Título: ArcelorMittal suspende contrato de longo prazo com Vale
Autor: Durão , Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 07/11/2008, Empresas, p. B9

O presidente da Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, confirmou ontem que a ArcelorMittal, a maior siderúrgica do mundo, suspendeu contrato de longo prazo de fornecimento de minério firmado com a Vale. O executivo, que apontou a demanda por minério e não o preço como o maior problema do mercado hoje, considerou o fato um problema do grupo siderúrgico que é preciso respeitar. "A ArcelorMittal está reduzindo produção num ritmo fortíssimo. Como é que eu vou querer que ele (Lakshmi Mittal, dono e presidente da gigante do aço) honre o contrato? Onde é que ele vai por o minério? Não tem onde por", disse Agnelli em entrevista após palestra no RioSummer, evento de moda no Rio.

Agnelli disse não conhecer ainda o tamanho do corte do contrato de fornecimento da ArcelorMittal, mas adiantou que vai procurar Mittal para conversar "logo, logo". "Quero ver em que a gente pode apoiar eles, ajudá-los de alguma forma". Ontem, a ArcelorMittal Tubarão, ex-CST, comunicou oficialmente um corte de 35% na produção. Este é o percentual de corte mundial das usinas do grupo controlado por Mittal.

No caso do reajuste do preço do minério de ferro para 2009, Agnelli acha que as conversas entre as siderúrgicas e mineradoras para acertar um novo valor do produto vendido nos contratos de longo prazo só vão demorar a começar. "Ninguém tem condições hoje de negociar nada. No mundo inteiro a depressão é grande. O consumo de Prozac deve estar aumentando, porque todo mundo está deprimido. Graças a Deus no Brasil a gente está bem, comparado com outros países".

Ele evitou falar sobre a tendência do preço do minério para o ano que vem. Indagado se acreditava que o minério teria aumento em 2009 disse "não sei". Segundo Agnelli, ele pergunta a seus clientes quando acham que o mercado vai melhorar, se o volume de encomendas de minério vai crescer. E eles não sabem. O que é preço? Eles não sabem. No seu entender, a questão do preço hoje não é nada. A questão mais importante é que não tem mercado. "Em algumas áreas e regiões não tem mercado. Hoje não adianta baixar o preço do minério de ferro. Isto não acrescenta uma tonelada a mais vendida, porque o problema, vou insistir, não é preço, é demanda".

O executivo não crê que a Vale terá que ampliar os cortes na produção. "Já fizemos os ajustes necessários", disse, referindo-se ao corte de 30 milhões de toneladas anunciado há alguns dias. Agora, a Vale está produzindo para fazer um estoque estratégico. "Estávamos trabalhando sem estoque. Agora vamos ter chance de respirar nestes últimos dois meses".

Ele voltou a ressaltar que o último trimestre do ano será fraco ante o terceiro. "O volume de vendas realmente está caindo e estamos produzindo mas estocando para ter um estoque estratégico". Mas garantiu que a empresa continua gerando bons resultados. Ele avalia que assim como não considerava sustentável os altos preços a que o minério chegou no final do ano passado, também não vê como sustentável a situação atual, uma paralisia geral.

Ele disse que a Vale continua trabalhando para diversificar sua produção e está "furando" para obter gás. "Para nós é um insumo importante. Estamos neste negócio em parceria, somos pequenininhos, mas temos ao nosso lado a Petrobras e a Shell. Nosso negócio de gás tem a ver com nosso negócio de energia".

O presidente da Vale anunciou que está em campanha junto as agências de risco para a companhia obter a nota AAA. "Pedi a todas para melhorarem a nota da Vale. Temos que ter um "upgrade", pois a empresa é muito melhor que outras que aí estão e já têm o triple A".