Título: Para Lula, eleição municipal não define sucessão presidencial
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 28/10/2008, Política, p. A6

O presidente Luiz Inácio lula da Silva disse ontem não ser possível ainda projetar os resultados das eleições municipais com sua sucessão em 2010. "Ainda é muito cedo para tirarmos conclusões sobre os resultados de domingo. Eu não trabalho assim com esta antecedência porque em política as coisas não funcionam automaticamente, uma eleição definindo a próxima", disse o presidente da República, que ontem completou 63 anos.

Citou casos de previsões equivocadas no passado acerca dos efeitos de eleições na sucessão presidencial. "Eu me lembro do Mário Covas que teve uma grande votação para senador em São Paulo e foi apontado como futuro presidente da República, mas ficou em quarto lugar, em 1989. Quando o Quércia fez do Fleury seu sucessor em São Paulo, também saiu em capa de revista como futuro presidente, mas teve só 5% dos votos, em 1994", afirmou.

Em entrevista ao blog "Balaio do Kostcho", do jornalista Ricardo Kostcho, que foi secretário de imprensa no primeiro mandato de Lula, disse que não há associação possível entre as duas eleições. "Não dá para fazer uma ligação robotizada entre 2008 e 2010. É incorrer num grande erro. Cada eleição tem sua própria história, seus próprios candidatos, uma é diferente da outra. É como no futebol. Eleição presidencial é um clássico, e clássico não tem favorito".

Nas contas do presidente, a oposição sai derrotada das eleições municipais deste ano. "Três partidos perderam: DEM, PSDB e PPS. Os três partidos da oposição foram os que perderam mais prefeituras. E os partidos da base do governo todos eles cresceram: PT, PMDB, PSB, PCdoB, PP, PTB, todos".

Para ele, foi uma eleição atípica porque o governo federal foi defendido por todas as matizes políticas. " Como o povo está satisfeito, ganharam todos os prefeitos de capitais que disputaram a reeleição, menos o Serafim Corrêa, em Manaus. O povo mostrou que sabia o que queria. Quer manter as obras que estão em andamento em cada cidade."

Sobre a crise, Lula disse haver no país pessoas favoráveis a que seus efeitos negativos cheguem ao país. "Lamentavelmente, temos um grupo de pessoas no país que está pedindo a Deus para que a crise chegue logo ao Brasil para desgastar o governo. O que é uma enorme imbecilidade. O Brasil não merece ser prejudicado porque nós fizemos as coisas certas e não temos que pagar pelos erros dos outros".

O presidente disse ainda acreditar que o país está preparado para conter a crise. "Temos um sistema financeiro mais sólido, não envolvido no sub-prime. Temos um mercado interno ascendente, com muitas obras financiadas pelo governo federal e por grandes empresas, como a Vale do Rio Doce e a Petrobras, que não vão diminuir seus investimentos. Temos uma exportação hoje muito diversificada, não dependendo apenas de um ou dois países."

No programa de rádio "Café como Presidente", Lula acenou para os prefeitos eleitos com "parcerias": "O prefeito eleito passa a ser vidraça, porque agora passa a ser cobrado por todas as coisas que ele prometeu. Ele agora não é mais franco atirador, ele agora é o executor. E é nessa execução que nós temos que construir a parceria entre prefeitos, governos dos estados e governo federal"