Título: Vale enfrenta cenário crítico de demanda
Autor: Durão , Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 03/11/2008, Empresas, p. B8

Os cortes de produção anunciados pela Vale do Rio Doce na sexta-feira, com destaque para redução de 30 milhões de toneladas na produção de minério de ferro, foram lidos pelo mercado com dois enfoques diferentes: um ruim e um bom. No primeiro caso, ruim porque a companhia vai produzir menos, faturar menos e ter lucro menor em 2009. Por outro lado, o ajuste numa conjuntura recessiva onde as siderúrgicas estão retraindo fortemente a produção, é correto como estratégia de mercado para segurar o preço do produto, que ameaça desabar no próximo ano.

Para o UBS, em relatório divulgado no fim de semana, 2009 será um dos mais difíceis para a economia mundial e, em particular, para as commodities. O time de economistas do banco suíço reviu a projeção da taxa de crescimento da economia global de 2,2% para 1,3%, a menor desde 1982. O novo PIB mundial aponta para uma recessão global mais profunda e de recuperação lenta. As novas estimativas indicam uma queda de 0,5% na economia dos países desenvolvidos e crescimento de 3,6% nos emergentes. A maior taxa negativa de 0,9% será registrada na zona do Euro. Os Estados Unidos vão fechar o ano com um PIB de menos 0,6%. A China deve crescer 7,5% e o Japão, 0,1%.

O UBS prevê um cenário de "hecatombe" para o mercado de commodities dada a rapidez e a severidade da desaceleração do crescimento global no curto prazo e da aversão ao risco da parte dos investidores. A tendência de queda dos preços dos produtos nos próximos trimestres é relativamente alta, aponta o relatório. Na média, as novas previsões do UBS para os preços das commodities estão 37% abaixo de suas estimativas anteriores e 40% abaixo do consenso de mercado. O banco estima uma média de preço de US$ 60 para o barril de petróleo e de US$ 1,30 por libra ou US$ 2.860 por tonelada para o cobre. A cotação esperada para o níquel é de US$ 4 por libra peso ou US$ 8.800 a tonelada. Para o minério de ferro o banco reviu sua projeção de menos 15% para menos 40% no preço que servirá de referência aos contratos de longo prazo.

A Vale não demonstra uma visão tão pessimista, mas não surpreendeu os analistas ao tomar medidas de corte de produção que já tinham sido sinalizadas na entrevista do seu presidente, Roger Agnelli, quando divulgou o resultado do terceiro trimestre. Pedro Galdi, da SLW Corretora disse que a medida já era esperada. "As economias estão muito fragilizadas e a China já deu sinais de redução de atividade e está com estoques elevados de 75 milhões de toneladas de minério de ferro nos portos".

O ajuste da Vale, segundo ele, vai impactar o balanço no quarto trimestre e mais fortemente incidirá sobre o resultado do primeiro trimestre de 2009, que poderá ser muito fraco. Galdi acredita que a partir deste mês, os chineses deverão suspender totalmente suas compras de minério da Vale devida à queda-de-braço sobre a alta residual de 12% que a mineradora está cobrando deles. Até setembro, a China importou 74,8 milhões de toneladas de minério e pelotas, ou 31,2% de todo minério vendido pela Vale em nove meses. A previsão de exportar 100 milhões de toneladas no ano para o país fica, portanto, abortada.