Título: Esforço agora é perseguir meta de 2009
Autor: Ribeiro , Alex
Fonte: Valor Econômico, 07/11/2008, Finanças, p. C3
O Banco Central diz em ata divulgada ontem que, assim como interrompeu a alta da taxa básica de juros na sua reunião da semana passada, poderá retomar o aperto monetário caso a inflação não caminhe para a meta de 2009, estabelecida em 4,5%.
No documento, o BC reafirma o compromisso com o combate à inflação, sinalizando que, ao contrário do que faz o Federal Reserve ou os bancos centrais de países desenvolvidos, não maneja a política monetária com vistas a garantir um crescimento mínimo da economia. Nos trechos da ata em que menciona o crescimento da economia, é apenas para dizer o quanto esse fator poderá influenciar a taxa de inflação do próximo ano.
"Foi uma tentativa de domar as expectativas de inflação por meio de palavras, já que neste momento o BC está limitado para subir os juros, pois são grandes os riscos de uma desaceleração mais forte da economia", diz Elson Teles, economista da Concórdia Corretora.
"O BC busca flexibilidade nesse período de incerteza", avalia Alexandre Maia, economista da Gap Asset Management. "Se a reunião fosse na semana que vem, certamente o BC iria manter os juros, mas como há um longo caminho até a reunião de dezembro, sua estratégia foi deixar uma porta aberta para voltar a subir os juros caso a inflação piore." Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC manteve os juros básicos em 13,75% ao ano, interrompendo um ciclo de alta iniciado em abril, quando a taxa estava em 11,25% ao ano. Logo após a reunião, o BC divulgou nota dizendo que, naquele momento, a parada na alta de juros era a decisão recomendada em virtude do ambiente econômico de incerteza.
Na ata, o BC diz que "as perspectivas para a evolução da atividade econômica se tornaram mais incertas" desde a reunião de setembro do Copom. "Em particular, os efeitos da crise internacional sobre as condições financeiras internas indicam que a contribuição do crédito para a sustentação da demanda doméstica pode se arrefecer de forma mais intensa do que seria determinado exclusivamente pelos efeitos da política monetária." O BC também diz que a intensificação da crise parece ter tido efeito negativo sobre a confiança dos consumidores e dos empresários. A persistir esse quadro, diz a autoridade monetária, o crescimento da economia passaria a depender sobretudo do aumento da massa salarial real e das transferências governamentais, como pagamento de benefícios previdenciários e assistenciais.
O BC diz que, somados, todos esses efeitos podem representar uma redução ainda mais forte da demanda, como consumo e investimento, o que poderia levar ao arrefecimento da inflação. A ata diz, por outro lado, que os riscos inflacionários não foram eliminados. "O ritmo da demanda doméstica segue colocando riscos importantes para a demanda doméstica", diz o documento. O BC cita o alto grau de utilização da capacidade instalada na indústria e o aquecimento do mercado de trabalho, que podem dar margem a fortes reajustes de preços e salários.
A crise internacional, que elevou a cotação do dólar, surgiu como mais um fator de risco à inflação, diz a autoridade monetária. O BC informa na ata, sem citar números, que a projeção para o IPCA de 2009 feita pelos seus modelos econômicos subiu em relação aos 4,8% previstos no relatório de inflação de setembro. A alta nas expectativas de inflação do mercado é outro fator importante de risco.
A leitura dos analistas econômicos é que o BC deverá manter os juros estáveis enquanto perdurar o cenário de incerteza. Mas poderá endurecer a política monetária se o quadro inflacionário se deteriorar. Chamou a atenção trecho da ata em que o BC diz que a interrupção do aperto monetário pode ser transitório. Nele, o BC diz que a política monetária deverá atuar "por meio do ajuste na taxa de juros, ainda que não necessariamente de forma contínua, para reduzir o descompasso entre a oferta e a demanda agregada e evitar que pressões originalmente isoladas sobre índices de preços levem à deterioração persistente das expectativas e do cenário prospectivo para a inflação."