Título: PT homologa candidatura de Tião Viana à presidência do Senado
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 30/10/2008, Política, p. A6

O PT no Senado homologou Tião Viana (PT-AC) como candidato do partido à presidência do Senado, em jantar na terça-feira, mas abandonou a postura de confronto com o PMDB, onde cresce a articulação para o lançamento do nome de José Sarney (PMDB-AP) para o cargo. "Eu não quero", repetiu ontem pela enésima vez o ex-presidente da República a jornalistas. Afirmou que diria isso à bancada do PMDB em jantar, ontem, na casa do senador Valter Pereira (MS).

O que move as articulações para as eleições de presidentes da Câmara e do Senado, que acontecerão em fevereiro de 2009, é o jogo político com vistas à sucessão presidencial de 2010. Com receio de o governo perder o comando das duas Casas no último biênio do governo Lula, lideranças do PT na Câmara convenceram a bancada do Senado a desistir de exigir do PMDB apoio a Viana.

Disseram que insistir na cobrança pela reciprocidade do PMDB não garantiria a eleição de Viana e atrapalharia a eleição de Michel Temer (SP), presidente do PMDB, para presidente da Câmara. Agora, para tentar consolidar a candidatura de Tião, o PT do Senado aposta principalmente em divisões no próprio PMDB e no PSDB - que ainda não decidiu pelo apoio a um pemedebista ou a Viana.

O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) não iria ao jantar da bancada, mas já expôs publicamente sua opção por Viana, assim como Gerson Camata (ES) e Pedro Simon (RS). "Defendemos rodízio. O PMDB elege Michel na Câmara e no Senado elegemos Tião, que é o melhor nome do PT", disse Jarbas.

A bancada do PSDB ainda não discutiu que posição tomará na eleição da Mesa Diretora do Senado, em fevereiro de 2009, mas nos bastidores há um racha. Enquanto Arthur Virgílio (AM), o líder que sempre impôs vetos ao nome de Sarney, dessa vez mostra-se, no mínimo, aberto a conversar com interlocutores do PMDB. O principal deles é Renan Calheiros (AL), que tem procurado tanto Arthur quanto o líder do DEM, José Agripino (RN).

Por outro lado, setores do PSDB, como o presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), e o ex-presidente, Tasso Jereissati (CE), têm dúvidas quanto à melhor solução para o partido e para a instituição. O dilema é como atrair o PMDB sem fortalecer demais o partido - já inflado pelas eleições municipais. O risco de chegar a 2010 com os pemedebistas enfiando a "faca no pescoço" dos tucanos, caso estejam juntos. A outra opção é dar o comando da Casa ao PT e o Senado é o último reduto da oposição.

Mas Viana é bem visto. Teria conduzido bem o Senado quando substituiu Renan na presidência da Casa, no ponto de vista da oposição. Renan afastou-se durante os processos por quebra de decoro que enfrentou. Foi absolvido, mas não voltou ao cargo. Viana continuou na vice-presidência e Garibaldi Alves (PMDB-RN) foi eleito para completar o mandato.

Renan tenta recuperar prestígio e espaço político articulando uma candidatura própria do PMDB no Senado e seu próprio retorno ao cargo de líder da bancada. Ontem, no jantar, ele enfrentaria um constrangimento: o atual líder, Valdir Raupp (RO), que convocou a reunião na casa de Pereira, trabalha para ser reconduzido. E tem apoios, embora a maioria ainda tímidos.

Ontem, na reunião da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Raupp recebeu dois apoios explícitos e de onde menos esperava: de Jarbas e de Simon, senadores que o líder afastou temporariamente da CCJ durante os processos contra Renan, exatamente por causa de suas posições de independência.

O nome de Viana foi homologado em jantar na casa do senador Eduardo Suplicy (PT-SP). Os três ausentes - Delcídio Amaral (MS), Marina Silva (AC), Fátima Cleide (RO), todos fora de Brasília - enviaram apoios por escrito. Delcídio, que postulava a candidatura se houvesse vetos a Viana, explicitou apoio ao colega.

A estratégia da líder da bancada, Ideli Salvatti (SC), a partir de agora, é costurar o apoio a Viana no Bloco de Apoio ao Governo (PR, PSB, PCdoB, PRB e PP, além do próprio PT). "Nós vamos trabalhar a candidatura de Tião na lógica da recuperação da imagem do Senado", diz Ideli.

O grupo de Renan e Jucá defende que o PMDB só tome uma decisão em janeiro, "deixando Tião no serenoaté lá", segundo um senador. Com esse jogo, os pemedebistas podem fortalecer os espaços que ocupam no governo. Um dos cargos que estariam na mira é o Ministério da Justiça.

Renan e Sarney lembram que há outros nomes no partido para a presidência do Senado. Citam os ministros Edison Lobão (Minas e Energia) e Hélio Costa (Comunicações). Senadores licenciados, poderiam voltar para disputar. (RU)