Título: Serra e Kassab propõem aumentar pista de Congonhas
Autor: Rittner , Daniel
Fonte: Valor Econômico, 06/11/2008, Brasil, p. A3

O governador de São Paulo, José Serra, e o prefeito Gilberto Kassab apresentaram ontem ao Ministério da Defesa um projeto para prolongar em cerca de 1.000 metros as duas pistas - principal e auxiliar - do aeroporto de Congonhas, na cabeceira em direção ao bairro do Jabaquara. Kassab estimou os custos de desapropriação em áreas residenciais em R$ 260 milhões, segundo o valor venal dos imóveis, e a R$ 400 milhões, pelos valores de mercado.

Em princípio, as obras podem ser bancadas pela iniciativa privada, segundo o prefeito. As pistas estendidas ficariam sobre pilares de até 80 metros de altura, permitindo a exploração de estacionamento e de shopping center, mediante contratos de concessão, nos três pavimentos intermediários. Serra garantiu que "todo o investimento será feito em segurança, não na ampliação do volume de passageiros". Ele e Kassab aventaram a possibilidade de assinar um compromisso com o Ministério Público para proibir eventuais aumentos do número de pousos e decolagens permitidos hoje em Congonhas, de até 34 por hora.

Ao lado de Serra e de Kassab, o ministro Nelson Jobim evitou encampar publicamente o projeto, mas determinou ao Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) um estudo, a ser concluído em 15 dias, sobre os impactos que a extensão das pistas terá sobre as rotas de aproximação das aeronaves. É isso que determinará, segundo Jobim, o tamanho dos prolongamentos e os investimentos necessários. O ministro prometeu uma definição sobre o empreendimento ainda neste ano e também ressaltou que o projeto não tem como intenção aumentar a capacidade máxima do aeroporto, de 15 milhões de passageiros por ano. "As projeções indicam 14 milhões de passageiros em 2008", disse.

Para Kassab, tudo leva a crer que "será um negócio muito disputado" e "provavelmente não haverá custos para a prefeitura, nem para o governo do Estado, nem para o governo federal". Ele não vê resistências da população em deixar as imediações de Congonhas. "Ninguém quer morar ao lado do aeroporto. Quem conhece São Paulo sabe bem disso."

Por medida de segurança, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) reduziu em 300 metros a extensão "útil" para as operações em Congonhas, após o acidente com o vôo 3054 da TAM. A pista principal tem 1.940 metros e a auxiliar, 1.435 metros. Isso exige das companhias levantar vôo sem o tanque cheio, a fim de diminuir o peso dos jatos e utilizar menos pista nas decolagens.

Politicamente afinados - ambos foram colegas de Esplanada dos Ministérios no governo Fernando Henrique Cardoso -, Jobim e Serra demonstraram divergências, porém, sobre a expansão do aeroporto de Guarulhos, o principal do país. O governador pediu agilidade na construção do terceiro terminal de passageiros de Cumbica, que permitirá ao aeroporto expandir sua capacidade de 17 milhões para 29 milhões de passageiros anuais, e sugeriu a construção das novas instalações por meio de uma concessão com a iniciativa privada.

Jobim descartou a inclusão do novo terminal de Guarulhos, cuja licitação a Infraero promete fazer há mais de três anos, no plano de concessões em estudo pelo governo, BNDES e Anac. Por enquanto, o estudo diz respeito apenas aos aeroportos do Galeão e de Viracopos, em Campinas.

Serra tem interesse em uma definição rápida para Guarulhos porque deseja licitar um trem expresso ligando o centro de São Paulo ao aeroporto. O edital deve sair nas próximas semanas, mas o tamanho do aeroporto - e o volume de passageiros - tende a influenciar diretamente o valor da tarifa do projeto ferroviário.

Kassab e Serra também conversaram com o ministro da Defesa sobre a cessão de parte da área do Campo de Marte para a prefeitura. A intenção de Kassab é construir, com recursos municipais, instalações como um centro de convenções, um parque e uma arena multiuso (para shows e outros eventos). Operações sem relação direta com os vôos seriam transferidas para outras áreas, a serem construídas pela prefeitura, segundo Kassab.