Título: Leilão de rodovias movimenta R$ 11,5 bi
Autor: Manechini, Guilherme
Fonte: Valor Econômico, 30/10/2008, Empresas, p. B7

O resultado de ontem do leilão de concessão de cinco lotes de rodovias paulistas, que totalizaram R$ 11,5 bilhões entre outorgas e investimentos, fará com que o governo de São Paulo acelere os planos para o término do rodoanel que circunda a capital. Depois de conseguir deságios que variaram entre 6% e 54,9%, em plena crise financeira mundial, o governo estadual pretende licitar até o fim do primeiro semestre do ano que vem o trecho leste do anel viário. Helcio Nagamine/Valor

Mauro Arce, secretário de transportes, comemorou o resultado e já prevê a construção dos dois trechos restantes do rodoanel até o fim de 2013

Os dois grandes vencedores do leilão de ontem, Odebrecht e Triunfo Participações e Investimentos (TPI), já declararam interesse em participar dos trechos leste e norte. Segundo Mauro Arce, secretário estadual de transportes, o objetivo é finalizar a obra até o fim de 2013. "Acreditamos que possa ser concluído seis meses antes da Copa do Mundo de 2014", declarou Arce. De acordo com o secretário, o trecho leste deverá ser orçado entre R$ 2 bilhões e R$ 3 bilhões. Já o trecho norte, cujo percurso atravessa a Serra da Cantareira, região rica em lençóis freáticos, seria licitado até o início de 2012.

O governador do estado, José Serra (PSDB), discursou após o fim do leilão e frisou o delicado cenário econômico mundial. "Essas concessões foram feitas em um momento de crise e demonstram que São Paulo, em matéria de relações com o setor privado, se mostra de maneira responsável", afirmou. Outro ponto ressaltado por Serra foi a inclusão das vias vicinais nos lotes das rodovias, que totalizam mil quilômetros.

Já os vencedores dos lotes leiloados foram unânimes em destacar a dificuldade de obter financiamento para entrarem na disputa. "Na verdade a equipe [consórcio Brasinfa] vinha se preparando para participar de todos os lotes, mas abrimos mão de dois deles" disse Hamilton Amadeo, presidente da Cibe, que detém 50% de participação no Brasinfa. Além da Cibe, a concessionária portuguesa Ascendi, que tem o Banco Espírito Santo (BES) por trás, detém 44% e a construtora Leão Leão os 6% restantes.

No caso da Odebrecht, que arrematou o lote da rodovia Dom Pedro I, o mais valioso do leilão (avaliado em R$ 3,7 bilhões), o financiamento foi feito pelo Santander. De acordo com Geraldo Villin Prado, diretor da construtora, foi firmado com o banco "um empréstimo ponte, provavelmente sindicalizado, em 18 meses". A previsão do executivo é que o mesmo seja substituído após o pagamento da outorga, com chances de participação do BNDES. "A nossa expectativa é de que o mercado esteja normalizado no período de 12 a 18 meses", acrescentou.

O lote da Odebrecht foi o que teve o menor deságio, 6,02%, e marcou o retorno da empresa às concessões de rodovias no Brasil. Anteriormente, a construtora era um dos acionistas da Companhia de Concessões Rodoviárias (CCR). A opção de ingressar apenas em dois lotes, o da Dom Pedro I e do trecho leste da Marechal Rondon, se deu por conta da dificuldade de recursos de terceiros. "Tivemos de fazer uma escolha em que pudéssemos focar recursos e nossa expertise. Optamos pela Dom Pedro I por ser a de maior porte", concluiu. No caso da Marechal Rondon, o lance foi um dos mais altos do leilão.

A construtora por pouco não competiu com a TPI pela lote. Esta última, retirou o lance pouco antes do leilão, pois saiu vitoriosa no corredor Ayrton Senna - Carvalho Pinto, com o maior deságio do dia, 54,9%. "Baixamos a tarifa com base nos estudos de tráfego", afirmou Carlo Botarelli, presidente da empresa. A pretensão da TPI é de conquistar usuários da Via Dutra.

Antes de levar a disputa pela Ayrton Senna, que contou com cinco consórcios interessados, a companhia não detinha nenhuma concessão em São Paulo. A outorga prevista pela rodovia é de R$ 594 milhões e os investimentos exigidos são de R$ 903 milhões. O empréstimo ponte inicial, avaliado em R$ 200 milhões foi feito pelo Banco Votorantim.

Outros bancos que participaram dos demais consórcios vitoriosos como financiadores foram o Banco do Brasil, Nossa Caixa (que garantiu 20% de todas as outorgas), Itaú BBA, Santander e os fundos de pensão Previ, Petros e Funcef. Além deles, BNDES, BID e CAF garantiram a realização do leilão.

Do total obtido nos leilões, R$ 8 bilhões serão investidos pelas concessionárias. Os R$ 3,5 bilhões restantes dizem respeito ao pagamento das outorgas ao governo de São Paulo.