Título: Investidores têm dúvidas sobre o acordo
Autor: Valenti , Graziella ; Fregoni , Silvia
Fonte: Valor Econômico, 04/11/2008, Finanças, p. C7

A criação do maior banco nacional ainda está cercada de dúvidas para os investidores. A começar pelo nome da transação. O negócio, chamado de fusão por ambas as instituições, tem a clara dominância do Itaú, que ficará, direta e indiretamente, com 35% do capital do total do negócio. Já os Moreira Salles, donos do Unibanco, terão cerca de 9% do banco resultante. A criação do Itaú Unibanco Holding será o resultado da incorporação das ações do Unibanco pelo Itaú.

Para absorver o Unibanco, o Itaú emitirá 1,1 milhão de ações - entre ordinárias (ON, com direito a voto) e preferenciais (PN, sem voto). Pelo valor de mercado de sexta-feira da instituição, a emissão equivale a R$ 25,6 bilhões, de acordo com cálculos do analista Juan Partida, do UBS Pactual. O Unibanco equivalerá a cerca de 27% do negócio combinado. "Embora anunciado com fusão de iguais, a impressão que fica é a de que o Itaú comprou o Unibanco", escreveu o analista Victor Martins, do Safra.

O economista João Augusto Salles, da Lopes Filho, concorda. Segundo ele, tecnicamente a operação é uma fusão, pois há o desaparecimento de duas instituições (Itaú Holding e Unibanco) para o surgimento de outra (Itaú Unibanco Holding). "Entretanto, a relação de troca das ações mostra que, na realidade, o Itaú está adquirindo o Unibanco", diz.

O modelo societário da transação entre os bancos é velho conhecido dos investidores do mercado brasileiro. As ações ordinárias do Unibanco serão absorvidas com elevado prêmio, enquanto as preferenciais terão tratamento inferior. Segundo Partida, do UBS Pactual, o prêmio implícito para os detentores de ações ordinárias do Unibanco foi de 195%, enquanto o das preferenciais foi de apenas 3%.

Apesar do tratamento discrepante para as espécies de ações, a receptividade dos investidores não foi das piores. Outras operações com modelo semelhante receberam críticas ácidas dos acionistas. Nesse caso, o comentário geral é que a cultura do Unibanco e as diversas negativas sobre estender aos minoritários preferencialistas o direito ao prêmio de controle - iniciativas adotas pelos concorrentes Itaú e Bradesco - já indicavam que esse seria o tratamento dispensado no caso de mudança de controle.

Entre as dúvidas dos investidores sobre a operação está qual será a fatia dos preferencialistas de Unibanco na instituição resultante do negócio. Também ficou pouco claro porque a Itaúsa elevará em 8,3% a quantidade de ações detidas no banco combinado.

Para Mônica Araújo, analista da Ativa Corretora, existem várias questões que os bancos ainda precisam esclarecer. Uma é se a operação resultará em benefício fiscal. Outra, segundo Mônica, refere-se a quantos dos seis membros do conselho de administração serão indicados por cada banco.

Enquanto o fato relevante do negócio diz que as conversas entre as instituições ocorriam há 15 meses, a sensação dos investidores foi bastante diferente. A leitura foi de que o acordo foi rapidamente fechado - motivo pelo qual, inclusive, não houve vazamento aparente das informações. A impressão era que o cenário para o Unibanco tendia a se deteriorar.