Título: Monteiro defende reformas para redução de custos
Autor: Antunes , Zanoni
Fonte: Valor Econômico, 03/11/2008, Especial, p. F12

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro, defende a retomada das discussões sobre as reformas institucionais como estratégia para o país enfrentar o cenário de crise que se abate sobre a economia mundial. Entre as medidas que Monteiro considera necessárias está a conclusão do projeto de reforma tributária em discussão no Congresso Nacional. Na opinião do presidente da CNI, o Brasil negligenciou a sua economia ao não levar adiante as reformas. "Taxas mais elevadas de crescimento indicavam a necessidade da continuidade de reformas institucionais e microeconômicas capazes de aumentar a solidez da economia", observa Monteiro. Ruy Baron/ Valor Monteiro Neto: "Precisamos multiplicar nossa energia para criar as condições para ultrapassar esse momento"

O grande desafio que se coloca para a economia brasileira, segundo o dirigente da CNI, é o de fortalecer a economia, mesmo em um momento de crise financeira internacional, e evitar retrocessos para o desenvolvimento. "O Brasil, antes da crise, oferecia cenários promissores e muitas dessas oportunidades permanecem. Precisamos multiplicar a nossa energia em direção à criação das condições para o país ultrapassar esse momento". Veja a seguir os principais trechos de entrevista concedida por Monteiro, que comandou o terceiro Encontro Nacional da Industria, realizado em Brasília na semana passada.

Valor: Qual é o contexto que a indústria brasileira enfrenta ao realizar seu terceiro encontro nacional?

Armando Monteiro Neto: O terceiro Enai se realiza no contexto dramático da economia mundial. Uma crise de proporções comparadas às de 1930. No primeiro encontro tínhamos como desafio a superação do baixo crescimento. No segundo, o tema foi a sustentabilidade do crescimento. Taxas mais elevadas indicavam a necessidade da continuidade de reformas institucionais e microeconômicas capazes de aumentar a solidez da economia. Neste Enai, o desafio é fortalecer a economia brasileira, minimizar os impactos da crise financeira internacional e evitar retrocessos no perfil de instituições políticas essenciais para o desenvolvimento em bases mais sustentáveis. O Brasil, antes da crise financeira internacional, oferecia cenários promissores. Muitas dessas oportunidades permanecem. Precisamos multiplicar a nossa energia em direção à criação das condições para o Brasil ultrapassar este momento.

Valor: A indústria brasileira está preparada para a crise? O que se espera no curto e no médio prazos?

Monteiro Neto: A economia vinha bem, vem bem e terá um crescimento ainda robusto este ano, mas neste momento se discute como a indústria brasileira vai se adaptar a essa nova conjuntura internacional, marcada por uma crise. Uma crise de dimensões que não podem ser subestimadas. A indústria brasileira está saudável, teve ganho de produtividade, portanto tem condições de enfrentar essa turbulência, essa grande turbulência. Mas, evidentemente, neste momento há uma preocupação. Certamente em 2009 haverá um crescimento menor da indústria brasileira.

Valor: É possível fazer uma previsão do desempenho?

Monteiro Neto: É difícil prever de forma numérica, de forma segura, mas posso dizer que vamos ter um crescimento bem menor do que este ano. Eu estimo que ainda seja possível pensar num crescimento entre 2,5% e 3%.

Valor: Qual é a importância de um evento como o Encontro Nacional da Indústria (Enai)?

Monteiro Neto: É um encontro em que a indústria reúne toda a sua base, os mil sindicatos que estão vinculados à base, as associações nacionais setoriais da indústria, as mais importantes do Brasil que, melhor definindo, vão construindo uma visão convergente da nossa agenda. A nossa capacidade de enfrentar esse cenário depende da evolução da economia internacional e das nossas próprias ações. O desafio é criar melhores condições para a operação das empresas e para o investimento permanente. Essa é a razão principal da existência das organizações empresariais.

Valor: Qual é essa agenda?

Monteiro Neto: Nós estamos tendo a oportunidade de debater temas conjunturais que são de interesse da indústria, mas sem perder de vista a necessidade de perseverarmos numa agenda mais estruturante para o país. O que fica claro em todos os momentos é que o Brasil negligenciou aquela agenda de reformas estruturais tão importantes para o país. O Brasil surfou nessa onda muito favorável que tivemos no cenário internacional e não fez, por assim dizer, o dever de casa em relação à agenda de reformas.

Valor: Quais são as implicações dessa abordagem?

Monteiro Neto: A grande lição disso é voltarmos agora para a nossa agenda mais estruturante, porque só com essas reformas o Brasil poderá se fortalecer verdadeiramente para enfrentar essas crises, a de hoje e as futuras. O Brasil, certamente, tem melhores condições para fazer a travessia da crise do que no passado. Mas, o país não está pronto, não tem avançado o quanto deveria. Por isso é importante nossa ação por reformas que reduzam os custos da economia. Essa agenda é especialmente relevante na área da infra-estrutura. O mundo mudou nas últimas semanas. Neste momento se impõe um rearranjo da política macroeconômica. É preciso retomar a agenda de caráter reestruturante. Todas essas ações passam pelo Congresso, como a reforma tributária e a definição dos marcos regulatórios.