Título: Syngenta produzirá mudas de cana no país
Autor: Cruz , Patrick
Fonte: Valor Econômico, 29/10/2008, Agronegócios, p. B14

A anglo-suíça Syngenta, uma das maiores empresas de defensivos agrícolas e sementes do mundo, vai estrear na produção de mudas para cana-de-açúcar no Brasil. No país, onde a empresa faturou US$ 1,1 bilhão em 2007, o segmento deverá responder, em 2015, por uma receita anual da ordem de US$ 300 milhões.

O projeto, iniciado há dois anos, consumirá investimento de US$ 100 milhões até 2010. O valor contempla uma unidade de produção de mudas no interior de São Paulo, em local ainda a ser definido. Outras três unidades estão incluídas na programação de investimentos. Ao menos uma delas deverá ser levantada no Centro-Oeste. "As fábricas estarão sempre próximas aos centros produtores", diz Marco Bochi, diretor de projetos especiais da empresa.

Não serão produzidas as mudas tradicionais, de até um metro de comprimento, mas pequenas mudas de 3 centímetros de altura, batizadas de Plene. Elas serão apresentadas hoje a um grupo de usinas de açúcar e álcool - no total, até 2009, os 50 maiores grupos do setor sucroalcooleiro deverão "testar" a tecnologia.

Nessa fase, o desembolso será da Syngenta, já que a comercialização ocorrerá a partir de 2010. O plantio deverá ser feito em uma área estimada em 3 mil hectares no total. A idéia é que essas áreas sejam das próprias usinas, para que elas possam acompanhar o desenvolvimento das plantas em seus próprios canaviais. Mas todo o processo de desenvolvimento ficará a cargo da Syngenta.

O investimento já foi aprovado pela matriz da empresa anglo-suíça e será todo feito com recursos próprios, de acordo com Antonio Carlos Motta Guimarães, presidente da Syngenta para a América Latina. Isso ajuda a evitar que o atual cenário de aperto de crédito inviabilize o projeto.

Os estudos prévios da Syngenta apontaram aumento de produtividade de 5% a 15% por hectare com o uso da "mini-muda". Os custos de produção, segundo a empresa, são 15% menores. No plantio manual, o custo é de US$ 2.250 por hectare e no mecanizado, de US$ 2.100 por hectare.

Uma característica dos canaviais é a necessidade de renovação. A cada quatro ou cinco cortes consecutivos, a taxa de renovação fica entre 15 a 20% da área total cultivada, e isso exige grande produção de novas mudas. A área para esse fim costuma ocupar 5% das propriedades. Essas áreas reservadas à produção de mudas podem ser convertidas para a produção comercial, argumenta o executivo.

O maquinário necessário para o plantio não é o mesmo do plantio mecanizado convencional, mais pesado. A Syngenta entrou em acordo com a fabricante de máquinas agrícolas John Deere, que ficou a cargo da criação de uma máquina específica para a nova muda. O plantio ocorrerá da mesma forma que a utilizada para a semeadura de grãos como soja e milho, diz Laercio Valentin Giampani, diretor geral da subsidiária brasileira. "O consumo de óleo diesel é menor e a própria máquina abre o sulco, aduba, planta e cobre".

A distância necessária entre as mudas e o tempo de maturação da planta desenvolvida pela Syngenta é o mesmo das plantações tradicionais. Não é preciso, por outro lado, a abertura de grandes sulcos na terra, como ocorre na forma utilizada para o plantio. Com a eliminação de etapas de preparação do solo, a perda de umidade é menor.

O setor sucroalcooleiro no Brasil apostava na disseminação do uso do etanol no mundo e na transformação do álcool combustível produzido a partir da cana em commodity negociada nos mercados futuros. A crise atual, que tornou o crédito mais escasso, a queda dos preços de açúcar e álcool e a queda do preço do petróleo, que reduz a competitividade do etanol, têm tornado inviáveis muitos projetos de usinas no país. O cenário não afasta a Syngenta de seu projeto.

"Não dá para fazer um retrato [da situação econômica] pensando apenas que se está em um momento de baixa ou em um momento maravilhoso. Estamos pensando no longo prazo", diz o presidente para a América Latina, Antonio Carlos Guimarães. A empresa diz que a projeção de receita de US$ 300 milhões a partir de 2015 com o projeto de mudas de cana-de-açúcar seria possível mesmo com a atual área ocupada pela cultura no Brasil.

Para os executivos, o agronegócio brasileiro ainda não sentiu todo o impacto da turbulência financeira. Os reflexos deverão ser mais percebidos em 2009. "Ainda é uma crise bancária", afirma Guimarães. Ele resume o que ocorreu até agora em três linhas: redução de crédito, queda das bolsas e queda nos preços das commodities. "Ainda não chegamos à segunda fase, de retração no PIB e no consumo".

A área de defensivos responde por cerca de 80% da receita de vendas da empresa no Brasil, e a de sementes, por 20%. A crise não levou ao cancelamento de investimentos em pesquisa. A Syngenta destina US$ 800 milhões por ano para pesquisa. (Colaborou Bettina Barros)