Título: Crise financeira pode afetar política comercial
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 06/11/2008, Internacional, p. A12

A expectativa na cena diplomática em Genebra sobre a política comercial do governo de Barack Obama é, no geral positiva, apesar deu seu discurso duro durante a campanha eleitoral sobre temas relacionados à liberalização.

Obama acenou com cláusulas trabalhistas e ambientais em acordos comerciais, defendeu a renegociação do Nafta (o acordo de livre comércio com o México e o Canadá), reequilibrar a relação econômica com a China e reforçar mecanismos de defesa commercial para combater supostas praticas desleais de parceiros que afetariam a indústria americana.

Mas importantes negociadores em Genebra notam que com republicanos ou democratas na Casa Branca, os EUA têm mantido uma linha em sua política comercial, às vezes com mudança mais no tom do que no conteúdo. No caso de Obama, a alteração no tom seria por liderança com mais diálogo.

No curto prazo, a expectativa é de que a política comercial americana será ditada mais em função da crise financeira. O agravamento da situação econômica, com demissões, fechamento de fábricas e menos investimentos, pode levar o novo governo americano a empurrar para mais tarde a negociação para cortar subsídios e tarifas agrícolas e industriais na Organização Mundial do Comércio (OMC).

Esse cenário é privilegiado por certos analistas, ainda mais levando em conta que qualquer governo dos EUA sabe que não pode fazer acordo commercial que não passe no Congresso.

Obama terá a maioria no Senado e na Câmara dos Deputados. Essa maioria justamente entende que a prioridade econômica é atender expectativas da classe média, por exemplo com o pacote de estimulo econômico, com reformas tributária e no setor da saúde.

De qualquer forma, não será uma surpresa se Obama anunciar em breve que quer uma conclusão mais rápida da Rodada Doha, na OMC, que já dura quase oito anos. Isso pode ocorrer ainda mais porque os democratas entendem que há pouca coisa na mesa de negociação que possa conduzir a um acordo rapidamente, e apostariam mais seriamente num pacote de liberalização pelo final de 2009.

Muito dependerá da equipe que Obama escolher para dirigir a política comercial. Assim que o novo representante comercial americano for escolhido, o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, tentará impulsionar a negociação.

No geral, a eleição de Obama é vista como uma nova esperança. Alguns negociadores já dizem que os EUA não são mais o mesmo. Da noite para o dia, a percepção em relação ao país mudou para melhor.