Título: Outra entressafra de álcool em alta
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 28/10/2008, Agronegócios, p. B11

A entressafra 2008/09 será novamente de oferta apertada, segundo o último levantamento da Job Economia e Planejamento.. "O consumo de álcool combustível está fortemente aquecido. Mas não vejo risco de desabastecimento", diz Júlio Maria Martins Borges, presidente da consultoria.

No Brasil, o consumo mensal médio saltou de 1,6 bilhão em 2007 para 1,9 bilhão de litros este ano, um aumento de 18,75%, de acordo com a Job. No Centro-Sul, registrou crescimento de 18,5%, de 1,35 bilhão para 1,6 bilhão de litros no mesmo período.

Por conta da menor oferta durante a entressafra e demanda aquecida, os preços do álcool combustível deverão subir entre janeiro e abril do próximo ano. "Os preços do hidratado sairão de R$ 0,74 [com PIS/Cofins, mas sem ICMS] para algo entre R$ 0,90 a R$ 1 o litro, um aumento médio acima de 20%", projeta Martins Borges. Mesmo se essa a forte elevação de preços for confirmada, não chegará aos patamares observados na safra 2006/07, quando as cotações ultrapassaram R$ 1,30.

Segundo Martins Borges, a produção nacional de álcool tem sido maior nos últimos anos, mas as vendas de carros flexfuel no mercado interno e as exportações estão enxugando mais rápido a oferta. "A crise poder provocar um impacto negativo nas vendas de carros flex, mas não deverá reduzir o consumo de álcool combustível", afirma.

Estimativa da Job mostra que a produção de cana no Brasil deverá ficar em 555 milhões de toneladas em 2008/09, um aumento de 12,5% sobre 2007/08. Com isso, a moagem será acima da média e compensará parte do atraso verificado no início da safra. O clima também beneficiará a safra de cana do Nordeste, que deverá crescer 10%. A oferta de álcool será de 27,3 bilhões de litros, 22,3% sobre o ciclo anterior. E a produção de açúcar será de 30,2 milhões de toneladas, queda de 2% sobre o ciclo passado.

Contrariando as estimativas do setor e de boa parte dos analistas de mercado, Martins Borges acredita que não deverá ficar muita cana em pé nesta safra. "O clima entre novembro e dezembro deverá ser seco e quente, o que favorecerá a colheita", afirma o consultor. A Job se baseia nas previsões da Weather Trends International. A Datagro, por exemplo, estima que cerca de 40 milhões de toneladas de cana deixarão de ser colhidas nessa safra.

As exportações de álcool deverão se manter em 4,9 bilhões de litros, segundo a Job. Se confirmadas as estimativas, será um crescimento de 35% sobre o ciclo anterior. EUA são os principais importadores do álcool brasileiro. Para 2009, os embarques não deverão ter a mesma força, no máximo, se manterá, ou crescerá pouco. Com a suspensão do drawback [importação com objetivo de reindustrializar o produto] nos EUA, as importações de álcool para os americanos deverão ser em maior volume via Caribe.MS