Título: Fundo do FGTS aplica RS$ 450 milhões em terminal da Coimex
Autor: Rodrigues, José
Fonte: Valor Econômico, 28/10/2008, Empresas, p. B7

O projeto do terminal da Embraport, na margem esquerda do porto de Santos, para movimentação de contêineres e etanol, já tem como sócio o fundo de investimento do FGTS, gerido pela Caixa Econômica Federal e criado para investir em infra-estrutura. O fundo vai destinar R$ 450 milhões para tornar-se sócio da empresa controlada pelo grupo Coimex. Fruto de uma longa negociação, a nova sociedade foi formada com a garantia de pôr o terminal multiuso em funcionamento em 2011. Ricardo Benichio/valor Machado Junior, da Coimex, acredita que apesar da crise investimentos em infra-estrutura precisam ser mantidos

Ao fazer o anúncio da parceria, na presença do ministro dos portos, Pedro Brito, o diretor da empresa, Orlando Machado Júnior, disse que a crise econômica "vai chegar ao Brasil, mas o país tem potencial de crescimento e os investimentos de infra-estrutura precisam ser mantidos e expandidos".

Depois de quase uma década de obstáculos na área ambiental, o projeto da Embraport deu partida em meados de 2007, a previsão era de um investimento de US$ 500 milhões para obras de instalação, dos quais 30% seriam de recursos próprios e 70% financiados pelo BNDES. Criado em 2007, o fundo de investimento do FGTS visa garantir recursos para obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Segundo Machado Júnior, a associação do fundo ao projeto é a segunda aprovada pela CEF. A primeira foi para um projeto do setor ferroviário.

A capacidade anual do projeto, que ocupa área de um milhão de metros quadrados, é de movimentar 1,2 milhão de contêineres e 2 milhões de metros cúbicos de etanol, podendo chegar a 4 milhões de m3 em anos sucessivos. A recepção do produto será pelos modais rodoviário, ferroviário e dutoviário. Segundo Machado Júnior, o dutoviário ainda depende de futuras negociações. Para os contêineres haverá a destinação de carga geral e de açúcar, produto com que trabalha o grupo Coimex.

Pedro Brito, que inaugurou a sede do Centro de Excelência Portuária (Cenep) junto ao porto de Santos, aproveitou o momento crítico das decisões de novos investimentos para informar que grupos ingleses e australianos, com modelagem financeira pelo JP Morgan, vão desenvolver projeto avaliado em US$ 6 bilhões na construção de uma unidade de pelotização de minério, acrescida de minerioduto, no Sul do Espírito Santo. O prazo de maturação do projeto é de cinco anos. Para o Estado da Bahia, Brito anunciou que o governo daquele estado projeta a construção de um novo porto para escoamento de minérios e grãos, sob as novas normas de concessão pública a serem publicadas nos próximos dias por ato do presidente da República. "São investimentos que não estão presos à crise atual", ponderou o ministro, que na última semana esteve em Londres e Berlim.

Sob uma análise de otimização logística, o ministro entende que portos operadores de carga geral devem buscar produtos de maior valor agregado, normalmente trabalhados em contêineres, setor em que "Santos está estrangulado", frisou. Deu como exemplo inovações no porto de Itaqui (MA), servido pela ferrovia Norte-Sul e pela hidrovia do rio Tocantins, que faz licitação para a construção de dois terminais graneleiros. Cargas que agora ainda são exportadas por Santos, vindas do Centro-Oeste, terão alternativa.

Destinado a preparar e reciclar mão-de-obra portuária, o Cenep tende a introduzir o porto de Santos em um novo ambiente tecnológico, segundo moldes europeus, numa associação entre prefeitura, universidades e Codesp. O primeiro curso, com 1.150 vagas, teve 1.500 trabalhadores inscritos.

Brito classificou como "grave" a crise pela qual passa o Órgão de Gestão da Mão-de-Obra (Ogmo) do porto de Santos e afiançou que colocará sua secretaria na função de intermediar soluções. O Ogmo, incumbido de administrar o trabalho portuário avulso, enfrenta cerca de seis mil processos trabalhistas, no valor de R$ 1,4 bilhão, e arrisca-se a ter inviabilizados os pagamentos do trabalho diário por decisões judiciais que priorizam resultados das ações.

O sinal de que o segmento da mão-de-obra avulsa passa por um de seus mais delicados momentos foi dado pelo presidente do sindicato dos estivadores, Rodnei da Silva, entidade tradicionalmente conflitante com o Ogmo. Em discurso dirigido ao ministro Pedro Brito, o líder classista disse que "os trabalhadores avulsos não querem a falência do Ogmo, pois se tal fato acontecer, vamos falir juntos". Há o temor de que se o Ogmo não funcionar, os operadores portuários contratem pessoal próprio, fora dos registros daquela entidade.