Título: Montadoras organizam-se para receber ajuda do BB e da CEF
Autor: Olmos , Marli
Fonte: Valor Econômico, 03/11/2008, Finanças, p. C2

Os presidentes das montadoras se reúnem hoje, em São Paulo, para organizar a rede de concessionários para receber a ajuda de crédito do governo federal acertada na sexta-feira com o ministro Guido Mantega e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Marisa Cauduro/Valor

Schneider, da Anfavea: "Financiamento viabiliza até 70% das vendas do setor"

É bem provável que o consumidor comece a ver nas revendedoras de carros representantes e propaganda do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal. O BB já tem certa familiaridade com o financiamento de veículos. Mas, para a CEF, instituição habituada a participar da venda de imóveis, será uma novidade.

Se as duas instituições e mais a Nossa Caixa, do governo paulista, que também deve ajudar na empreitada, segundo anunciou o governador José Serra (PSDB), tomarem gosto é possível que o comércio de carros, sempre cobiçado pelos grandes bancos, passe a fazer parte das suas carteiras de forma mais contundente.

Na reunião que as montadoras tiveram com Mantega e Meirelles foram acertadas três frentes de atuação. Por um lado, BB e CEF podem comprar as carteiras dos bancos que trabalham com montadoras. No caso, essa ação estaria mais voltada aos bancos menores. Outra possibilidade é que os bancos estaduais repassem recursos aos bancos de montadoras. A terceira hipótese é o BB e a CEF serem os próprios agentes do financiamento dos automóveis.

Para o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Jackson Schneider, o mais provável é que essas instituições repassem recursos para os bancos familiarizados com o financiamento de veículos. A liberação de recursos é uma questão chave hoje para um setor onde o financiamento representa entre 60% e 70% das vendas. Com mais dinheiro, as financeiras das montadoras poderiam reduzir o valor da entrada.

Antes da crise, o consumidor conseguia financiar um carro até sem entrada, ou com 10% a 20% como parcela inicial. Hoje as prestações de até 60 meses só estão sendo liberadas com uma entrada em torno de 50%. Foi isso que brecou o comércio de carros no país nos últimos dias de outubro, levando Schneider a pedir ajuda ao governo.

No início da semana, o presidente da Anfavea já tinha discutido o assunto com Mantega. Depois disso, os presidentes das montadoras aproveitaram a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na abertura do salão do automóvel, em São Paulo, para voltar a tratar do assunto. Em seus discursos de abertura do salão, Lula, Serra e o ministro da Indústria, Miguel Jorge, que já trabalhou na Volkswagen, prometeram ajuda.

A reunião com Mantega e Meirelles na sexta-feira teve também a participação da indústria de caminhões. Apesar de 70% dos negócios com caminhões serem feito por meio do Finame, linha de crédito do BNDES, o CDC e leasing respondem pelos 30% restantes.

O lobby do setor costuma ter um efeito imediato nessas ocasiões porque os prejuízos à atividade e aos trabalhadores aparecem de forma rápida. Como trabalham em ritmo de linha de montagem e sem estoques de peças, as fábricas de automóveis subitamente interrompem compras de componentes e são paralisadas ao menor sinal de aumento de volume de carros nos pátios da indústria ou das concessionárias.

Na duas últimas semanas diversas montadoras anunciaram férias coletivas entre outubro e novembro. No dia da reunião da Anfavea com Mantega e Meirelles, a General Motors, uma das maiores do setor e a que tradicionalmente expõe os seus problemas ao governo com rapidez, anunciou que as quatro fábricas do país vão parar por uns dias para adequar o nível dos estoques.

A escassez de crédito desequilibrou as vendas. Até o dia 30, um dia antes de o mês terminar, o volume de vendas de outubro ficou 19% abaixo de setembro. Até o dia 30 de outubro foram 22 dias úteis, exatamente o mesmo número de dias úteis de setembro e também igual ao número de dias úteis de outubro de 2007. Do dia 1º a 30 de outubro foram vendidos 225.806 veículos. O número total do mês será conhecido hoje. Na sexta, a indústria previa fechar outubro com 236 mil unidades. Em setembro foram 268,7 mil e em outubro do ano passado, 244,4 mil.