Título: Para manter aliança, PT garante apoio à eleição de Temer
Autor: Ulhôa , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 29/10/2008, Política, p. A6

Na tentativa de preservar a aliança entre PT e PMDB na sucessão presidencial de 2010 e evitar um racha entre os maiores partidos da base de sustentação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP), e o líder da legenda na Câmara, Maurício Rands (PE), reiteraram ontem ao presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), apoio da bancada petista na Câmara à sua eleição para presidência daquela Casa. Ficou claro que o gesto independe da posição do PMDB no Senado.

O que motivou o gesto da cúpula petista foram declarações dadas por dirigentes tucanos - depois das eleições municipais que fortaleceram os pemedebistas -, defendendo aliança com o PMDB em 2010. O PT não quer jogar o PMDB nos braços da oposição, embora queira dividir com o aliado o comando do Congresso no próximo biênio, o último do governo Lula.

Mal terminaram as eleições municipais e a campanha para a eleição dos presidentes das duas Casas do Congresso, que será em fevereiro de 2009, já toma conta dos gabinetes da Câmara e do Senado. A disputa, que coloca PT e PMDB em lados opostos no Senado, está sendo tratada por governo e oposição como estratégica para definir as alianças partidárias na sucessão presidencial de 2010.

O PT postula a Presidência do Senado e reivindica o apoio do PMDB como reciprocidade aos votos que prometem a Temer. Mas o PMDB do Senado - que tem a maior bancada (21) e, portanto, a prerrogativa de indicar o ocupante do cargo - se recusa a ceder o direito aos petistas. Embora tenha apoio de Lula e compromisso escrito de dirigentes do PT com sua candidatura, Temer temia perder os votos dos deputados petistas e vinha intensificando articulação com o DEM e o PSDB.

A bancada do PT no Senado (12) marcou para ontem jantar para formalizar a candidatura de Tião Viana (PT-AC), primeiro vice-presidente da Casa. O objetivo da líder, Ideli Salvatti (SC), era a unidade da bancada. O senador Delcídio Amaral (PT-MS), que tinha intenção de disputar, estaria ausente mas enviou carta apoiando Tião.

No PMDB, por sua vez, o grupo de Renan Calheiros (AL) e Romero Jucá (RR) articula o adiamento para janeiro da posição a ser tomada pela bancada. Afirmam que o PMDB não abrirá mão da Presidência do Senado. Renan, pessoalmente, vem articulando o nome de José Sarney (PMDB-AP) com líderes da oposição.

O grupo fala, também, do ministro Hélio Costa (MG), senador licenciado, que deixaria o cargo para reassumir a cadeira para se candidatar à presidência do Senado. A movimentação em torno de Costa é vista pela oposição mais como balão de ensaio. Acredita-se que, se o grupo de fato pretender insistir em um nome, será o de Sarney. Pemedebistas avaliam que o grupo quer mesmo é negociar mais espaço no governo. Até o Ministério da Justiça estaria entre as Pastas pleiteadas, já que há insatisfação com a investigação da Polícia Federal sobre um filho de Sarney, o empresário Fernando Sarney.

Mas a bancada pemedebista está dividida. Os senadores Gerson Camata (ES), Jarbas Vasconcelos (PE) e Pedro Simon (RS) defendem que o PMDB apóie um petista para o lugar hoje ocupado por Garibaldi Alves (PMDB-RN). Ironicamente, o argumento desse grupo - a maioria independente em relação ao Palácio do Planalto - coincide com o do PT: a necessidade de haver equilíbrio de forças entre os dois aliados nos últimos anos do governo Lula.

"O PMDB apoiar Tião. O PT está fazendo a parte dele na Câmara. O PMDB cresceu nas eleições, mas usou o fato de ser governo para crescer", disse Camata. Ele é contra adiar a decisão para janeiro. Avalia que só aumentaria a "desconfiança" no PMDB. Segundo ele, o acordo envolvendo a eleição de Temer na Câmara, feito há dois anos, incluiu a troca do comando no Senado, embora isso não esteja escrito no documento assinado por Berzoini. "O PMDB tem que cumprir o compromisso e não colocar uma faca no pescoço do PT", afirma.

Se na Câmara PSDB e DEM apóiam Temer majoritariamente, no Senado ainda não há posição. A tendência é claramente favorável ao PMDB, já que o PT é o adversário de 2010 e atrair os pemedebistas interessa à oposição. Até mesmo Arthur Virgílio (PSDB-AM), líder do PSDB, que no passado vetava o nome de Sarney a qualquer tentativa do PMDB de lançar a candidatura do ex-presidente, mostra-se mais flexível. "Não tenho vetos. Vou olhar o interesse do nosso partido. Ver como o PSDB pode fazer um bom acordo", disse Virgílio.

Na bancada do PMDB, além da ala ligada a Renan e dos mais independentes, que apóiam uma candidatura do PT, há, ainda, senadores que defendem a candidatura própria, querem tornar-se independentes das articulações de Renan e Sarney, mas não têm um nome natural para apresentar. O cenário, portanto, é de divisões no PT, no PMDB e entre ambos. Deve prevalecer o interesse em 2010.