Título: Gastos com pesquisa e desenvolvimento vão atingir até 0,65% do PIB em 2010
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Fonte: Valor Econômico, 03/11/2008, Especial, p. F5

A inovação tecnológica, processo de transformação do conhecimento em valor para os negócios das empresas, figura como um dos principais tópicos da agenda do Brasil que visa aumentar o nível de competitividade da indústria brasileira no cenário internacional. Ações nesse sentido estão sendo colocadas em prática nos últimos anos a partir da montagem de um arcabouço institucional que estabelece metas agressivas no curto prazo, entre as quais a de aumentar os gastos em pesquisa e desenvolvimento dos atuais 0,51% para 0,65% do PIB em 2010.

Do arcabouço institucional fazem parte, por exemplo, a Lei de Inovação, aprovada no final de 2004, a Lei do Bem, e a Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), instituída este ano para estimular os investimentos em inovação tecnológica. Dados da Agência Brasileira de Desenvolvimento Institucional (ABDI), vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), indicam que em 2006 o setor privado aplicou R$ 11,9 bilhões em pesquisa e desenvolvimento. A intenção é aumentar esse volume para R$ 18,2 bilhões em dois anos, o correspondente a 0,65% do PIB.

Para Rogério Araújo, economista da ABDI, trata-se de uma meta que pode ser alcançada porque a Formação Bruta de Capital Fixo - que o IBGE apura a cada três meses para saber quanto as empresas aumentaram os seus bens de capital - vem crescendo acima do PIB há vários trimestres consecutivos. "O trabalho exigirá uma ação coordenada entre o governo e o setor privado", avalia. Entretanto, os desafios aumentam diante desse cenário de incertezas gerado com a crise econômica mundial, que se contrapõe ao momento até então favorável, de expansão do consumo e aumento da produção.

No Brasil, apenas 32,8 mil empresas fizeram a inovação tecnológica em produtos ou processo. Embora o país esteja bem posicionado em relação aos vizinhos da América Latina, está muito aquém no nível apresentado pelos países desenvolvidos, observa Paulo Mol, gerente de estudos e políticas industriais da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Paulo Mol defende um alinhamento das diretrizes de inovação tecnológica, ainda muito concentrada nas universidades e centros de pesquisas, às necessidades e planejamento estratégico das empresas, as quais, segundo ele, devem estar no centro desse processo. Outro desafio é o enfrentamento de limitações históricas do Brasil, como estrutura regulatória complexa, burocracia, insegurança jurídica, carga tributária, entre outras. "As empresas querem inovar, mas encontram muitos empecilhos para a interação com as universidades. A regulamentação sobre o uso dos laboratórios públicos não está muito clara", aponta.

Por outro lado, diz Mol, embora a Lei do Bem preveja dedução de IR para as empresas que aplicam recursos na inovação tecnológica, poucas usam esse benefício por insegurança jurídica. Segundo ele, não há jurisprudência clara sobre como a Receita Federal interpreta inovação tecnológica e as empresas temem ser contestadas.

Para a CNI a inovação tecnológica é o novo tabuleiro que tem que ser armado no jogo internacional da competitividade, do qual o Brasil não pode ficar de fora. Por isso, a entidade programou de uma série de eventos este ano e no primeiro semestre de 2009 com o objetivo de conscientizar os empresários da importância de se investir em inovação e criar um movimento de mobilização de lideranças empresariais difundir em nível nacional a agenda da inovação tecnológica.

Um das vias de inovação bem-sucedidas é o de incubadoras e parques tecnológicos, que se multiplicam a partir da aglutinação em um espaço físico de empresas nascentes com vocação tecnológica. O Brasil tem hoje cerca de 400 incubadoras e 55 projetos de parques tecnológicos, dos quais dez estão em operação. O objetivo é criar 5.400 empresas incubadas até 2012, diz Ari Plonski, presidente da Anprotec (Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores).

No Cietec, localizado no campus da Universidade de São Paulo, estão incubadas 127 empresas que desenvolvem projetos de TI, farmacêutico, mecânica, química e meio-ambiente, faturam R$ 300 milhões e geram 1 mil postos de trabalhos. "Desde 2005, os impostos pagos por essas empresas durante o período de incubação (de três anos) superaram em 6 vezes os recursos para custeio bancados pelo governo através do Sebrae/SP", revela Cláudio Rodrigues, presidente do Ciatec.

Outro modelo de sucesso é o Porto Digital. Localizado no Recife, (PE) reúne empresas nacionais e gigantes mundiais especializadas em software de padrão internacional. Com faturamento de R$ 450 milhões, registrado no ano passado, empregam 4 mil funcionários. A meta, diz Francisco Saboya, diretor-presidente, é atrair mais empresas e aumentar para 20 mil o quadro de pessoal. A chegada de cinco multinacionais em 2009 vai criar mil novas vagas.

O conceito de inovação tecnológica é abrangente. Pode representar a incorporação de um produto ou processo inovador para o mercado ou somente para a própria empresa. A Indústrias Schneider, fabricante de bombas e motobombas centrífugas, de Joinville, que recentemente foi adquirida pela Franklin Electric, por exemplo, substituiu o sistema de CAD bidimensional pelo software 3D, da SolidWorks, e reduziu pela metade o tempo de modelagem e usinagem de peças utilizadas em produtos hidráulicos.

Software de CAD trididimensional não é exatamente uma novidade no mercado. Mas de acordo com Oscar Siqueira, gerente geral da SolidWorks é adotado por poucas empresas no Brasil. (I.C.)