já fez em 2006: escolheu Afif para disputar, de modo genérico um cargo majoritário. O integrante do DEM por pouco não foi o vice na chapa de Serra para o governo. Disputou o Senado porque o PSDB não fechou coligação com o PMDB.

Dentre os tucanos, há uma resistência a qualquer hipótese que não seja a candidatura própria, ainda que o PSDB não tenha nomes com densidade eleitoral. O vice-governador Alberto Goldman, que assumirá caso Serra se desincompatibilize para disputar a Presidência, é visto por tucanos como um político com o mesmo perfil do ex-governador Claudio Lembo: contentar-se-ia em assumir o governo por alguns meses, para encerrar sua carreira política. Mas em eleições passadas Goldman sempre se colocou como pretendente ao cargo. Aloysio Nunes é o tucano com mais trânsito em partidos que poderão ser aliados, como o DEM e o PMDB. Enquanto Aníbal e Feldman são os tucanos com mais trânsito dentro da própria sigla. Mas Aníbal não pertence ao grupo do PSDB mais próximo ao governador.