Título: Lula apóia PT em Porto Alegre a 72h do final
Autor: Bueno, Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 24/10/2008, Política, p. A10

Depois de permanecer ausente durante toda a campanha de Porto Alegre, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem, a três dias do segundo turno, o primeiro depoimento explícito de apoio à candidata do PT à prefeitura, Maria do Rosário, no horário eleitoral gratuito. A manifestação presidencial, porém, pode ter chegado tarde demais para reverter a desvantagem da petista nas pesquisas de intenção de voto em relação ao prefeito José Fogaça (PMDB), que busca a reeleição. Adriana Franciosi/Ag. RBS/Folha Imagem

Fogaça: pemedebista sustentou um crescimento superior a dez pontos sobre os 39,9% do primeiro turno

Lula ficou de fora da campanha para evitar problemas com partidos da base aliada no Congresso, especialmente o PMDB, mas acabou cedendo aos apelos de dirigentes petistas ante a difícil situação de Rosário, que durante todo o tempo tratou de enfatizar a afinidade que tem com o presidente da República.

Ontem, finalmente, Lula declarou de viva voz que a candidata petista, como deputada federal, "votou com o governo para que a gente pudesse atingir esse momento excepcional que o Brasil está vivendo, que o Rio Grande do Sul está vivendo". "Quem esteve comigo em todo esse período, inclusive nos momentos mais difíceis, foi uma mulher, Maria do Rosário. Eu peço a você que no dia 26 vote Maria do Rosário", afirmou.

Fernando Gomes/Agência RBS/Folha Imagem

Maria do Rosário: em grande desvantagem nas pesquisas, petista não conseguiu envolvimento de Manuela na campanha O problema é que, depois de abocanhar parte dos votos que haviam sido de Manuela D ? Ávila (PCdoB) e Luciana Genro (P-SOL) no primeiro turno e ensaiar um crescimento de até 19 pontos percentuais nas primeiras pesquisas do segundo turno em comparação com os 20,7% dos votos totais no dia 5, Rosário recuou nos levantamentos seguintes e complicou os planos do partido de retomar a prefeitura que administrou por 16 anos até 2004. Ao mesmo tempo, Fogaça sustentou um crescimento superior a dez pontos sobre os 39,9% do primeiro turno.

Desde o início da corrida ao segundo turno, Rosário caiu de 40% para 38% das intenções totais de voto (Ibope), de 39,7% para 37% (Methodus) e estacionou em 37% (Datafolha). Fogaça subiu de 51% para 54%, de 52,5% para 54,5% e de 50% para 51%, respectivamente. "Maria do Rosário bateu no teto", entende o professor de pós-graduação em ciência política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), André Marenco.

O cientista também tem dúvidas que a vinculação com Lula tenha potencial significativo de alavancagem de votos. De acordo com ele, pesquisas indicam que os níveis de popularidade do presidente na cidade são apenas um pouco superiores à metade da média do país e, portanto, o efeito do apoio pode ser pequeno.

Marenco lembrou ainda que Fogaça conseguiu formar uma coalizão forte no primeiro turno, com o PDT e o PTB e, no segundo obteve o apoio do DEM, do PP e do PSDB, além do PPS, que concorreu coligado com o PCdoB, da candidata Manuela D ? Ávila, terceira colocada no dia 5. O PT, que no primeiro turno estava junto com os pequenos PRB, PTC e PSL, atraiu apenas os comunistas como apoio de peso no segundo, mesmo assim sem o envolvimento pessoal da própria Manuela.

Outro fator que beneficia o prefeito, entende o professor da UFRGS, é que ele conseguiu "esterilizar" as críticas feitas por Rosário no segundo turno. "Ele se antecipou, comparou a própria administração com os 16 anos do PT e conseguiu consolidar a idéia de que, mesmo não tendo sido uma maravilha, saiu-se melhor do que os petistas", diz Marenco.