Título: Enem para todos
Autor: Seixas, Luiza
Fonte: Correio Braziliense, 04/02/2010, Brasil, p. 12

Presidente do Inep diz que consolidação do exame como tíquete de entrada no ensino superior fará com que mais universidades adotem o sistema a partir do ano que vem. Segundo balanço do MEC, até ontem, às 19h30, 745 mil se inscreveram este ano

Bruno Peres/CB/D.A Press Ryan Cançado só fez a prova para ver como funcionava: ¿Acho que mais universidades deveriam entrar no processo. Meu foco, por exemplo, é a UnB¿

Terminou ontem a primeira etapa do processo de inscrição no Sistema de Seleção Unificada (SiSU) do Ministério da Educação (MEC). Durante esses seis dias em que os alunos puderam entrar no site para se inscrever em uma das instituições que aderiram ao novo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como forma de seleção, o número de reclamações acabou protagonizando as atenções, mas ainda assim, o presidente do Inep, Joaquim José Soares Neto, acredita que a tendência, a partir de agora, é que as universidades que ainda não fazem parte do processo comecem a adotar o novo exame.

Soares Neto entende as dificuldades encontradas pelos estudantes em relação ao sistema que esteve lento e eventualmente mostrava mensagens de erro ¿ irritando os alunos ¿, mas avalia que todo o processo conseguiu se estabelecer na etapa final, e que o mais provável é que haja a adesão das grandes instituições. ¿Eu não consigo fazer o diagnóstico de quanto tempo isso vai levar, pois depende das decisões específicas que cada universidade vai tomar, mas, ao perceberem esse grande avanço no exame, a tendência é de que todas passem a aceitar¿, destacou, em entrevista ao Correio.

O presidente do Inep ressaltou ainda que há a possibilidade de o Enem substituir o vestibular no país. ¿O Enem, se estabelecendo como exame de acesso às vagas das universidades públicas, tem chances de substituir os vestibulares mais localizados. Assim, ele passará a ser um vestibular em nível nacional¿, completou.

Logística Questionado sobre a possibilidade de o MEC acabar com o processo de licitação para a realização da prova, devido ao problema que teve com as empresas contratadas nesta edição que acabou gerando o vazamento do conteúdo e adiando a data de aplicação do exame, o presidente do Inep ressaltou que o órgão já está estudando se essas contratações serão ou não por dispensa de licitação.

Segundo Soares Neto, o Inep já é responsável pela elaboração das provas e por toda a parte de análises. Portanto, a parte da impressão, distribuição e aplicação têm, obrigatoriamente, que ser feitas por gráficas, pelos Correios e por instituições especializadas.

¿Ficou claro que a gráfica tem que ser de segurança máxima e a distribuição tem que ser feita pelos Correios, que são especializados em logística e distribuição. O ponto importante é a questão da licitação ou não licitação, que é aquela tensão da lei da contratação de serviços pelo estado que dê a segurança necessária, exigida pela sociedade, para o Enem. Temos que ter uma grande segurança. O que nós estamos estudando é qual a melhor forma de contratação que dê essa segurança¿, afirmou.

Próximas etapas

Quando terminar o período de matrícula, que vai de 8 a 12 de fevereiro, as universidades farão um balanço para ver quais vagas não foram preenchidas. Assim, aquelas que não foram ocupadas estarão disponíveis na 2ª ou 3ª etapa.

2ª etapa

Inscrições 15/2 a 20/2, das 6h às 23h59

Resultado 22/2

Matrícula 23/2 a 26/2

3ª etapa

Inscrições 1º/3 a 3/3, das 6h às 23h59

Resultado 5/3

Matrícula 9/3 a 12/3

Número de inscritos passa dos 745 mil

Ontem foi o último dia para que os alunos participassem da primeira etapa de inscrição em uma das 47,9 mil vagas das instituições públicas que aderiram ao Sistema de Seleção Unificada (SiSU). Segundo informou a Assessoria de Comunicação do Ministério da Educação, até as 19h de ontem, mais de 745 mil candidatos tinham feito sua inscrição no sistema, enquanto 976 mil estudantes fizeram a troca de senha do primeiro acesso.

