Título: Aécio retoma aproximação com PMDB
Autor: Jorge , Danilo
Fonte: Valor Econômico, 29/10/2008, Política, p. A7

Encerradas as eleições municipais, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), começa a trabalhar para atrair o PMDB, maior partido da base de sustentação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com vistas a sucessão de 2010. Um dos cotados a disputar o Palácio do Planalto daqui a dois anos, o governador mineiro conversou ontem com o deputado federal Michel Temer (SP), presidente nacional da legenda, e fez contatos iniciais com dirigentes pemedebistas do Estado, que, na acirrada disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte, enfrentaram Márcio Lacerda (PSB), candidato apoiado pelo tucano.

"O PMDB é um ator extremamente importante e estratégico. Foi uma conversa entre amigos, que vai ter desdobramentos", afirmou Aécio. "Agora é hora de reconstruirmos as relações, que naturalmente, durante uma campanha eleitoral, ficam distanciadas, mas não abaladas. Agora é hora de reunirmos as nossas forças". A aposta dele é de que a base governista deverá se dissipar no bojo da disputa de 2001. "O PT terá muitas dificuldades de aglutinar a mesma base que hoje está com o presidente Lula. Muitos atores da política se movimentam em torno de propostas, mas também de expectativas de poder", afirmou Aécio.

Para o governador, é nesse vácuo derivado das perspectivas de alternância no governo central que o PSDB deve agir, buscando diversificar o seu tradicional leque de alianças. "Mais forte que poder presente que caminha para o seu final, é a expectativa do poder e quanto mais o PSDB inspirar expectativa de poder e incorporar um projeto novo, temos condições de diálogo com o PMDB e vários outros atores, como o PSB, em razão da parceria que firmamos em Belo Horizonte, e o PDT", avaliou. "Temos que ampliar além da possibilidade do DEM. Reeditar a parceria com o PPS".

Mas para se habilitar como líder de uma nova e ampla coligação, o PSDB deve, segundo Aécio Neves, sair unido em 2010, definir um candidato capaz de agregar essas novas forças políticas que hoje gravitam em torno do presidente Lula e estabelecer um programa de governo que aponte para um Estado "enxuto" e "eficiente", calcado em reformas estruturais, como nas áreas política, tributária e previdenciária.

"O PSDB estará unido. Esta é a condição fundamental primeira para que possamos disputar as eleições de 2010. E esta unidade passa pelo diálogo, pelas conversas. Obviamente não passa por uma imposição de lado a lado", disse Aécio Neves, que para viabilizar o seu nome como candidato dos tucanos na sucessão de Lula deverá enfrentar o governador de São Paulo, José Serra, outro pretendente a liderar o partido na disputa presidencial.

Para se diferenciar do bem avaliado governo Lula e se firmar como alternativa de poder em 2010, o PSDB deve, de acordo com o governador, estabelecer um projeto de reformas, cujo eixo central seria o redesenho da administração pública, realçando "maior qualidade na gestão, necessidade de ter um Estado mais profissional, mais ágil, mais desburocratizado e não gigantesco como aquele que nós assistimos no plano federal".

O governador voltou a avaliar que o resultado da eleição municipal revela um grande equilíbrio entre as forças políticas do país. "Aqueles que estão dando por certo a definição do quadro terão surpresas ao longo desta caminhada", afirmou Aécio, que defendeu a realização de prévias entre os tucanos para a escolha do candidato à Presidência em 2010: "O PSDB já passou desse tempo da decisão concentrada nas mãos de uma, duas ou três figuras. Quanto mais ampla for a discussão, seja por prévia, mas que seja envolvendo todo o partido, melhor para o partido".

Com a vitória de Lacerda na acirrada disputa municipal, os tucanos retornam ao centro do poder político da capital mineira, terceiro maior colégio eleitoral do país, do qual tinham sido afastados desde 1993, quando o atual ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias (PT), inaugurou 16 anos de domínio petista.

Na equipe de transição de Lacerda, que terá entre suas tarefas atuar na composição do futuro secretariado municipal, o PSDB vai estar representado pelo deputado federal Rodrigo de Castro, secretário nacional da legenda. Também estará o presidente estadual do PPS, Juarez Amorim, que ocupava a diretoria de operação metropolitana da Copasa, controlada pelo governo estadual.

"É natural que (o PSDB) participe, como outros partidos vão participar (da futura administração)", comentou Aécio. Também fazem parte da equipe de transição Mário Assad (PSB), Jorge Nahas (PT) e Beatriz Góes, que foi a coordenadora-executiva do programa de governo apresentado por Lacerda na campanha.