Título: Para Aécio, disputa de 2010 exigirá do PSDB 'juízo e desprendimento'
Autor: Ulhôa , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 06/11/2008, Política, p. A6

O governador Aécio Neves (MG) recomendou "juízo e desprendimento" ao PSDB, se quiser vencer a disputa presidencial. Em reunião com a bancada tucana na Câmara, defendeu a construção de alianças partidárias, atraindo forças que hoje estão sob o "guarda-chuva" do governo Luiz Inácio Lula da Silva - especialmente o PMDB, pela "identidade" com o PSDB. "Parte das forças partidárias que sustentam o presidente podem estar ao nosso lado nesse novo projeto, o pós-lula: mais ousadia no campo econômico e mais responsabilidade na gestão pública", disse.

Num périplo por gabinetes e plenários da Câmara e do Senado, a postura de Aécio mostrou que ele continua candidatíssimo e disposto a disputar com o governador José Serra (SP) prévias no PSDB para a escolha do candidato do partido à Presidência. "Gosto (de prévias). Ninguém pode ver com receio consulta às bases do partido. Se houver mais de um nome, que ela ocorra e sirva de mobilização do partido", disse.

Serra chegou ao Congresso minutos depois que Aécio deixou a Casa - este pela entrada principal e o paulista, pela garagem dos senadores. Ao contrário do mineiro, Serra negou-se a falar sobre política, mas fez um percurso muito parecido ao do mineiro. Conversou com o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), depois seguiu para reunião com a bancada da Câmara - encontros mantidos antes por Aécio.

O governador de Minas prega que o PSDB defina seu candidato a presidente apenas no final de 2009. Até lá, acha que o partido deve definir projetos no campo da gestão pública - onde, na sua opinião, estão as principais diferenças com o PT. "O PSDB tem a oportunidade única, ao longo de 2009, de consolidar esses projetos, para, aí sim, escolher quem é aquele que tem condições melhor de aglutinar não só o PSDB, mas outras forças políticas", disse.

Aécio refutou a possibilidade de o PSDB apresentar chapa "puro-sangue" em 2010, com Serra na cabeça e ele como vice. Seria, segundo ele, "pretensioso" o partido achar que pode vencer eleições e governar sozinho. Por isso, defende alianças partidárias, atraindo partidos da base do governo Lula - principalmente o PMDB. "A expectativa de poder aglutina", afirmou, prevendo que o PT terá dificuldade de reeditar o arco de alianças que sustenta o governo.

Na opinião de Aécio, falar em chapa puro-sangue prejudica a estratégia de buscar aliados. "Iniciar a discussão dizendo que tem candidato a presidente e a vice pelo menos para nós, mineiros, não é algo pedagógico, não é algo que sinalize desprendimento e uma construção que tem que ser coletiva", disse. Segundo ele, a identidade entre PSDB e PMDB deve ser "melhor explorada" no futuro. "O PSDB, o PMDB, além de outros aliados, como o DEM e o PPS, podem, quem sabe, pensar em construir um projeto junto para 2010." O governador citou os quatro partidos que fizeram juntos a campanha para a Prefeitura de São Paulo.

Além de unidade partidária, defendeu duas estratégias a serem seguidas pelo PSDB em 2010: apresentar à população um projeto de governo mostrando as diferenças entre o modelo de gestão adotado pelos tucanos e o de Lula. O governo atual, segundo Aécio, é "perdulário e colocou a questão da ética para debaixo do tapete". Ele criticou a criação de 85 mil novos cargos neste ano e disse que os tucanos "não gastam com a companheirada".

Para Aécio, as eleições municipais mostraram que Lula não conseguirá "ungir" ninguém para a cadeira presidencial.

O governador foi ao Congresso principalmente para estimular os parlamentares a votar um projeto de lei que permite o ressarcimento a Estados e municípios de R$ 1,3 bilhão referentes a perdas com a desoneração das exportações, prevista na Lei Kandir. "Os Estados vêm tendo prejuízo enorme com essa desoneração. Calculamos em R$ 20 bilhões", disse.

Serra só falou - e rapidamente - sobre o projeto de lei aprovado pela manhã na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, que regulamenta a videoconferência para interrogatórios de réus presos. Para ele, isso significará economia de recursos humanos e financeiros, hoje gastos com o deslocamento de presos, e mais segurança. Assim como Aécio, manifestou posição contrária à aprovação da reforma tributária em meio à crise financeira.