Título: Redes 3G enfrentam risco de sobrecarga
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Fonte: Valor Econômico, 30/10/2008, Empresas, p. B3

A terceira de geração da telefonia móvel (3G) chegou ao Brasil há menos de um ano, mas a rápida adesão à tecnologia já leva operadoras e fornecedores de infra-estrutura a prever uma sobrecarga dessas redes no prazo curto.

Levantamento apresentado ontem pela Nokia Siemens mostra que a capacidade das faixas de freqüência disponíveis para a telefonia móvel estará totalmente utilizada em 2011. A razão principal disso é o crescente uso das redes de celular para o acesso à internet. A estimativa da empresa é de que o tráfego aumente, em média, 90% ao ano nos próximos cinco anos.

"Essas estimativas são baseadas num modelo teórico, mas a situação real é pior que a hipotética", afirmou o executivo-chefe da Nokia Siemens na América Latina, Armando Almeida.

Na avaliação do presidente da Qualcomm, Marco Aurélio Rodrigues, falar em esgotamento em 2011 pode ser um pouco prematuro. As estimativas do executivo, porém, não são muito animadoras. Ele afirmou que em 2015 certamente haverá problemas. Segundo estatísticas da empresa - que produz grupos de chips para telefonia móvel -, o mercado mundial de banda larga terá 1,5 bilhão de assinantes em três anos, dos quais 900 milhões serão usuários dos serviços móveis. Hoje, esses números são de 600 milhões e 200 milhões, respectivamente.

Segundo o diretor de redes e engenharia da Nokia Siemens, Wilson Cardoso, para suprir a demanda há duas medidas possíveis e complementares. Uma delas é as operadoras investirem em equipamentos que garantam uso mais eficiente das redes. Outra ação é ampliar a faixa de espectro destinada à telefonia móvel. Ele prevê que será preciso dobrar o volume de freqüências.

O consultor Geraldo Araújo, da Accenture, frisou que os órgãos reguladores precisam, em todo o mundo, encarar a questão do aumento do tráfego móvel. "Espectro é um bem finito e perecível", disse. Segundo ele, alguns países estão discutindo uma redistribuição das faixas de freqüência. Nos Estados Unidos, por exemplo, com a expansão da TV digital as operadoras estão liberando o espectro que usavam nos canais analógicos.

Roberto Lima, presidente da Vivo, sugeriu que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) prepare uma realocação das faixas de freqüência para dar conta do movimento. "É preciso começar essa discussão já. Dinheiro para investir a gente arruma. Espectro é que vai faltar se nada for feito", ressaltou.

E aí se abre um palco que promete ser de forte disputa entre as empresas de telecomunicações. As faixas de espectro são limitadas e cada vez mais despertam o interesse das companhias do setor. Do ponto de vista de equipamentos e padronização tecnológica, a evolução das redes de telefonia celular caminha para a faixa de 2,5 gigahertz (GHz). Essa freqüência também é cobiçada por empresas que têm interesse em oferecer serviços de banda larga sem fio no padrão conhecido como Wimax.

Só que, no Brasil, as licenças de 2,5 GHz estão atualmente destinadas às operadoras de TV por assinatura que utilizam o sistema MMDS (microondas). Um volume significativo dessa faixa cabe hoje à Telefônica, por meio dos ativos da TVA que foram adquiridos pelo grupo espanhol. Na semana passada, a operadora anunciou o início dos testes com Wimax em São Paulo.

A Sky, de TV via satélite, também está de olho nas empresas de MMDS, com o objetivo de utilizar a infra-estrutura para oferecer acesso à internet a seus clientes. O grupo anunciou em março a aquisição da Itsa, um negócio que ainda depende da aprovação da Anatel.

O presidente da Oi, Luiz Eduardo Falco, disse que a Anatel deve liberar a outorga de licenças para o Wimax e para TV a cabo, já que as redes de banda larga fixa também enfrentam a pressão da demanda crescente. "É preciso permitir que todas as tecnologias possam ser usadas por aqueles que têm dinheiro para fazer investimentos. Me parece o passo zero. Me dê esses recursos, mesmo finitos, que estão na prateleira."

As primeiras redes 3G foram lançadas no fim do ano passado pela Claro e pela Telemig Celular (hoje pertencente à Vivo). Segundo levantamento da Nokia Siemens, o Brasil vai fechar 2008 com 3,5 milhões de adeptos dessa tecnologia. O número de usuários de 3G e das vindouras redes 4G deverá chegar a 100 milhões daqui a cinco anos. (*Valor Online)