Título: Juro bancário dispara em outubro
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Fonte: Valor Econômico, 03/11/2008, Finanças, p. C1

As taxas de juros do crédito de curto prazo para empresas disparam no mês de outubro. Com o agravamento da crise, os grandes bancos brasileiros se retraíram e elevaram os spreads em até dois pontos percentuais para as grandes companhias. As pequenas e médias enfrentam taxas até duas vezes maiores em relação aos meses anteriores, segundo empresas e bancos ouvidos pelo Valor nos últimos dias.

Até meados de agosto, grandes corporações, com faturamento superior a R$ 300 milhões anuais, tomavam empréstimos para sustentar o giro das operações com custo alguns décimos acima da Selic, algo entre 0,5% e 1% acima do CDI. Na nova condição do mercado, essas mesmas companhias pagam no mínimo CDI mais 1,5%. Em alguns casos, o spread (diferença entre o custo de captação e a taxa efetivamente cobrada dos clientes) subiu para 4%, equivalente a 1,5% ao mês.

Já as médias, com receitas de até R$ 100 milhões por ano, que se financiam a taxas prefixadas, estão pagando juro a partir de 3% ao mês para linhas de giro, mais de 40% ao ano. Antes, esses mesmos clientes conseguiam taxas próximas a 1,6% ao mês (20% ao ano).

Além do custo elevado, os bancos só têm renovado as operações já existentes, praticamente não há novas concessões. Preocupados em resguardar a liquidez, as instituições preferem manter os recursos em caixa, girando apenas o necessário para atender os atuais clientes.

Mesmo essas rolagens têm saído com volumes reduzidos e com a exigência de mais garantias. Em teoria, essa condição seria muito boa para os bancos: spreads elevados, maior volume de garantias, prazos reduzidos e concorrência menor. Ainda assim preferem ficar retraídos.

Retomar o crédito é o grande desafio, avalia Maércio Soncini, vice-presidente de negócios de atacado do Banco Fibra. Segundo ele, as compras de carteiras têm solucionado o problema de liquidez, mas não necessariamente garantindo a oferta de crédito.

O problema é que a crise de liquidez acertou em cheio a liquidez dos bancos de médio porte, responsáveis por boa parte dos recursos para o "middle market". Como acontece em momentos de incerteza, houve uma migração das captações dos pequenos para os grandes, chamado de "fly to quality". Os pequenos ficaram sem funding e forçados a pagar até 135% do CDI no interbancário e até 150% na venda de carteiras. Por outro lado, mesmo com recursos em abundância, os grandes bancos também se retraíram e não ocuparam esta lacuna deixada pelos médios.

Segundo Soncini, as primeiras medidas para fomentar o crédito começaram na última semana. Ele citou a capitalização do Fundo Garantidor de Crédito e do BNDES, as linhas de capital de giro para construtoras e os leilões de linhas externas prometidos pelo Banco Central. A mais importante, no entanto, foi a mudança na remuneração do compulsório dos depósitos a prazo. "Foi uma medida bastante forte. Deve provocar um aumento da compra de carteiras e levar os bancos a operar mais".

Outra conseqüência positiva deve ser a diminuição do apetite dos grandes bancos pelos Certificados de Depósitos Bancários (CDB), já que o custo de carregamento de depósitos a prazo subiu, resultando até mesmo em uma queda dos preços. "Os bancos médios poderão ser mais alimentados pelos aplicadores".

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, comentou na quinta-feira em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado que já diminuiu a retração no crédito bancário verificada em outubro. No início do mês, as concessões médias diárias dos bancos apontavam uma queda de 18% em relação a setembro. Segundo ele, "houve uma melhora" e outubro deve fechar com recuo de 5% perante o mês anterior - os dados até setembro já apontavam uma desaceleração das concessões para as pequenas e médias empresas (ver gráfico).

De fato, na última semana houve um pequeno movimento de melhora dos empréstimos, mas boa parte disso se deve a um posicionamento defensivo dos próprios bancos, explica Eduardo Athayde, diretor-executivo do Banco Prosper. "É preciso fornecer algum oxigênio para as empresas para que elas não quebrem e comprometam o pagamento das dívidas existentes".

Segundo ele, empresas do setor de "middle market" são muito dependentes de recursos, especialmente nesta época, com pagamento de décimo-terceiro salário e de compra de estoques para o fim de ano. "O nível de endividamento cresce bastante, mas hoje os bancos que fomentavam, que são bancos médios, não têm funding".

A sensação agora é que aos poucos os empréstimos devem voltar, especialmente entre as maiores companhias. Grandes bancos já trabalham com cerca de 20 a 30% da capacidade de crédito, estima Athayde, mas as pequenas empresas ainda estão desatendidas. "Já estamos tentando nos mexer, procurando parceiros para captação e trabalhando com o pensamento no início de 2009, ou antes". Também é esperado um movimento de consolidação bancária e de retorno aos nichos.