Título: Para Mantega, crédito já está se recompondo
Autor: Maia, Samantha
Fonte: Valor Econômico, 28/10/2008, Finanças, p. C1

As medidas que o governo tem tomado contra a crise financeira mundial, como a liberação dos compulsórios pelo Banco Central (BC), já estão recompondo o crédito no Brasil, segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Andre Penner / AP Photo Guido Mantega: "Temos agora a certeza da desaceleração das economias"

O ministro, que se reuniu ontem com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente do BC, Henrique Meirelles, em São Paulo, avalia que a queda do crédito no país foi momentânea.

Ao falar sobre as operações de derivativos, que provocaram prejuízos cambiais para várias empresas, Mantega disse que o valor estimado pelo mercado para o conjunto destas perdas - US$ 20 bilhões - pode ser absorvido pela economia brasileira.

A maior preocupação do governo hoje, segundo Mantega, é a de irrigar com créditos os setores agrícola, da construção civil e automobilístico, além de garantir recursos para capital de giro em geral e de pequenas e médias empresas. "Houve de fato uma redução drástica, momentânea, do crédito, mas já há uma recomposição, com os bancos operando com 70%, 80% dos créditos que possuíam antes."

Segundo Mantega, houve espaço para o crédito cair no Brasil porque o ritmo com que ele vinha crescendo era muito forte, e por isso havia "uma gordura".

Mantega argumentou que o governo, junto com os bancos, em especial o Banco do Brasil (BB) e a Caixa Econômica Federal, estão trabalhando para que o crédito gerado possa chegar aos consumidores e investidores. Sobre a dificuldade das medidas darem resultados imediatos, o ministro diz que decorre do ineditismo dessas iniciativas. "Algumas medidas demoram um pouco porque é a primeira vez que nós a estamos tomando."

O ministro foi enfático ao dizer, porém, que o governo não deve ajudar as empresas que tiveram prejuízo por conta de derivativos cambiais.

Segundo ele, há diferença entre dar crédito e liquidez, que ele coloca como uma obrigação do governo, e oferecer subsídio a empresas com prejuízo. "Não vamos absorver o prejuízo de nenhuma empresa. E o governo não está fazendo nenhum favor em estimular o crédito", diz.

O esforço se torna mais necessário diante da constatação de que a recessão no mercado internacional é certa, provocada principalmente pela queda do poder aquisitivo da população americana e européia com a redução do valor dos imóveis. "Não há uma melhoria substantiva do quadro, embora os governos tenham tomado várias medidas. Elas ainda não se traduziram em irrigação de crédito para o setor produtivo, continua a haver retenção de crédito", diz Mantega. Ele afirma que ainda há desconfiança no mercado financeiro internacional sobre instituições que teriam ativos podres nos Estados Unidos.

Mesmo assim, o governo sustenta que a crise não deve afetar fortemente a economia brasileira, e que o contágio no país é mais "psicológico" do que relacionado às operações. "Temos agora a certeza da desaceleração das economias. O impacto aqui no Brasil continua o mesmo", diz Mantega. O ministro defendeu que os brasileiros levem uma vida normal, para que a crise não seja inflada pelo nervosismo. "Devemos procurar ter uma vida normal. Se todo mundo ficar preocupado e com medo, aí que você vai criar um problema econômico. Você vai deixar de consumir e deixar de comprar um carro ou uma casa e de fato vai reduzir o nível de atividade", diz o ministro que contou ter acabado de comprar uma casa, prova de que não se sente inseguro. O parcelamento, porém, é curto, de oito a dez meses.