Título: EUA pressionam Bolívia e retiram tarifa preferencial
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Fonte: Valor Econômico, 24/10/2008, Internacional, p. A15

O governo dos EUA anunciou ontem a suspensão de um acordo de preferência tarifária com a Bolívia, sob a alegação de que o governo Evo Morales não tem se esforçado na luta contra as drogas.

A decisão, anunciada pela secretária de Estado Condoleezza Rice, foi tomada em um momento de atrito entre os dois países e menos de um mês depois de Morales ter expulsado da Bolívia o embaixador americano.

O fim do acordo poderá causar o corte de 20 mil a 30 mil empregos na Bolívia, segundo estimativas do próprio governo boliviano.

Morales reagiu à suspensão dizendo que os EUA estavam adotando um bloqueio econômico contra o seu país, a exemplo do que vigora contra Cuba. Ontem, o embaixador russo em La Paz, Leonid Golulev, ofereceu ajuda a Morales no combate às drogas.

Pelo acordo tarifário (Atpda, na sigla em inglês), em vigor há 17 anos, os EUA oferecem tarifas reduzidas para produtos importados de Colômbia, Equador, Peru e Bolívia em troca de cooperação desses países no combate ao narcotráfico. A região andina é a maior produtora de coca (base da cocaína) do mundo. O Atpda foi adotado como um modo de estimular a criação de empregos em outros setores que não o da coca.

Sem o benefício das tarifas preferências, o controle sobre o plantio de coca na Bolívia tende a perder força. O Brasil é o principal destino da droga boliviano e, em tese, poderá assistir a um aumento fluxo de coca vinda do país.

Com a suspensão do Atpda, produtos bolivianos como pedras preciosas, têxteis e madeira terão tarifas mais altas para entrar no mercado americano. Os EUA são o terceiro maior importador de itens da Bolívia, atrás de Brasil e Argentina. No ano passado, as importações americanas totalizaram US$ 362 milhões.

Em setembro, o presidente George Bush, propôs suspender a Bolívia do Atpda dizendo que o país andino "não conseguiu demonstrar durante os 12 meses anteriores" que honrou obrigações de combate às drogas. Bradley Hittle, um dos diretores do escritório americano de política de controle de droga, disse que, das 12 recomendações feitas pelos EUA à Bolívia, só uma foi adotada.

As relações diplomáticas entre os dois países esfriaram nos últimos meses. Em setembro, Morales expulsou o embaixador americano no país, Philip Goldberg, acusando-o de apoiar a setores da oposição. Goldberg nega. Washington retaliou, expulsando o embaixador boliviano.

O governo Morales também irritou o governo Bush ao proibir que equipes da Drug Enforcement Administration (DEA, o órgão do governo americano de repressão às drogas) continuassem a fazer sobrevôos e a trabalhar com a polícia local na região cocalera do Chapare. A decisão levou Washington a incluir a Bolívia na lista negra de países em matéria de combate às drogas.

Uma delegação do governo boliviano estava nos EUA tentando convencer o governo a não suspender as preferências tarifárias. O coordenador do órgão boliviano de combate às drogas, Felipe Caceres, reiterou que as políticas do governo Morales têm sido bem sucedidas nas ações contra a produção de droga e na destruição de cultivos ilícitos de coca.

Ex-líder cocalero, Morales adotou uma política de autocontrole dos plantios de coca, pela qual os próprios agricultores supostamente passaram a limitar as áreas plantadas com a tradicional folha de coca, de forma que a safra seja suficiente apenas para atender ao uso tradicional da folha de coca no país. A política desde o início foi vista com ceticismo pelos EUA.

A medida deve acirrar ainda mais a oposição das regiões mais ricas do país ao governo Morales.

(Com agências internacionais