Título: Quantidade de empréstimos para aposentados do INSS recua 90%
Autor: Travaglini, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 28/10/2008, Finanças, p. C2

A quantidade de contratos mensais de empréstimos consignados para aposentados e pensionistas do INSS apresentou redução de 90% em setembro, em relação ao mesmo mês do ano passado. Foram fechadas 77,3 mil operações, segundo dados do Ministério da Previdência Social. Em comparação com agosto, a queda foi de 50%.

A desaceleração segue tendência iniciada em janeiro, com as mudanças nas regras de endividamento, que reduziram a margem de comprometimento do benefício mensal de 30% para 20% e também impediram o saque com o cartão de crédito. Mas os dados mostram que a parada também já é reflexo da crise mundial, com redução da oferta pelos bancos.

"A coisa é grave. Esse aposentado que não consegue mais pegar empréstimo consignado está sendo empurrado para operações mais caras e mais curtas e até mesmo para a desintermediação financeira", alertou Renato Oliva, presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC).

A solução, segundo ele, seria retomar o patamar de 30% para o limite de endividamento, com a possibilidade de o aposentado escolher se quer comprometer 10% com o cartão de crédito. "Num momento em que o país esta falando da retomada de empréstimo, não precisa dificultar mais ainda. Retornar os 30% já melhoraria muito. É preciso que o cliente tenha a liberdade de escolher se quer usar o cartão."

Com a redução das concessões mensais, o saldo se mantém praticamente estável. Até o mês passado, estavam registradas 14,9 milhões de operações ativas, com saldo de R$ 23,5 bilhões, segundo estatísticas do INSS.

Os dados de crédito do Banco Central para todas as modalidades de consignado também apontam desaceleração. O saldo das operações com funcionários público (que incluem o INSS) avançou 0,9% em setembro, contra um crescimento médio mensal de 2,4% no ano passado.

Além da dificuldade operacional por conta das mudanças regulatórias, os bancos estão com o apetite bastante reduzido desde o agravamento da crise mundial. Isso acontece devido às margens mais apertadas, com o aumento do custo de captação, pressionando operações como o consignado, que tem teto de juros estipulados por muitos órgão púbicos. No INSS, o juro máximo que pode ser cobrado é de 2,5% ao mês, para o empréstimo, e 3,5% ao mês, para o cartão consignado.

Há um terceiro ponto que tem dificultado o segmento de empréstimos em consignação. A crise de liquidez que atingiu os bancos brasileiros por conta da crise externa acertou em cheio as instituições de médio porte, justamente os atores mais agressivos nesse nicho.

O diretor-executivo do BMG, Ricardo Gelbaum, em entrevista ao Valor na semana passada, afirmou que o BMG, assim como todo o mercado, reduziu seus empréstimos. O banco, um dos maiores do empréstimo com desconto em folha do país, tem produzido o que pode ser vendido a outros bancos. "Quem tem recursos, está segurando."

Recentemente o Banco Central liberou recursos do compulsório para os bancos maiores adquirirem carteiras de crédito de instituições menores. O Itaú comprou cinco novas carteiras somente na semana passada e avalia a possibilidade adquirir outras. Já o Unibanco comprou duas e negocia a compra de mais duas. Tanto o Itaú quanto o Unibanco estão focados nas carteiras de consignado, as de menor risco.

O diretor do BMG avalia que o conjunto de medidas que o governo está tomando vai provocar uma gradual oxigenação do mercado de crédito e as operações vão voltar a fluir, disse Gelbaum.

Oliva ressalta ainda que o grande problema é que a concessão de crédito depende de uma estrutura complexa e de um desenvolvimento que demanda tempo e conhecimento do mercado. Essa dinâmica, que vinha sendo aperfeiçoada nos últimos anos está "cada dia mais interrompida, por conta de uma crise de confiança". O desafio agora, disse ele, é "trabalhar a confiança de todo o sistema para que seja retomada essa dinâmica do crédito". (Colaborou Altamiro Silva Junior, de São Paulo)