Título: Reservas voltam ao conceito de caixa
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 24/10/2008, Finanças, p. C2

O Banco Central está intervindo pesado no câmbio, mas as reservas internacionais têm sido relativamente preservadas. Anteontem, por exemplo, as reservas fecharam em US$ 205,305 bilhões, valor não muito diferente do observado em 14 setembro, pouco antes do agravamento da crise, quando estavam em US$ 205,761 bilhões.

Os números, porém, não mostram todas as operações feitas pelo BC com recursos das reservas. Por isso, a autoridade monetária está voltando a divulgar as reservas pelo conceito de caixa, que foi abandonado em 2002.

O único conceito de reserva usado nos últimos anos era o de liquidez internacional. A principal diferença em relação ao conceito de caixa é que, no volume de reservas pelo conceito de liquidez internacional, estão incluídas como ativos as vendas de dólares com compromisso de revenda e também os empréstimos em dólares.

Não há dados dessa semana sobre as reservas pelo conceito de caixa. A informação mais nova é de 17 de outubro, quando estavam em US$ 202,441 bilhões, enquanto as reservas pelo conceito de liquidez se encontravam em US$ 205,141 bilhões.

A diferença entre os conceitos de caixa e de liquidez aumentou um pouco desde então. Até o dia 20 de outubro, o BC vendeu US$ 3,7 bilhões em seu leilão de linha, além de emprestar mais US$ 1,6 bilhão, com liquidação nas reservas do dia 22. A diferença entre o conceito de caixa e liquidez, portanto, aumentou para US$ 5,3 bilhões. Com isso, as reservas pelo conceito de caixa são estimadas em cerca de US$ 200 bilhões em 22 de outubro.

Na última terça-feira, em depoimento na Câmara, o presidente do BC, Henrique Meirelles, abriu, pela primeira vez, detalhes sobre onde estão aplicadas as reservas, respondendo a pergunta do líder do PSDB na casa, José Aníbal. Ele forneceu algumas das posições de investimentos em 6 de outubro, quando as reservas estavam em US$ 208,386 bilhões, pelo conceito de liquidez.

Segundo Meirelles, as reservas estão aplicadas principalmente em dólar, espelhando a composição da dívida externa, que é majoritariamente em moeda americana. Meirelles disse que o total de ativos em dólar somava US$ 187 bilhões; os ativos em euro, US$ 16 bilhões; e as aplicações em ouro, US$ 894 milhões.

Entre as aplicações em dólares, a principal são os investimentos em títulos americanos, com US$ 152,877 bilhões. Os investimentos em dólares em organismos supranacionais, como o BIS, somam US$ 24,7 bilhões. Nesse grupo, o destaque é o próprio BIS, com US$ 19,5 bilhões.

Outro tipo de investimento são as aplicações nas agências paranacionais, com US$ 9,3 bilhões. A maior aplicação é na KFW, o banco para crédito e reconstrução da Alemanha, com US$ 3,459 bilhões. O americano Federal Home Loan recebe aplicações de US$ 2,2 bilhões.

Nas aplicações em euros, que somam US$ 16 bilhões, a maior parte está investida em títulos de governos europeus, que absorvem US$ 13,604 bilhões.

O BC também faz aplicações overnight com as aplicações das reservas, que permitem o saque rápido de recursos. As aplicações dessa modalidade somam US$ 1,240 bilhão em dólares e US$ 107 milhões em euros.

Cerca de US$ 1,9 bilhão das reservas são administrados por gestores privados, incluindo o BIS, o Barclays, o STLB, o Credit Agricole e o JP Morgan.