Título: Siderúrgicas estão pessimistas para 2009
Autor: Ribeiro , Ivo
Fonte: Valor Econômico, 30/10/2008, Empresas, p. B8

A festa que durou quase cinco anos para a siderurgia mundial acabou em setembro. No Brasil, 6 de outubro, quando a Bovespa acionou pela primeira vez o "circuit breaker", é apontado como o início do fim. A ressaca foi muito bem retratada ontem numa pesquisa realizada com os participantes do setor presentes em Cancún, no evento anual dos produtores de aço latino-americanos. Para mais de 80%, sinais de recuperação do mercado de aço só no segundo semestre de 2009. Metade desse percentual é ainda mais pessimista: enxerga algo de positivo no horizonte somente de 2010 em diante.

O levantamento realizado por Daniel Novegil, presidente da Ternium, divisão siderúrgica do grupo Techint, mostrou bem o estado de desânimo de executivos das usinas, de consumidores de aço e de fornecedores de insumos, equipamentos e serviços presentes no balneário turístico mexicano. Alguns presidentes de usinas do Brasil cancelaram a presença na última hora, casos de André Gerdau e de Marco Antônio Castello Branco (Usiminas). Ao final, Novegil não quis emitir sua opinião e da Ternium sobre o sentimento que captou com quase 200 pessoas.

Para 36% dos consultados, a drástica queda de preços que se verifica de setembro para cá somente irá mostrar reversão no segundo semestre do próximo ano. Outros 26% não vêem mudança da tendência de baixa antes de 2010. Já 32% acreditam que os preços possam melhorar ainda no primeiro semestre de 2009. Todavia, 90% não vislumbram nenhuma chance de volta dos níveis de preços que eram praticados no início deste semestre até 2010. Ou seja, as margens vão ficar mais apertadas. Talvez, por isso, 77% disseram que os preços das principais matérias-primas (minério de ferro e carvão) vão baixar. Mas para 15%, os custos ainda podem ser mantidos.

O fator mais importante para estabelecer um piso no preço internacional do aço, na visão de 82%, são os cortes de produção que vêm sendo praticados pelos grandes fabricantes, como ArcelorMittal; Tatá Steel; as chinesas Baosteel, Shougang e Shandong; e a russa Severstal, aliados à recuperação da demanda e redução dos estoques de material nas usinas, clientes e nos distribuidores.

Diante de um cenário em que 72% dos executivos pesquisados vêem como principal ameaça às empresas do setor na América Latina a queda imediata de demanda por conta da crise nos principais mercados (automotivo, que começa a conceder férias coletivas e suspender produção, e indústria metal-metacânica) e a escassez de crédito às empresas, as siderúrgicas no Brasil iniciam uma onda de ajustes da produção à nova realidade da demanda.

Segundo apurou o Valor, em novembro e dezembro será adotado o seguinte lema: queimar estoques e fazer caixa. As empresas começam a sentir impacto do câmbio nas matérias-primas importadas, como carvão, que vem 100% do exterior. A ArcelorMittal não vai se limitar a fazer corte de 20% a 30% na usina de Tubarão, em Serra (ES): deverá parar a unidade de Piracicaba (SP), de aços longos, durante dezembro, e cortar 15% da produção da usina de João Monlevade (MG). José Armando Campos, presidente da ArcelorBrasil, não quis comentar as informações. Ele argumentou que o grupo está em "período de silêncio" porque vai divulgar os resultados do terceiro trimestre na próxima semana.

A Usiminas, por meio da sua assessoria de imprensa, negou que irá parar a usina de Ipatinga (MG) por 20 dias em novembro. Informou que "haverá, em dezembro, ajustes na produção decorrentes de parada programada de dez dias do laminador de tiras a quente já prevista no planejamento de produção anual e que se dará em função de manutenção do equipamento, feita a cada dois anos". Para a Cosipa, diz, não está prevista redução de produção.

Entretanto, em 2009, conforme comunicado divulgado ontem com os resultados do terceiro trimestre, o presidente da Usiminas admite ajustes operacionais necessários à manutenção do equilíbrio entre oferta e demanda de seus produtos. O executivo prevê "um ritmo bem mais modesto para a expansão da demanda interna de aços planos" no próximo ano.

O grupo Gerdau, que tem operações em vários países da América Latina, além do Brasil, estaria em vias de adotar um ajuste de produção da ordem de 10% em suas usinas brasileiras. Procurada, a empresa declarou, por meio de sua assessoria de comunicação, que "essa informação não procede".