Título: Desempenho do PMDB abre disputa de 2010 no Pará
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 03/11/2008, Política, p. A7

Depois de anunciar neutralidade no segundo turno das eleições municipais de Belém, a governadora do Pará, Ana Júlia Carepa (PT), terá que optar por um aliado político se não quiser ser atropelada nas eleições de 2010. Prefeito reeleito da capital paraense, o petebista Duciomar Costa jantou com Ana Júlia na quarta-feira. Ele busca convencê-la de que uma ampla aliança, sem o PMDB, pavimentaria um caminho mais seguro para ela daqui a dois anos. Principal fiador da vitória da petista em 2006, o PMDB ganhou nos principais colégios eleitorais paraenses e seus dirigentes acreditam que 2010 depende deles, seja com candidatura própria, seja para apoiar algum nome. Sérgio Zacchi/Valor

Jader: "Somos cavalos de corrida sem juízo para deixar a pista. Entramos na política por pressão dos amigos"

O PMDB elegeu candidatos próprios ou compôs chapas vitoriosas em Ananindeua, onde foi reeleito Hélder Barbalho, e Santarém, onde o partido indicou o vice da petista Maria do Carmo. A grande surpresa, contudo, foi a ida de José Priante para o segundo turno em Belém.

Nem mesmo nos mais otimistas prognósticos pemedebistas, a capital paraense era incluída como politicamente viável. Priante não foi eleito, mas obteve quase 300 mil votos - Duciomar reelegeu-se com 436 mil. Principal liderança do PMDB no Pará, o deputado Jader Barbalho disse ao Valor que nem sempre perder uma eleição significa uma derrota. Um bom número de votos em um município que não era reduto eleitoral favorável representa aumento de capital político. "Todos diziam que o segundo turno seria entre Duciomar Costa e Valéria Franco (DEM). Na reta final, o PT de Mário Cardoso colocou sua militância na rua. Já nos sentimos vitoriosos", disse Jader.

O deputado tem ainda mais motivos para comemorar, se considerar que outros grupos políticos tradicionais não obtiveram êxito nas eleições municipais. Caso do carlismo na Bahia e do sarneyzismo no Maranhão. "Somos cavalos de corrida sem juízo para deixar a pista. Entramos na política por pressão dos amigos. Não saímos porque os inimigos não deixam", brincou.

Recuperado da crise que o obrigou a renunciar à presidência do Senado em 2001, Jader lembra que, diferentemente de outros Estados onde a força política é concentrada na capital, no Pará, 75% dos eleitores estão no interior. "Elegemos 40 prefeitos. Uma semana em política é uma eternidade, mas 2010 passa por nós. Para onde o PMDB caminhar, aí estará o rumo da eleição", diz o deputado.

Ciente do peso do PMDB, o PTB correu para Ana Júlia assim que foi confirmada a vitória de Duciomar. O prefeito reeleito adota um discurso evasivo. "Eu não faço parte de nenhum grupo, posso me dar ao luxo de dialogar com todos os segmentos da política paraense e nacional. Agora é hora de pensar Belém", afirmou Duciomar.

Mas, juntamente com o presidente do Serviço de Água e Esgoto de Belém, Raul Meireles - coordenador político de sua gestão e ex-vereador petista, atualmente no PR -, Duciomar espera que o PMDB perca força no Estado. "A nossa vitória em Belém foi importante. Se o PMDB vence também na capital paraense, Jader desiste de ser senador e concorre, ele próprio, ao governo do estado em 2010", diz Meireles.

No jantar, os petebistas pediram apoio da governadora Ana Júlia na eleição da Mesa da Câmara Municipal de Belém - lá, o PT tem quatro vereadores que poderão funcionar como fiéis da balança para eleger um aliado de Duciomar. E sinalizaram retribuição na Assembléia Legislativa, contribuindo para a vitória de alguém afinado com a governadora. "Já exercemos esse papel em 2007, evitando que a Assembléia ficasse nas mãos de um tucano", recorda Meireles, que é , próximo de Ana Júlia. Solicitaram também uma presença mais intensa do governo estadual na capital paraense. Apontaram como ótima oportunidade de dobradinha o chamado "Portal da Amazônia", uma grande obra de aterramento às margens do Rio Guamá. "Construiremos essa ligação política no dia-a-dia e chegaremos juntos em 2010", apostou o diretor.

Os petebistas vão mostrar à governadora que uma eventual coligação PT-PTB-PR e PDT controlaria 66 prefeituras, um número que poderá chegar a 72, caso o PP seja incluído nesse leque de alianças.

"Poderíamos dar muito mais tranqüilidade à governadora para ela decidir seu futuro", diz Meireles. Os petebistas comemoraram intensamente a neutralidade de Ana Júlia no segundo turno das eleições, apesar de o PT ter declarado apoio a José Priante. Dessa maneira, segundo eles, a máquina estadual ficou impedida de agir em favor do candidato do PMDB.

Essa independência poderá, contudo, custar caro à governadora: mesmo sendo o quadro político mais visível, ela não domina a legenda no Estado, o que deixa incerto seu projeto de reeleição. Na visão dos petebistas, reside aí um dos principais argumentos para ela buscar apoio em um novo grupo político, mas eles não dão certeza se ela será ou não candidata natural daqui a dois anos.

Secretamente, celebram outra ação da petista: dez dias antes do segundo turno, ela liberou os recursos das duas últimas parcelas das obras de asfaltamento das ruas de Belém, totalizando R$ 6,8 milhões. "No primeiro turno, esse foi um dos principais motes de nossa campanha. Mostramos que pavimentamos 4,3 mil ruas. Com esse reforço no orçamento, poderemos pavimentar muito mais", confidenciou um aliado do prefeito.