Título: McCain entra cambaleando na semana final nos EUA
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 27/10/2008, Internacional, p. A17

O senador John McCain chegou cambaleando à última semana da corrida presidencial americana. O candidato do Partido Republicano está perdendo votos para o democrata Barack Obama até mesmo em regiões que recentemente pareciam sólidas fortalezas conservadoras e suas chances de recuperação parecem a cada dia mais remotas.

Diversas pesquisas divulgadas na semana passada sugerem que Obama ampliou muito sua vantagem sobre McCain em Estados como Ohio, Colorado e Virgínia, que apoiaram os republicanos nas últimas duas eleições presidenciais e que poderão ter peso decisivo na formação do colégio eleitoral que indicará o próximo presidente dos Estados Unidos após a votação popular.

Projeções da CNN indicam que Obama teria 277 votos no colégio eleitoral se a eleição fosse hoje, somados os delegados dos Estados em que sua vantagem sobre McCain parece ter se tornado insuperável e daqueles em que ele avançou mais rapidamente nos últimos dias. São necessários 270 votos no colégio eleitoral para chegar à Casa Branca. McCain teria 174 votos, segundo as estimativas da CNN.

Se estiverem corretas, essas projeções sugerem que Obama tem condições de vencer a eleição mesmo se perder para McCain em Estados importantes que os analistas ainda consideram indefinidos, como a Flórida. A situação de McCain é completamente diferente. Além de frear o avanço do rival sobre o território republicano, ele precisa crescer em vários Estados onde sua candidatura está patinando.

McCain, um político veterano que foi prisioneiro de guerra no Vietnã e tem 72 anos de idade, deixou claro no fim de semana que não está disposto a jogar a toalha antes da hora. "Esta tem sido uma disputa muito apertada e acredito que vou vencê-la", disse o candidato ontem, em entrevista à rede de televisão NBC.

A eleição será realizada na próxima terça-feira, mas em vários lugares a votação já começou. A maioria dos Estados permite que os eleitores votem antecipadamente se quiserem. Especialistas acreditam que um terço dos eleitores já terá votado quando as cabines eleitorais forem abertas na semana que vem.

Segundo o site Real Clear Politics, que acompanha os levantamentos produzidos por dezenas de institutos de pesquisa, Obama tinha ontem uma vantagem de quase 8 pontos percentuais sobre McCain, em média. Mas a divergência entre os institutos é grande. Pesquisas feitas na semana passada apontam diferenças de 3 a 13 pontos percentuais entre Obama e McCain.

Muitos analistas têm recomendado cuidado com as pesquisas, porque os institutos estão encontrando problemas para adaptar suas metodologias às transformações sofridas pelo eleitorado neste ano. Três milhões de novos eleitores foram registrados nos últimos meses. Metade declarou filiação ao Partido Democrata ao se registrar.

Mas as tendências identificadas pelos institutos nas últimas semanas favorecem claramente a candidatura de Obama. O pânico nos mercados financeiros e a deterioração da economia americana aumentaram muito a insatisfação dos eleitores com os republicanos e com o presidente George Bush, que apóia McCain.

As pesquisas também mostram que a desconfiança despertada pela inexperiência de Obama em muitos eleitores meses atrás diminuiu bastante. Os republicanos têm se esforçado para convencer as pessoas a pensar duas vezes antes de votar em Obama, mas a maioria acredita que ele é mais preparado que McCain para lidar com a economia, a preocupação número um do eleitorado americano hoje.

A campanha republicana tem exibido diversos sinais de desarranjo interno. Assessores de McCain e figurões do seu partido começaram a recriminar uns aos outros pelo mau desempenho do candidato. Analistas conservadores criticam diariamente a estratégia de McCain, e sua companheira de chapa, a governadora Sarah Palin, tornou-se alvo constante de piadas na televisão.