Título: Após prisão, PF investiga tentativa de suborno
Autor: Tahan, Lilian; Puljiz, Mara
Fonte: Correio Braziliense, 05/02/2010, Cidades, p. 31

Antônio Bento acaba detido depois de entregar sacola com R$ 200 mil ao jornalista Edson Sombra. Polícia vai apurar se o dinheiro, que serviria para Sombra dizer em depoimento que vídeos de Durval Barbosa foram manipulados, veio a mando do governador

Marcelo Ferreira/CB/D.A Press Sombra incentivou Durval Barbosa a revelar suposto esquema de corrupção envolvendo a alta cúpula do governo

PF/Reprodução de video Flagrante: Sombra (em pé) recebe a sacola com dinheiro de Bento

A Polícia Federal abriu uma nova frente de investigação na Operação Caixa de Pandora com base nos relatos de Edmilson Edson dos Santos, conhecido como Sombra, jornalista e amigo do ex-secretário de Relações Institucionais do GDF, Durval Barbosa, responsável por denunciar um suposto esquema de corrupção envolvendo a cúpula do governo, empresários e deputados distritais. As informações prestadas por Sombra culminaram com a prisão em flagrante de Antônio Bento Silva, que foi abordado por delegados da PF logo depois de entregar sacola com R$ 200 mil em dinheiro a Sombra. A sacola com a quantia é apenas uma parte do material que se somará ao Inquérito nº 650 do Superior Tribunal de Justiça (STJ). O jornalista entregou aos policiais fitas com 12 horas de gravações (áudio e vídeo) feitas nas últimas semanas que registrariam conversas e encontros sobre uma suposta tentativa de suborno proposta por interlocutores do governador José Roberto Arruda (sem partido).

Em 21 de janeiro, Sombra procurou a Polícia Federal e contou que vinha sendo abordado por assessores de Arruda que lhe propuseram um acordo: Sombra concordaria em assinar uma carta contando que manipulou os vídeos apresentados por Durval Barbosa ao Ministério Público, à PF e à Justiça e receberia em troca a quantia de R$ 3 milhões. Segundo o jornalista contou à polícia, os R$ 200 mil se referiam à primeira parcela do acerto de contas. Outra quota seria paga no dia do novo depoimento de Sombra à PF, depois que ele entregasse uma cópia de seu relato nas mãos dos correligionários do governador. As demais parcelas de R$ 200 mil seriam pagas em março, abril e maio. O restante, a combinar. A carta foi apreendida no momento da prisão de Antônio Bento.

Segundo o relato de Sombra, Antônio Bento seria o terceiro interlocutor de Arruda na suposta negociação. Teria sido escalado para a missão por manter vínculos tanto com o governador, quanto com o jornalista. Aposentado da Companhia Energética de Brasília (CEB), Bento trabalhou na campanha de 2006 de

Arruda e foi nomeado em 2007 para o conselho do Metrô. O vínculo com Sombra se dava por meio do contrato com o jornal

O Distrital, no qual Antônio Bento tinha a função de gerente comercial de mercado privado, subordinado a Sombra, editor-chefe do semanário.

Além dos vídeos, o jornalista repassou à PF um bilhete que teria sido escrito pelo próprio governador. Frases como ¿sei que ele tentou evitar¿, ¿quero ajuda¿, ¿sou grato¿, ¿Geraldo está valendo¿ e ¿GDF OK¿ fariam parte da mensagem que será submetida à perícia e comporá novo inquérito aberto pela Polícia Federal. De acordo com o jornalista, o novo líder do governo na Câmara Legislativa, Geraldo Naves, foi o mensageiro do bilhete cifrado enviado supostamente por Arruda. A reportagem procurou Naves para que ele comentasse a acusação de Sombra, mas não o encontrou.

Câmeras A prisão de Antônio Bento ocorreu às 8h50 na Torteria de Lorenza, na Quadra 303 do Sudoeste. Em vídeo divulgado pela PF, é possível conferir a cena em que Bento entrega uma sacola de dinheiro para Sombra, imagem captada por quatro das 12 câmeras de segurança da confeitaria. Em seguida à conversa, os dois se levantaram e foram abordados por delegados, que os levaram para a Superintendência da Polícia Federal, no Setor Policial Sul. O delegado Elniz Antônio Rocha Junior passou o dia de ontem ouvindo Sombra e Bento. Às 16h45, após ficar sete horas na Superintendência da PF, Edson Sombra foi liberado. Mas Bento passou a noite preso na carceragem da PF e deve ser levado hoje para o Complexo Penitenciário da Papuda, em São Sebastião.

Antônio Bento foi indiciado no artigo 343 do Código Penal Brasileiro, segundo o qual dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qualquer outra vantagem a testemunha em troca de omitir informação ou mentir em depoimento é crime que pode resultar em pena de três a quatro anos de prisão, além do pagamento de multa. Em nota divulgada em seu site, a Polícia Federal afirma que a prisão em flagrante de ontem será comunicada ao ministro do STJ Fernando Gonçalves, responsável pela condução das apurações da Caixa de Pandora.

Remarcação Há uma semana, no primeiro relato oficial à PF, Edson Sombra compareceu à Polícia Federal, mas pediu para remarcar o depoimento com o argumento de que precisava ler o inquérito.

