Título: Shell inicia perfuração no pré-sal em 2009
Autor: Schüffner , Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 07/11/2008, Empresas, p. B8

Com um portfólio formado por treze concessões no Brasil, sendo nove em fase exploratória, duas em fase de desenvolvimento e duas em produção (os campos de Bijupirá e Salema), a Shell vai começar a perfurar o pré-sal brasileiro pelo campo de Epitônio (BM-S-54), no fim de 2009, quando chegará ao Brasil uma sonda contratada especialmente para o local. A companhia tem 100% da área, além de outros três blocos do pré-sal de Santos como sócia não-operadora: BM-S -43, BM-S-45 e Bem-Te-Vi (BM-S-8).

A empresa também descobriu os campos Atlanta e Oliva no bloco BS-4, na bacia de Santos. Mas o óleo encontrado ali é do tipo extra-pesado - com 14º na escala do Instituto Americano de Petróleo - e com alto grau de acidez e por isso ainda discute com as sócias Petrobras (40%) e Chevron (20%) as caríssimas opções de desenvolvimento da área.

Em recente visita ao Rio de Janeiro, o diretor financeiro da Shell, Peter Voser, já anunciado como o próximo presidente da empresa no lugar de Jeroen Van der Veerr, ressaltou a experiência da companhia em mais de 40 anos de produção de petróleo em reservatórios carbonáticos do pré-sal em áreas no Golfo do México, Gabão, Holanda (onde produz gás no pré-sal) e Omã.

Experiência essa que a Shell gostaria de compartilhar com a Petrobras, que tem hoje um bilionário portfólio exploratório em áreas de pré-sal. Durante a visita, Voser ofereceu à Petrobras tecnologia para instalar uma unidade de liquefação de gás em alto-mar, o que permitiria extrair, liquefazer e transportar o gás dos campos de Tupi e vizinhos sem a necessidade de construir extensos gasodutos submarinos.

Uma das empresas estrangeiras com mais tempo de produção no Brasil - ela descobriu Merluza em 1979 na época dos contratos de risco - a Shell aguarda para dezembro ou início de janeiro a chegada da plataforma flutuante (FPSO) Espírito Santo. Com capacidade instalada de processar 100 mil barris/dia, ela vai produzir petróleo e gás no bloco BC-10 - com Petrobras (35%) e a indiana ONGC (15%). Foi onde a Shell encontrou reservatórios que receberam o nome de Parque das Conchas. Ele é formado pelos campos de Ostra, Abalone e Argonauta.

Os três formam a primeira fase do projeto de desenvolvimento da produção do BC-10. A quarta descoberta da Shell no Parque das Conchas é o campo Nautilus, que recentemente foi unitizado com o campo Mangangá, descoberto pela Petrobras no bloco BC-60. Nesse último a estatal descobriu o seu "Parque das Baleias", que inclui Jubarte.

A Shell não informa valores de investimentos em cada projeto, divulgando apenas que já foram aportados US$ 2,3 bilhões entre 1998 e 2008. Desde agosto de 2007, o escocês Stephen Whyte comanda a vice-presidência de exploração e produção no Brasil. A área tem nove pessoas, sendo que recentemente dois brasileiros assumiram cargos antes ocupados por estrangeiros: o geólogo Jonas Castro (ex-ANP e ex-Petrobras) é o novo gerente de exploração no lugar de Julian Fowles e Ricardo Guerreiro assumiu a gerência de desenvolvimento de negócios antes ocupada por Andries Kuivenhoven. Houve também uma transferência da brasileira Patrícia Garcia, ex-gerente de assuntos regulatórios e relações externas, que foi para a Holanda e cujo cargo está hoje com Flávio Rodrigues, que já passou pelas áreas de suprimentos, estratégia e desregulamentação para a América Latina.

A Shell obteve lucro de US$ 10,9 bilhões no terceiro trimestre de 2008 e receita líquida de US$ 131,5 bilhões. O resultado foi obtido graças a aumento dos preços do petróleo e venda de ativos, que compensaram queda de 7% na produção de petróleo e gás.