Título: Usinas pedem socorro ao governo
Autor: Scaramuzzo , Mônica
Fonte: Valor Econômico, 29/10/2008, Agronegócios, p. B14

Os usineiros do país devem se reunir, nos próximos dias, com a equipe econômica do governo, em Brasília, para discutir medidas de apoio ao setor, que está com fluxo de caixa baixo e enfrenta limitação de crédito, por conta da crise financeira global Anna Carolina Negri/Valor Segundo Marcos Jank, presidente da Unica, setor está com limitação de crédito

Segundo Marcos Jank, presidente da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), o setor não vai pedir pacote de ajuda ao governo nos mesmos moldes do concedido à construção civil.

"Vamos mostrar ao governo que o setor tem um peso importante na balança comercial brasileira. E, neste momento, enfrenta problemas de crédito e tem dificuldades para conseguir financiamento de ACC [Antecipação de Crédito de Câmbio]", afirmou o dirigente. Jank participou da 8ª Conferência Internacional Datagro de Açúcar e Álcool.

As receitas anuais com exportações de açúcar e álcool somam cerca de US$ 7 bilhões. As usinas querem recursos para carregar seus estoques. Caso contrário, terão de ofertar mais durante a safra, derrubando ainda os preços do açúcar e do álcool. Também pedem que os recursos aprovados pelo BNDES para expansão das usinas sejam liberados, além de financiamento para custear a manutenção das usinas durante o período de entressafra.

"Os fundamentos para o setor são positivos. Depois de dois anos de preços baixos, as perspectivas são de que as cotações subam, por conta do déficit global do produto para a safra 2008/09", analisou Jank.

Dados da Organização Internacional do Açúcar (ISO, na sigla em inglês) reforçam a expectativa de uma produção global deficitária, como reflexo da redução da produção de açúcar da Índia, o segundo maior produtor mundial.

Na região Nordeste, as indústrias do setor a estavam pedindo apoio para os fornecedores de cana, com medidas de apoio ao como o Pepro (Prêmio Equalizador Pago ao Produtor). No entanto, esses recursos podem não sair. Segundo Manoel Bertone, secretário de Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura, o governo está priorizando o aumento de crédito para safra.

A região Nordeste deverá ter uma colheita 10% maior este ano, que gira em torno de 66 milhões de toneladas. No entanto, será uma safra de preços baixos.

No Centro-Sul do país, uma parte dos fornecedores de cana, cerca de 10% do total, enfrenta atrasos para receber pela matéria-prima. "Algumas usinas estão atrasando o pagamento", afirmou Manoel Ortolan, presidente da Associação dos Plantadores de Cana do Oeste do Estado de São Paulo (Canaoeste), que representa fornecedores da região de Ribeirão Preto, principal centro produtor de cana do Brasil.