Título: Real ganha novo status
Autor: Nunes, Vicente; Bancillon, Deco
Fonte: Correio Braziliense, 04/02/2010, Economia, p. 16

Dinheiro que circula no país começa a ser substituído por novas cédulas em abril. Notas antigas continuam valendo. Objetivo é combater falsificações e fortalecer o uso no exterior

Carlos Moura/CB/D.A Press Ministros anunciam a família de notas do real para circulação

O Banco Central gastará R$ 1,152 bilhão até 2012 (R$ 384 milhões por ano) para pôr em circulação a nova família de cédulas de real. A substituição, segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem como objetivo principal aumentar a segurança do dinheiro que circula pelo país, reduzindo as falsificações. A troca também permitirá que o real, hoje uma moeda forte, circule pelo mundo. O que, na avaliação do ministro, é reflexo da importância que o Brasil vem ganhando no contexto mundial. ¿A vida é assim. Se um país é forte, se a sua economia é forte, é natural que tenha uma moeda forte. Temos que nos preparar para que o real tenha curso pelo mundo, que possa ser usado fora do país¿, afirmou. As novas notas custarão 28% a mais do que as atuais.

A substituição das cédulas de real que estão em circulação será feita de forma gradual, à medida que o Banco Central for recolhendo as notas desgastadas pelo tempo. Em uma primeira etapa, explicou o presidente do BC, Henrique Meirelles, serão fabricadas e trocadas apenas as cédulas de R$ 50 e R$ 100, as mais falsificadas. A primeira fornada sairá da Casa da Moeda a partir de abril. Serão 200 milhões de notas de R$ 50 e 50 milhões de R$ 100 ¿ no total, há, atualmente, 1,6 bilhão dessas cédulas circulando pelo país. No primeiro semestre de 2011, será a vez de substituir as cédulas de R$ 10 e R$ 20. E, nos primeiros seis meses do ano seguinte, as notas de R$ 2 e de R$ 5. Não está prevista a fabricação de cédulas de R$ 1 pelo novo modelo. O BC optou pela produção de moedas nesse valor.

Meirelles fez questão de ressaltar que não há necessidade de a população correr aos bancos para trocar as atuais notas de real. ¿Durante um bom tempo, as duas famílias de notas vão circular normalmente pelo Brasil, sem nenhuma distinção¿, afirmou. Ele chamou a atenção ainda para o fato de, pela primeira vez na história, o país fazer uma troca de cédulas sem mudança no padrão monetário. Nos processos anteriores, devido ao descontrole inflacionário, o Brasil tinha que mudar o nome de sua moeda e cortar zeros. Agora, o que se vê é apenas um aperfeiçoamento no sistema de segurança.

¿Estamos acompanhando a revolução tecnológica que ocorreu em todo o mundo. Teremos cédulas compatíveis com um país que consolidou um processo de estabilização, mantém a inflação na meta, e está se internacionalizando. É natural, portanto, que o real se torne uma reserva de valor, que as pessoas passem a guardar parte do dinheiro em casa¿, disse o presidente do BC. Ele ressaltou, porém, que houve a preocupação do governo de tomar alguns cuidados para não criar confusão na população. Ou seja, não haverá grandes modificações na aparência das notas. As cores das cédulas continuarão as mesmas, assim como as figuras ilustrativas.

Tecnologia O que mudou foram os sistemas de segurança, para dificultar a falsificação, e as dimensões.

Cada nota terá um tamanho, como ocorre em 83% dos países do mundo, sendo que, quanto maior o valor, maior será a cédula. Essa diferenciação, justificou o diretor de Administração do BC, Anthero Meirelles, contempla uma reivindicação da Justiça para facilitar a vida de mais de 2,5 milhões de deficientes visuais. Haverá, ainda, um detalhe como se fosse um chip de cartão de débito. ¿Absorvemos a melhor tecnologia do mundo usada para a fabricação da nova família do dólar, do euro e do peso chileno.¿

Na avaliação do chefe do Meio Circulante do BC, João Sidney de Figueiredo Filho, com os novos instrumentos, a falsificação do real tenderá a cair, aproximando-se dos padrões mundiais. Segundo ele, o índice no país é de 143 notas falsificadas por lote de 1 milhão. Na Europa, a relação é de 53 cédulas por grupo de 1 milhão. Ele lembrou que, há dois anos, as notas apreendidas pelo BC e a Polícia Federal equivaliam a R$ 28 milhões. Em 2009, esse valor recuou para R$ 23 milhões.

