Título: Linha de R$ 3 bi para construção deve sair hoje
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Fonte: Valor Econômico, 29/10/2008, Brasil, p. A3

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, prometeu anunciar hoje a abertura de linha de crédito da Caixa Econômica Federal no valor de R$ 3 bilhões para financiamento de capital de giro no setor da construção. Revelou que os juros serão menores que os de mercado e a fonte não será o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).

Paulo Safady Simão, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), disse que os juros terão de ser de 9% mais Taxa Referencial (TR) porque linhas com esse custo estão indisponíveis desde o aprofundamento da crise financeira global, em 15 de setembro. O governo estuda um intervalo entre 9% e 11%. Ele acredita que R$ 3 bilhões são suficientes para 2009 e defendeu a medida como meio de usar os recebíveis das empresas e também viabilizar fusões e aquisições.

Segundo a avaliação de Simão, os recursos teriam de ser usados, preferencialmente, em projetos já iniciados, mas isso não significa a exigência de a obra ter sido começada. O presidente da CBIC disse que essa linha auxiliar de capital de giro para a construção vinha sendo negociada intensamente com a ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.

Reação muito diferente teve o presidente da CBIC quando criticou duramente a MP 443 que autoriza a Caixa Econômica Federal a comprar participação de empresas no setor da construção. Disse que isso é "desnecessário e perigoso" porque a Caixa, empresa controlada pelo governo federal, é a única gestora dos recursos do FGTS e concentraria ainda mais poder ao financiar empresa de construção dominada por ela. Isso, na opinião de Simão, é concorrência desleal e um sinal negativo para o investidor privado. "Queremos uma solução de mercado", avisou.

Na visão do presidente da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi), Rogério Chor, a medida que amplia a linha de crédito para capital de giro no setor é boa porque vai permitir algum crescimento no ano que vem, apesar da crise. Ele diz que os últimos dois anos e meio foram de "euforia" e as construtoras, na média, estão bem financeiramente.

Chor calcula que, nos últimos quatro anos, as vendas no setor da construção civil saltaram 60%. Sua empresa, CHL, vendeu R$ 130 milhões em 2004 e, neste ano, vai vender R$ 500 milhões.

Com a agregação de R$ 3 bilhões para o capital de giro das empresas, o presidente da Ademi disse que a previsão de estabilidade, feita depois do agravamento da crise financeira global, pode dar lugar a alguma variação positiva. Ele também criticou o governo pela publicação da MP 443. Disse que as empresas têm de atuar de acordo com as regras de mercado e que, depois de dois anos e meio de euforia nas vendas, não tem sentido procurar o governo para pedir ajuda. "Não precisamos disso", avisou. Outro aspecto que Chor disse ser importante é a postura da construtora. Afirmou que as que gozam de boa saúde financeira não vão querer diluir sua participação admitindo capital do governo. (AG)