Título: Financiar commodities ficará ainda mais caro
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 29/10/2008, Finanças, p. C7

Bancos e traders de matérias-primas baseados em Genebra começam a se preparar para uma queda importante em seus negócios, com o aperto de crédito, baixa nos preços de açúcar, petróleo e outras mercadorias, e temor de recessão global.

Jacques-Olivier Thomann, diretor-geral do BNP Paribas na Suíça e presidente da Geneva Trading and Shipping Association, disse que a situação se tornou excepcionalmente difícil e as condições para o negócio de commodities vão endurecer.

Ele prevê contínua alta do custo dos financiamentos no comércio internacional de matérias-primas, negócios mais seletivos tanto por parte dos bancos como das companhias de trading e maior contrapartida aos riscos nas operações com esse tipo de mercadoria.

"Há uma degradação sensível com a crise financeira atingindo a economia real", declarou o banqueiro. "Isso afetará produtores, transformadores e intermediários seja no Brasil como no Cazaquistão".

Ele contou que atualmente muitos bancos apenas refinanciam com o dinheiro que receberam de outras operações, sem abrir crédito novo.

Genebra não produz uma grama de açúcar nem uma gota de petróleo, mas faz um terço do comércio mundial de matérias-primas. É o local das vendas de 33% do comércio mundial de açúcar, de 30% de cereais, 20% de algodão, 10% de aço, 75% do petróleo da Rússia, e número um global nas transações de óleos vegetais.

Graças à cobrança de baixas taxas, Genebra atraiu os principais atores do negócio de commodities: bancos, as companhias trading, companhias de frete marítimo e tambem de controle e vigilância de mercadorias.

Mais de US$ 1,1 trilhão de financiamentos de 45 dias a 1 um ano, na maior parte das vezes, sao fornecidos por ano pelo BNP Paribas, Credit Suisse, Calyon (grupo Credit Agricole), UBS, ING e outros.

Cerca de 40 grandes companhias de trading, com faturamento de US$ 700 bilhões, estão instaladas na cidade, como ADM, Bunge, Cargill, Dunavant e Lukoil. Além disso, o transporte de mais de 1,2 bilhão de toneladas de mercadorias é negociado em Genebra.

Com tudo isso, a praça genebrina sente imediatamente a crise financeira. Assim, certos traders não terão condições de obter financiamento para em seguida financiar produtores em certos países, por exemplo. E produtores atrasam compras de fertilizantes, por exemplo, em meio a volatilidade generalizada dos mercados.

Além do aperto de crédito, o mercado em Genebra acompanha a queda de produção de vários produtos no rastro da derrubada de preços. É o caso da produção global de aço, que cairá até 2010, nas projeções. O preço da tonelada caiu de US$ 1,300 pra US$ 450 por tonelada em apenas dois meses.

Em Genebra, o negócio envolve a mercadoria física, não financiamento de futuro ou hedge. O impacto assim é menor. Mas Thoman nota que todo mundo será mais seletivo nos negócios a partir de agora. E também ficará mais atento a toda a parte logística. Ele lembra que um navio parado, a espera de mercadoria, pode custar entre US$ 50 mil e US$ 100 mil por dia.