Título: Sem diálogo, greve policial em SP chega ao 44º dia
Autor: Felício , César
Fonte: Valor Econômico, 30/10/2008, Política, p. A9
A ameaça dos grevistas da Polícia Civil de São Paulo de levar adiante a paralisação da corporação até o fim da administração do governador José Serra (PSDB) fez com que o governo estadual voltasse a endurecer o tom em relação ao movimento, que já dura 44 dias. Nenhum secretário estadual deverá estar presente hoje na audiência pública da Assembléia Legislativa, marcada inicialmente para tentar mediar o confronto. Foram convidados os secretários de Segurança, Ronaldo Marzagão, de Gestão, Sidney Beraldo, e da Fazenda, Mauro Ricardo Costa. "A posição do governo é de não negociar enquanto a greve prosseguir. Se houver uma suspensão, talvez fosse possível voltar a conversar sobre o índice e sobre os prazos para o reajuste", comentou o líder do governo na Assembléia, deputado Barros Munhoz (PSDB)
O Executivo enviou cinco projetos à Assembléia Legislativa, mas os líderes do movimento grevista aprovam apenas um, relativo à aposentaria especial. As propostas não foram negociadas com os policiais, comentam representantes dos policiais, delegados e deputados estaduais. Os policiais civis de São Paulo pedem reajuste de 15% imediatamente, mais 12% em 2009 e em 2010. O governo oferece dois reajustes de 6,5%, um a ser dado em janeiro de 2009 e o outro em janeiro de 2010.
Segundo integrantes do governo estadual, a avaliação é que existem divisões entre as diversas entidades que reúnem os policiais civis e que esta é a razão para que a pauta de reivindicações tenha sido alterada. Segundo a assessoria de imprensa da Secretaria Estadual de Gestão, no começo da paralisação a pauta dos grevistas envolveria custos adicionais de R$ 7,9 bilhões. Agora, o peso já estaria em R$ 15 bilhões. Inicialmente, o governo Serra propunha apenas um reajuste de 6% e a mudanças na estrutura de gratificações, representando um custo adicional de R$ 600 milhões. Depois do incidente do dia 16 de outubro, quando os grevistas entraram em confronto com a Polícia Militar no acesso ao Palácio dos Bandeirantes, o governo fez novas concessões, chegando a R$ 830 milhões. "Este é o limite", disse Barros Munhoz.
Ontem, policiais civis em pelo menos 16 Estados e no Distrito Federal fizeram uma demonstração de apoio à greve em São Paulo e paralisaram atividades por duas horas, de acordo com a Associação dos Delegados de Polícia paulista. Caso a greve continue, os apoiadores deverão fazer outra paralisação, de quatro horas, em 17 de novembro.
Barros Munhoz tentará aprovar o pacote de propostas enviado por Serra na seqüência do conflito do dia 16 sem modificações, mas a proposta está longe de agradar aos representantes dos grevistas no Legislativo. "O governo chamou esses projetos de "pacote de benefícios", mas é um saco de maldades", afirmou o deputado major Olímpio, do PV. "Nem de longe contemplam as reivindicações dos policiais. É uma afronta", comentou. "O governo quer tirar a pressão sobre o Palácio e transferir para a Assembléia. Mas os grevistas sabem que essa questão salarial deve ser resolvida pelo Executivo e continuarão a pressionar Serra", afirmou o líder do PT na Casa, deputado Roberto Felício.
Grevistas reuniram-se ontem com o Ministério da Justiça para discutir a aprovação do projeto de piso nacional para os policiais, parado no Congresso, item inicialmente fora da pauta. "O que acontece em São Paulo é um desrespeito", comentou ontem André Dahmer, diretor da Associação dos Delegados paulistas, que passou o dia reunido com secretários do ministério. "Não conseguimos avançar em nada na negociação com o governo estadual. O que eles propõem está muito aquém da defasagem salarial", disse. Foi Dahmer que, em entrevista anteontem ao jornal "O Estado de S.Paulo", falou que a greve poderia durar mais 720 dias, ou até o fim do governo Serra.
Os parlamentares do PT, entretanto, não acreditam que a greve continuará por muitos meses. "Afirmações do tipo que a greve continuará por seis meses, ou até mesmo até o fim do governo Serra são retórica. Fazem parte do discurso. Os policiais não querem manter a greve, mas querem negociar", considerou Felício, líder do PT. Os deputados têm até a tarde de hoje para propor emendas aos projetos, mas a oposição não espera a aceitação de qualquer mudança. "O rolo compressor do governo deve derrubar todas as emendas. A greve deve ser mantida enquanto houver intransigência do governo", disse o deputado Olímpio.