Câmara define comissões Iano Andrade/CB/D.A Press - 27/5/09 Filiado ao PPS, Cléber Monteiro deixou a direção da Polícia Civil

A Câmara Legislativa do Distrito Federal definiu ontem os integrantes das comissões permanentes da Casa. Os deputados distritais elegeram os presidentes e vice-presidentes de seis comissões permanentes da CLDF: Comissão de Economia, Orçamento e Finanças; de Assuntos Sociais; de Defesa do Consumidor; de Defesa dos Direitos Humanos, Cidadania, Ética e Decoro Parlamentar; de Educação e Saúde; e de Desenvolvimento Econômico Sustentável, Ciência, Tecnologia, Meio Ambiente e Turismo (veja quadro ao lado). Por falta de quorum, a escolha dos membros para os cargos das comissões de Assuntos Fundiários e de Segurança ficou para a próxima terça-feira à tarde. Os eleitos devem ficar à frente dos postos durante todo o ano de 2010.

A definição das comissões atrasou pela segunda vez em uma semana a reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Codeplan. A reunião estava prevista para as 10h de ontem, mas o vice-presidente da Casa, Batista das Cooperativas ¿ que assumiu interinamente no lugar de Alírio Neto o comando da CPI ¿ disse que não tem ainda o nome do quinto integrante da comissão. A lacuna foi aberta com a saída da deputada Eliana Pedrosa (DEM).

Delegado A crise provocada pela Operação Caixa de Pandora tem repercussões não apenas na Câmara. Respingou até na Polícia Civil do DF. Ontem à tarde, o delegado Cléber Monteiro deixou o direção-geral da corporação. Filiado ao PPS, Cléber saiu do cargo por orientação do partido, que se desvinculou do governo Arruda. O delegado é pré-candidato a deputado federal em 2010 pelo partido. Quem assume agora é o delegado Pedro Cardoso, que exercia a função de secretário-adjunto de Segurança Pública.

Composições

Veja como os distritais se dividiram no comando das comissões da Câmara Legislativa:

Comissão de Economia, Orçamento e Finanças Presidente: Cristiano Araújo (PTB) Vice-presidente: Benedito Domingos (PP)

Comissão de Assuntos Sociais Presidente: Erika Kokay (PT) Vice-presidente: Milton Barbosa (PSDB)

Comissão de Defesa do Consumidor Presidente: Chico Leite (PT) Vice-presidente: Reguffe (PDT)

Comissão de Educação e Saúde Presidente: Eurides Brito (PMDB) Vice-presidente: Eliana Pedrosa (DEM) Comissão de Desenvolvimento Econômico Sustentável, Ciência, Tecnologia, Meio Ambiente e Turismo Presidente: Paulo Tadeu (PT) Vice: Jaqueline Roriz (PMN)

Comissão de Defesa dos Direitos Humanos, Cidadania, Ética e Decoro Parlamentar Presidente: Bispo Renato (PR) Vice-presidente: Erika Kokay (PT)

Comissão de Constituição e Justiça Presidente: Geraldo Naves (DEM) Vice: Cristiano Araújo (PTB)

Para o GDF, foi armação

Por meio de nota oficial, o GDF afirmou que repudia todas as insinuações divulgadas e negou ¿qualquer envolvimento¿ com o episódio. Segundo o comunicado oficial, o flagrante de Antônio Bento é uma tentativa de armação do grupo de Durval Barbosa para ¿comprometer o GDF e turvar as investigações¿.

O governo diz na nota que Edson Sombra é íntimo colaborador de Durval e que o assessorou durante as denúncias feitas contra o GDF. Além disso, cita o fato de que Bento trabalha como diretor-comercial no jornal O Distrital, informando que o semanário pertence ao jornalista.

Segundo a nota do governo, nos últimos 15 dias Antônio Bento ¿procurou insistentemente o GDF, primeiro com o pedido de um encontro entre o jornalista Edson Sombra e o governador Arruda e, a seguir, com pedido de patrocínio para o referido jornal. De acordo com o governo, ¿todos os pedidos foram negados¿. O Executivo ainda afirma que Bento integra o Conselho Fiscal do Metrô, cargo para o qual foi indicado em 2007 pelo mesmo grupo de Durval Barbosa.

Para o GDF, causa muita estranheza o fato de o nome de Antônio Bento constar até as 12h46 de ontem no expediente no site do jornal O Distrital e depois sumir da página na internet, ¿uma clara tentativa de ocultar o fato de ele ser empregado de Edson Sombra¿.

Lei Orgânica em discussão

» O deputado federal Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) se reuniu ontem com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, para tratar da Lei Orgânica do Distrito Federal. O artigo 60 da lei é questionado em uma Ação Direta de Inconstitucionalidade movida pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Para a PGR, o artigo ¿ que condiciona a abertura de ação penal contra o governador à autorização da Câmara Legislativa ¿ é inválido, pois a Lei Orgânica não poderia restringir a competência do Superior Tribunal de Justiça (STJ) para processar e julgar governadores. Na opinião de Rollemberg, ¿é fundamental para a democracia que o Judiciário exerça de forma plena e ágil a investigação e a punição dos envolvidos na Operação Caixa de Pandora¿. Mendes respondeu que o STF está ciente da gravidade da crise na capital, mas frisou que os prazos regimentais precisam ser cumpridos.