Título: Minas teme fim do tempo de bonança
Autor: Moreira , Ivana
Fonte: Valor Econômico, 05/11/2008, Brasil, p. A4

A indústria mineira vem comemorando, desde o início do ano, índices de crescimento acima da média nacional. Em setembro, conforme dados divulgados ontem, o cenário não foi diferente. O faturamento real das indústrias mineiras cresceu 21,02% na comparação entre setembro de 2008 e o mesmo mês do ano passado. A média de crescimento do faturamento da indústrias no Brasil ficou em 10,2%. Mas economistas e empresários começam a admitir que os tempos de bonança no Estado estão chegando ao fim.

Minas Gerais, cuja economia ainda é fortemente baseada nas indústrias de extração mineral e na siderurgia, deverá ser o Estado que sofrerá mais acentuadamente os efeitos da crise financeira global. "Minas Gerais vai sentir mais que os outros Estados, porque tem uma grande concentração nos setores que estão sendo mais afetados pela crise", aposta Lincoln Gonçalves Fernandes, presidente do Conselho de Política Econômica e Industrial da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg).

O crescimento dos indicadores da indústria mineira resultaram, em grande parte, do aquecimento de setores como mineração e siderurgia.

O aumento do faturamento das indústrias, por exemplo, foi reflexo direto do aumento dos preços de commodities como o minério de ferro. Com a crise financeira, mineradoras e siderúrgicas já detectaram retração na demanda, com adiamento de pedidos. "Por enquanto, não estamos sentindo", afirma Fernandes. "Isso ainda não apareceu nos indicadores, mas vai começar a aparecer a partir de outubro e, sobretudo, no próximo ano", diz ele.

Além da indústria extrativa mineral e da metalúrgica, o impacto da crise no segmento automotivo também deverá contribuir para o desaquecimento da economia mineira. A Fiat, maior montadora instalada no Estado, precisou parar a produção por três dias, em outubro, para baixar os estoques. O setor automobilístico também tem peso grande no Produto Interno Bruto (PIB) do Estado.

De acordo com os indicadores divulgados ontem pela Federação das Indústrias de Minas Gerais, o faturamento real das indústrias mineiras cresceu 18,62% entre janeiro e setembro deste ano na comparação com o mesmo período do ano passado. No Brasil, a média de crescimento foi menos da metade, de apenas 8%. O número de horas trabalhadas na indústria mineira cresceu 10,8% no acumulado do ano. Na indústria nacional, a média foi de 6,1%.