Título: Urnas deixam PT sem plano B
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 27/10/2008, Política, p. A9

As eleições municipais deixaram mais dúvidas do que certezas no PT em relação à primeira eleição presidencial que o partido disputará sem ter Luiz Inácio Lula da Silva na cabeça de chapa. Os petistas também não têm um "plano B" à hipótese de Lula não conseguir transferir votos em quantidade suficiente para eleger "um poste" - o que era mais que uma certeza, uma crença quase religiosa, antes do primeiro turno, no dia 5 de outubro. Magdalena Gutierrez / Valor Dilma ao votar ontem: ministra ganhou popularidade mas teve a força de seu maior cabo eleitoral posta em xeque

Surpreendeu também ao PT o crescimento de seu principal aliado e fiador da governabilidade, o PMDB, que se manteve como um partido dos grotões, mas também avançou nos sítios urbanos. Para dirigentes petistas, antes de ser uma solução, o crescimento do parceiro pemedebista é um problema, e dos grandes. Na avaliação dos petistas, o PMDB ganhou, saiu fortalecido como um dos pilares da coalizão governista e pode, de fato, mudar o cenário para 2010.

Apesar do crescimento pemedebista, a aposta no PT é que o partido chegará a 2010 rachado, como ocorreu em outras eleições, talvez até mesmo mais próximo à candidatura do tucano José Serra do que do candidato do PT. Os petistas acreditam que Serra já fechou o PSDB e que o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, está fora do jogo tucano para as eleições de 2010.

Dos pemedebistas mais próximos do PT, Roberto Requião (PR) ficou menor. Já o PMDB que venceu no Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Espírito Santo e até da Bahia é visto como serrista entre os petistas: só ficará com Lula se ele tiver um candidato vencedor.

O primeiro teste do futuro da relação PT-PMDB serão as eleições para as presidências da Câmara dos Deputados e do Senado. O acordo entre as duas siglas foi sacramentado no ano passado, quando o deputado Michel Temer, presidente pemedebista, abriu mão da presidência da Câmara em favor de Arlindo Chinaglia (PT-SP) em troca de ministérios para os pemedebistas. Agora, em 2009, os petistas deveriam devolver o cargo à bancada majoritária do PT, mas passaram a condicionar o cumprimento do acordo à eleição de um petista para comandar o Senado.

O PT ainda espera que os pemedebistas do Senado se acomodem em troca de compensações e levem a relação com o governo no estilo morde e assopra até o fim. Os menos otimistas até acreditam que isso possa acontecer, mas não têm dúvidas de que a fatura a ser cobrada será alta.

Internamente, o PT passou por duas decepções: o poder de transferência de votos de Lula foi posto em xeque e o próprio partido cresceu em número de prefeituras, mas não conseguiu criar nenhuma nova alternativa eleitoral para o embate presidencial. A derrota de Marta Suplicy, em São Paulo, foi acachapante. Restava a torcida por Jaques Wagner, governador da Bahia, mas seu candidato a prefeito de Salvador também foi atropelado pelo pemedebista João Henrique.

Setores do PT, inclusive do atual campo majoritário, argumentam que são imediatistas as avaliações segundo as quais é pequeno o poder de Lula transferir votos em relação a seus índices de popularidade. De acordo com esse raciocínio, a transferência de votos é um fenômeno menor em uma eleição municipal, mas um pouco maior na disputa presidencial. Pode ser, mas o argumento esbarra, por exemplo, na eleição de Celso Pitta (1997-2001) para prefeito de São Paulo, praticamente por "nomeação" de Paulo Maluf.

Em relação à Dilma Rousseff (Casa Civil), o nome que Lula trabalha para a sucessão, a avaliação petista é a de que a ministra não ganhou nem perdeu. No mínimo ficou como estava ou um pouco melhor, porque se tornou mais conhecida, em uma análise mais otimista. Entre os mais pessimistas, Dilma perdeu no momento em que se tornou duvidosa a capacidade de Lula de transferir votos.

Dilma, contudo, já é o nome mais bem avaliado do PT nas pesquisas de opinião. Diante do desastre de Marta Suplicy em São Paulo, então, a ministra ficou praticamente sozinha na raia. Nem mesmo a eventual absolvição de Antonio Palocci pelo Supremo Tribunal Federal (STF), como supõem setores do partido e do governo, daria ao PT um nome melhor que o de Dilma. Palocci ainda teria de passar por um longo processo de recuperação: ministério e, na seqüencia, talvez, a disputa pelo governo de São Paulo.

O ministro Fernando Haddad (Educação) provoca suspiros em parte do PT, que aposta em seu desempenho no ministério e no ar de galã mexicano para 2010. Existe a previsão de que Haddad comece a desovar projetos, como a criação de 100 escolas técnicas, para cacifar sua candidatura. Mais a sério é discutida a candidatura do ministro Patrus Ananias: comanda o maior programa social do governo - o Bolsa Família - e, de imediato, fecharia o apoio dos dois lados da Igreja Católica.