Título: Pemedebistas calculam risco de ruptura com o PT
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 06/11/2008, Política, p. A6

Dirigentes do PMDB avaliam que a ruptura do acordo firmado entre o partido e o PT para assegurar a eleição de Michel Temer (SP) à Presidência da Câmara em 2009 seria uma séria ameaça à parceria entre os dois partidos no processo sucessório do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O compromisso, lavrado antes da eleição de Arlindo Chinaglia (PT-SP) para o biênio 2007-2008, não pode ser desfeito sob pena de jogar fora uma relação de confiança baseada na palavra. "Acordos políticos fechados no fio do bigode não podem ser abandonados dessa forma", afirmou um integrante da cúpula partidária.

Na visão do pemedebista, Lula, arguto como é, já percebeu isso e vai procurar, de todas as formas, evitar o problema. Por questões de agenda, acabou não acontecendo ontem o encontro do presidente com lideranças pemedebistas do Senado, mas setores do partido apostam na necessidade dessa conversa. "Lula buscará de todas as formas um caminho para evitar desequilíbrios na base aliada". O Planalto sonha com a pacificação nas duas Casas, conduzindo Temer à presidência da Câmara e Tião Viana à do Senado. "Seria o cenário ideal na cabeça do presidente", confirmam ministros dos dois partidos.

Mas os senadores pemedebistas pensam diferente e ainda buscam outra solução. Alguns atribuem o impasse à pressão do senador José Sarney (PMDB-AP) que, derrotado nas eleições municipais maranhenses, busca na sucessão para as Mesas da Câmara e Senado um caminho para continuar vivo politicamente até 2010. Outros afirmam que é Renan Calheiros (PMDB-AL) que está buscando se cacifar, retornando ao cenário nacional como líder do partido na Casa, depois de ser obrigado a renunciar à presidência do Senado para escapar de um processo de cassação por quebra de decoro parlamentar. "O Renan é pragmático, ele vai saber se acomodar qualquer que seja a solução", complementou um pemedebista.

Ontem, Lula recebeu em audiência o prefeito reeleito de Salvador, João Henrique Carneiro, e o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima. Ambos asseguraram que não existem razões para se pensar em um afastamento entre PT e PMDB, seja no plano estadual, seja no plano federal. Geddel negou ainda que seu partido esteja sendo assediado pelo PSDB para compor uma parceria nas eleições de 2010. "Em linguagem moderna, isso se chama lenda urbana. Se depender de mim, do meu esforço, continuaremos juntos com o presidente Lula nesses dois anos", frisou o ministro.

João Henrique também buscou um tom pacificador ao falar do PT local. Disse que os ataques feitos ao governador Jaques Wagner (PT) durante a disputa na capital baiana - o pemedebista chamou o governador de lerdo e incompetente - estavam no contexto da disputa eleitoral e já não fazem sentido. "Eu estive com ele dois dias depois das eleições, recepcionando o presidente Lula na base aérea de Salvador".

Da mesma maneira, o ministro da Integração Nacional brincou que o possível rompimento com Wagner é fruto do oba-oba pós-eleitoral. Questionado se o presidente repetira a ele a pergunta feita em Salvador - "Geddel, você e o Wagner já voltaram a namorar?" -, respondeu: "Ele sabe que o casamento nunca esteve abalado".