Título: Crédito imobiliário registrou redução de 15,9% em setembro
Autor: Travaglini , Fernando
Fonte: Valor Econômico, 29/10/2008, Finanças, p. C2

Os dados de setembro do crédito imobiliário já apresentam uma redução no ritmo de crescimento. O volume total de concessão dos bancos para a construção civil e para a compra da casa própria somou R$ 2,9 bilhões no mês, queda de 15,9% em relação aos R$ 3,5 bilhões liberados em agosto deste ano. Apesar da desaceleração, o montante ainda é bastante superior ao patamar registrado em setembro do ano passado (R$ 1,7 bilhão).

Em relação ao número de unidades financiadas, a queda foi de 15,5%, passando de 34,8 mil, em agosto, para 29,4 mil, em setembro. No acumulado do ano, já foram liberados recursos para 227,2 mil imóveis, entre novos e usados, alta de 68%. Os dados levam em conta apenas os empréstimos que utilizam como fonte de recursos a caderneta de poupança, dentro do Sistema Financeiro da Habitação (SFH).

Segundo fontes do setor, no mês de outubro os bancos reduziram ainda mais a oferta de linhas tanto para empresas quanto para pessoas físicas. Além de elevarem a seletividade, as instituições aumentaram as taxas de juros cobradas dos clientes entre um e dois pontos percentuais. Para liberações de recursos para incorporadoras há uma restrição ainda maior.

Os bancos, no entanto, precisam manter as concessões para o setor, mesmo com o cenário adverso, devido à exigibilidade de direcionamento de 65% dos depósitos da poupança. Em setembro, as cadernetas apresentaram captação líquida de R$ 1,8 bilhão, somando fluxo positivo de R$ 7,8 bilhões no ano e saldo superior a R$ 200 bilhões.

Em relatório, o analista da corretora do Unibanco, Vladimir Pinto, afirma que os dados continuam mostrando a força do sistema para a concessão do crédito, sem sentir ainda os efeitos da crise internacional que atinge os mercados globais e que as concessões não devem sofrer uma forte desaceleração até o fim do ano.

Isso porque o crédito à habitação é um processo longo, com os contratos de um mês sendo iniciados nos meses anteriores. Além disso, as concessões para as empresas do setor seguem um cronograma de liberação de acordo com a etapa da obra lançada meses antes, ou seja, já acordado.

"Estimamos que o total de crédito imobiliário para 2008 deva se aproximar de R$ 28 bilhões, comparado com os R$ 23 bilhões já concedidos", diz o texto.

O relatório diz ainda que não deve haver forte desaceleração dos financiamentos nos próximos meses, apesar de ser esperada uma queda nas vendas no setor de construção. Por outro lado, com as empresas e os bancos se tornando mais seletivos e começando a avaliar os efeitos potenciais sobre a demanda, os novos lançamentos devem ter desaceleração.

Por conta dessa defasagem, intrínseca ao setor, os dados de empréstimos do último trimestre não devem servir de referência em relação aos dados operacionais esperados para as incorporadoras e construtoras.

Preocupado com o impacto da crise internacional e da falta de crédito para o setor de construção civil, o governo deve anunciar hoje a criação de uma linha especial de crédito de R$ 3 bilhões para capital de giro para o setor com recursos da Caixa Econômica Federal (CEF).