Título: Tesouro deve expandir plano de ajuda
Autor: Solomon , Deborah
Fonte: Valor Econômico, 05/11/2008, Finanças, p. C5

O Departamento do Tesouro dos Estados Unidos está estudando usar uma parcela maior de seu fundo de resgate de US$ 700 bilhões para comprar participações de uma gama variada de companhias financeiras, não apenas bancos e seguradoras, depois de sinais preliminares de sucesso do programa, segundo pessoas familiarizadas com o assunto. AP Photo / Gerald Herbert

O secretário do Tesouro, Henry Paulson, apresentou inicialmente um plano para comprar ativos de difícil negociação

Estão em foco empresas que fornecem crédito à economia de maneira geral, como seguradoras de dívida e firmas de financiamento especializado, como a divisão GE Capital da General Electric Co., a CIT Group Inc. e outras, disseram essas pessoas.

A possível expansão mostra como o plano de socorro do Tesouro já mudou desde que foi proposto inicialmente, em setembro. O secretário do Tesouro, Henry Paulson, apresentou originalmente um plano complexo para comprar ativos de difícil negociação das instituições financeiras, como títulos lastreados por hipotecas.

A proposta, alvo de críticas e atrasos operacionais, ainda tem de ganhar forma. Pessoas a par da questão dizem que o Tesouro pode abandonar parte daquele plano inicial - a compra de ativos por meio de um leilão - e em vez disso comprar alguns desses créditos podres diretamente.

Dos US$ 700 bilhões que foram disponibilizados ao Tesouro, as autoridades separaram US$ 250 bilhões para investimentos em ações. O departamento já investiu US$ 163 bilhões numa série de bancos, inclusive os maiores dos EUA, como Goldman Sachs Group Inc. e Bank of America Corp. Esse número deve aumentar às custas do programa de compra de ativos, mas exatamente em quanto não se sabe. "Estamos analisando muitas idéias para fortalecer o sistema financeiro e restaurar o crédito", disse Jennifer Zuccarelli, uma porta-voz do Tesouro. "Estamos avaliando idéias e não tomamos nenhuma decisão."

O planejamento do Tesouro pode ser complicado pelas eleições presidenciais de ontem. Antes da votação, Paulson já havia dito que quer envolver o próximo governo em decisões importantes que sejam tomadas de agora até a posse, em janeiro. Tanto o senador John McCain, que concorreu pelo Partido Republicano, quanto o senador Barack Obama, do Partido Democrata, votaram a favor do pacote de resgate de US$ 700 bilhões, mas é certo que um novo governo tenha suas próprias idéias sobre a melhor maneira de usar os US$ 450 bilhões remanescentes.

Paulson resistiu originalmente ao investimento direto em empresas e não queria pedir explicitamente ao Congresso o direito de comprar participações acionárias. Entre outras coisas, ele estava preocupado com a idéia de escolher ganhadores e perdedores e com as condições que os parlamentares poderiam querer impor. Ele argumentou que a maneira mais eficaz de aliviar a crise de crédito era comprar ativos problemáticos que estavam entupindo os livros das instituições financeiras e tornando-as relutantes a oferecer empréstimos.

Mas o programa de compra de participação acionária, que foi inserido no projeto de lei por parlamentares, parece estar ajudando a aliviar o aperto de crédito, especialmente os mercados de financiamento de curto prazo que foram duramente atingidos pela turbulência financeira do mês passado. Paulson começou a avaliar se o sistema financeiro poderia beneficiar-se de compras adicionais de participações acionárias.

Segundo dados da Associação de Banqueiros Britânicos, a Libor em dólar de três meses - taxa do interbancário de Londres que funciona como importante indicador da disposição dos bancos de emprestar uns aos outros - caiu ontem a 2,70625%, o nível mais baixo desde 9 de junho, ante 2,8575% de segunda-feira. A taxa chegou a um auge de 4,81875% em 10 de outubro. Outras taxas, como as de financiamentos imobiliários, são atreladas à Libor.

Uma expansão das injeções de capital teria como alvo firmas que exercem um papel na oferta de crédito. O plano original do Tesouro, de US$ 250 bilhões, foi voltado a bancos, que têm relutado em emprestar a empresas, pessoas físicas e entre si. Mas outras empresas financeiras sem carta patente de banco foram afetadas pelo aperto de crédito, o que exacerba o problema.

Empresas como a CIT, uma financeira, têm tido dificuldade para captar recursos para sustentar suas operações.

A potencial expansão traz à tona a possibilidade de que o governo americano acabe tendo uma participação maior do sistema financeiro do país do que pretendia inicialmente. As novas firmas que estão sendo consideradas para injeção de capital provavelmente obedeceriam a condições parecidas com as aplicadas aos bancos participantes, como restrições a dividendos e pacotes de rescisão de executivos.

Pode ser complicado estruturar uma expansão, considerando que muitas outras entidades, de agências de transporte público a montadoras de veículos, estão batendo à porta do Tesouro para inclusão no fundo de US$ 700 bilhões, chamado de Programa de Alívio a Ativos Problemáticos, ou Tarp. Entre as questões com que o Tesouro está tendo de lidar estão quanto dinheiro adicional investir e que empresas se qualificariam.

O Tesouro já está avaliando a expansão do pacote de socorro para injetar dinheiro em certas seguradoras e bancos de capital fechado. A Financial Services Roundtable, entidade do setor financeiro com sede em Washington, solicitou ao Tesouro que incluísse montadoras e outras. Até agora, as autoridades não têm se mostrado dispostas a assumir participações em fabricantes de automóveis.

Qualquer expansão deve motivar propostas de parlamentares para que sejam impostas mais condições. Membros do Congresso começaram a pressionar o Tesouro a forçar os bancos a emprestar o dinheiro que receberam, reclamando a Paulson que as instituições estão sentadas no dinheiro ou o usando para financiar aquisições e distribuir dividendos.

A proposta original do Tesouro de comprar créditos podres parece estar ficando em segundo plano. A expectativa era de que o departamento começasse a realizar leilões já este mês, mas ele ainda tem de selecionar administradores de recursos para ajudá-lo a decidir o que comprar e quanto pagar. A contratação foi complicada por preocupações sobre as comissões que o governo pagará e por falta de pessoal no Tesouro.

Essa idéia foi fortemente criticada por economistas de todas as estirpes, que argumentam que a compra de ativos problemáticos é uma maneira menos eficiente de combater a crise de crédito do que injetar capital diretamente nas firmas. Paulson no final concordou e anunciou o programa para injetar US$ 250 bilhões nos bancos. O Tesouro está comprando ações preferenciais das firmas e vai obter "warrants" que lhe dão o direito de comprar ações ordinárias a um preço determinado. (Colaborou Michael R. Crittenden)