O número mostra que cerca de 53 mil novas inscrições foram feitas em sete horas, uma vez que, até o meio-dia, o MEC havia registrado 692 mil inscrições.

As inscrições pelo SiSU poderiam ser feitas até as 23h59 de ontem. O resultado será divulgado na página do SiSU amanhã.

Isso se a Defensoria Pública da União (DPU) no Rio de Janeiro não conseguir um adiamento. A DPU pediu ontem a prorrogação da inscrição até, pelo menos, amanhã. A defensoria alega que ¿os candidatos ainda enfrentam diversos problemas para se inscrever, entre eles, a lentidão no acesso ao formulário de cadastro e a sobrecarga do sistema¿. O Correio entrou em contato com o Ministério da Educação, que já adiantou que a prorrogação do prazo está fora de questão.

O número 47,9 mil Número de vagas nas instituições que aderiram ao sistema terá crescimento acentuado no ano que vem, segundo acredita o Inep

Espera por novas oportunidades

Além dos problemas encontrados durante o procedimento de inscrição de cada estudante, como as mensagens de erro e a lentidão do sistema, os candidatos se queixaram do pequeno número de instituições que aderiram ao programa. Das 58 universidades federais do país, apenas 23 estão no SiSU; e dos 281 institutos federais de educação, ciência e tecnologia, só 26 decidiram participar.

Desde quando o novo Enem foi lançado, muitas das grandes instituições de ensino superior, como a Universidade de Brasília (UnB), já tinham optado por não utilizá-lo como forma de seleção. Porém, outras, como a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual de Campinas aderiram e, depois do furto da prova, desistiram e decidiram realizar seus próprios processos de seleção.

Com isso, foram muitos os alunos que também abriram mão da nota do exame. Segundo informações do Inep/MEC, o sistema registrou 4,5 milhões de inscritos, mas apenas 2,6 milhões realizaram a prova. O estudante Ryan Henrique Cançado Ferreira, 16 anos, por exemplo, diz que só fez a prova para ver como funcionava, pois não pretende sair de Brasília e nenhuma instituição na capital está aceitando o Enem. ¿Acho que mais universidades deveriam entrar no processo. Meu foco, por exemplo, é a UnB, mas ela já afirmou que só aceitará a partir de 2011. E, perto daqui, eu não sei de outra instituição que aceite e nem que tenha o curso que eu quero, que é ciência da computação¿, afirma.

Para nenhuma das duas opções de Amanda Evangelista de Souza, 18 anos, a nota do Enem a ajudaria. Ela quer cursar economia na UnB ou na Universidade Federal do Acre (Ufac), mas as duas ainda estão realizando seu próprio processo de seleção. A dúvida de Amanda, agora, é se algum dia as duas optarão pelo Enem. ¿Eu acredito que depois do vazamento da prova, a credibilidade do Enem caiu. Além disso, nós vimos que o nível da prova não é tão bom conforme o das universidades, que cobram mais do aluno¿, afirma. Porém, Amanda acredita que a prova é uma forma de democratizar o acesso dos estudantes às universidades do país.

Eduardo Reis, 19 anos, desistiu do Enem quando a USP e a Unicamp também desistiram de aceitar. Eduardo acredita que, para que as universidades possam aderir de vez ao sistema, é imprescindível melhorar a segurança e a qualidade da prova. ¿Elas foram inteligentes em deixar de aceitar após a fraude, pois são reconhecidas mundialmente e precisam ter maior confiança no exame¿, argumentou. Porém, o rapaz destaca que, além de perder essa oportunidade, ficou prejudicado também em relação a outras instituições. ¿Com essa mudança na data do Enem, os calendários de outras universidades foram alterados, e nós, estudantes, tivemos que acompanhar esse processo.¿ (LS)