Título: Direção da Michelin mantém plano de expansão no Brasil
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 24/10/2008, Empresas, p. B9

A crise financeira internacional terá "zero de conseqüência" para os planos da Michelin, gigante francesa do setor de pneus, no Brasil, segundo disse ao Valor Didier Miraton, um dos membros do triunvirato que dirige o grupo. Segundo o executivo, a empresa vai inaugurar entre 2010 e 2014 a expansão da sua linha de pneus para automóveis no país e, embora ainda não esteja definido, a tendência é de que essa expansão ocorra na própria fábrica já existente, em Itatiaia (RJ), na divisa com São Paulo. Mas não está descartada uma nova unidade.

"Nós temos uma fábrica em Resende (centro econômico da região onde fica Itatiaia) que talvez seja expandida", disse Miraton após fazer a abertura do Dia da Inovação, evento que reuniu mais de 100 jornalistas internacionais no centro tecnológico do grupo, em Clermont-Ferrand, sul da França, onde fica também a sede mundial da Michelin. Miraton é especialista em tecnologia e divide o comando do grupo com Michel Rollier, que comandou a empresa sozinho até maio de 2007, e com Jean-Dominique Senard.

Miraton foi explícito em dizer, mesmo reconhecendo a gravidade da crise, que "as variações econômicas de curto prazo não mudam o pensamento de longo prazo da Michelin". Lembrado que no fim de agosto a empresa anunciou o cancelamento do projeto de construir uma nova fábrica de pneus de passeio no Estado de Guanajuato, no México, o executivo explicou que a decisão foi uma questão de estratégia.

Como o mercado americano vem dando cada vez mais preferência a carros menores, a Michelin decidiu reavaliar o projeto para não correr o risco de ficar desalinhada com a tendência do maior consumidor da região. Mas Miraton afirmou que não há nenhuma mudança nos projetos para a China; para a Índia, onde a empresa vai construir sua primeira fábrica de pneus para caminhões e máquinas pesadas; e também para o Brasil.

Senard, responsável pelas finanças no trio que comanda a Michelin, disse que a decisão da empresa em relação aos três grandes países emergentes está assentada em um acompanhamento do que já vem sendo feito há muito tempo dos rumos da crise internacional. "Já víamos, desde março, que a Europa e os Estados Unidos estavam desacelerando", explicou o executivo, acrescentando que as observações mostraram que China, Índia e Brasil vão seguir crescendo, ainda que em velocidade menor do que a verificada até hoje.

No Brasil, onde o planejamento de longo prazo já conhecido da Michelin define investimentos de US$ 1 bilhão no período 2005/2011, as novas decisões da empresa prevêem, além de expandir a produção de pneus de passeio, a possibilidade de aumentar a produção da recém-inaugurada fábrica de pneus para veículos de mineração, construção e agrícolas. A unidade começou a funcionar em fevereiro. "Estamos trabalhando nisso. Já estamos construindo um novo prédio", disse o executivo Luc Minguet, diretor mundial da divisão de pneus industriais e agrícolas do grupo francês.

Entre os investimentos que já estavam decididos aparece a ampliação de 1,5 milhão para 2,3 milhões de unidades por ano da fábrica de pneus de caminhões e ônibus, a maior das três que a empresa possui no Brasil.

Sobre o aumento da produção de pneus de passeio, segmento no qual a participação do grupo francês ainda é pequena (estimado em cerca de 10% da reposição, incluindo os importados), o diretor mundial da área, Florent Menegaux, disse que a Michelin está em contato com as montadoras que têm projetos de instalação ou de aumento da produção no Brasil para que a ampliação da fábrica ocorra paralelamente com esses projetos.

Mas o executivo não quis ser mais preciso em relação ao prazo de 2010 a 2014 para inauguração da nova linha, embora a tendência seja de que ela chegue, aproximadamente, na metade do período. Atualmente, a Michelin trabalha o mercado brasileiro de automóveis mais na reposição do que no fornecimento direto às montadoras. Embora o fornecimento para o carro que sai da fábrica agregue prestígio, no caso de ser um modelo de sucesso, é sabido que a margem de lucro no mercado de reposição é muito mais atraente.

Sobre a localização de uma nova fábrica, mesmo que a solução mais provável seja ampliar Itatiaia, de onde saem hoje mais de 1,5 milhão de pneus por ano, inclusive para veículos de alta performance, Resende e o Estado do Rio de Janeiro ainda não podem comemorar o investimento. Segundo o Valor apurou, um dos aspectos críticos da região que está sendo avaliado é a disponibilidade de mão-de-obra.

A área tornou-se um pólo industrial importante do eixo Rio-São Paulo e, como há projetos de expansão de outras indústrias ali instaladas, como a Volkswagen Caminhões, a Votorantim (aço) e a francesa Peugeot-Citroën, os executivos da Michelin querem ter certeza de que haverá pessoal qualificado em quantidade suficiente para atender a demanda de todos os projetos.

O repórter viajou a convite da Michelin