Se um país é forte, se a sua economia é forte, é natural que tenha uma moeda forte ¿

Guido Mantega, ministro da Fazenda

Por que e como as cédulas vão mudar

O real consolidou-se como uma moeda forte, o que tem estimulado as falsificações, inclusive no exterior. O Banco Central acredita que, com o avanço das tecnologias digitais, é necessário dotar as cédulas de mecanismos de segurança mais modernos.

As novas notas só entrarão em circulação a partir de abril deste ano. O primeiro lote será apenas de cédulas de R$ 50 e de R$ 100, as mais falsificadas. As de R$ 10 e R$ 20 só serão liberadas no primeiro semestre do ano que vem e as de R$ 2 e R$ 5, no primeiro semestre de 2012.

As cédulas antigas continuarão circulando normalmente. Portanto, não há motivo para uma corrida aos bancos para efetuar a troca das notas. A substituição será feita normalmente pelo BC ao longo de anos, ao retirar as cédulas desgastadas pelo tempo.

As notas novas poderão ser sacadas normalmente nos caixas eletrônicos. Os bancos informam que, mesmo com as cédulas tendo tamanhos diferentes, de acordo com o valor, as máquinas estão preparadas para atender os saques.

O BC informa que, por enquanto, não está prevista a produção de notas de R$ 1 pelo novo modelo. Na verdade, há tempos a Casa da Moeda deixou de fabricar cédulas nesse valor, optando por moedas, por serem mais baratas.

Os novos tamanhos

As futuras cédulas terão tamanhos diferenciados e marcas de identificação em relevo pronunciadas para facilitar a vida de mais de 2,5 milhões de deficientes visuais. Quanto menor o valor, menor a nota, seguindo o modelo usado pelo euro. Veja as medidas exatas:

2 reais ¿ 12,1cm x 6,5cm; 20 reais ¿ 14,2cm x 6,5cm;

5 reais ¿ 12,8cm x 6,5cm; 50 reais ¿ 14,9cm x 7,0cm;

10 reais ¿ 13,5cm x 6,5cm; 100 reais ¿ 15,6cm x 7,0cm.

Caixas preparados

Os caixas eletrônicos estão preparados para distribuir as novas cédulas de real que começarão a entrar em circulação a partir de abril. Segundo o diretor de Administração do Banco Central, Anthero Meirelles, as instituições financeiras foram consultadas previamente sobre as mudanças nas notas e garantiram que serão necessários apenas alguns ajustes nos cassetes, isto é, a gaveta onde fica o dinheiro. ¿Os caixas eletrônicos são vitais, pois respondem por 70% das cédulas que chegam às mãos da população. Quando se fala apenas de notas de R$ 50 e de R$ 100, o abastecimento chega a quase 90%¿, afirmou.

Ele destacou que as alterações feitas nas cédulas protegerão, sobretudo, as pessoas de menor poder aquisitivo, pois, para quem ganha um salário mínimo, de R$ 510, pegar uma nota falsa de R$ 50 é uma perda enorme. ¿Não podemos esquecer que 70% dos pagamentos no país são feitos em dinheiro e mais de 50% dos trabalhadores recebem seus salários em dinheiro. Isso, apesar de toda a evolução dos meios eletrônicos de pagamento¿, frisou. ¿Por isso, o país merece ter um dinheiro mais seguro¿, acrescentou o chefe do Meio Circulante do BC, João Sidney de Figueiredo Filho.(VN e DB)