Título: Política fiscal será limitada pelo déficit, diz Bernanke
Autor: Franco , Célia de Gouvêa
Fonte: Valor Econômico, 10/11/2008, Brasil, p. A4

Na tarde de sexta-feira, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke teve uma reunião com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e um grupo de executivos de instituições financeiras brasileiras, no qual tratou da situação da economia americana e dos motivos que levaram à crise financeira global. Segundo relato de participantes do encontro, Bernanke disse que será necessário fazer mudanças no sistema de regulação do sistema financeiro, afirmou que medidas fiscais terão um papel importante para tentar reanimar a atividade econômica, embora tenha notado que o tamanho do déficit público americano impõe limites a isso, e contou que já conversou algumas vezes com o presidente eleito, Barack Obama. AP / Andre Penner

Ben Bernanke, do Fed: destaque para fragilidade da economia americana

O presidente do Fed também fez elogios ao BC brasileiro. Bernanke veio ao Brasil para participar do encontro do G-20, o grupo que reúne ministros de Finanças e presidentes dos BCs das 20 mais importantes economias do mundo.

Participaram da reunião os diretores do BC Mário Torós (política monetária) e Alexandre Tombini (normas), o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, o vice-presidente financeiro da Caixa Econômica Federal, Márcio Percival Alves Pinto, o vice-presidente de negócios internacionais e atacado do Banco do Brasil , José Maria Rabelo, o controlador do Safra, Joseph Safra, o presidente do Itaú BBA, Cândido Bracher, o diretor-executivo de tesouraria do Unibanco, Daniel Gleizer, o diretor de pesquisa e estudos econômicos do Bradesco, Octavio de Barros, o banqueiro André Esteves, do Banking & Trading Group, o diretor de investimentos da Previ (o fundo de pensão dos funcionários do BB), Fábio de Oliveira Moser, e o presidente da Nossa Caixa, Milton de Melo Santos.

Antes da chegada de Bernanke, o subsecretário de Assuntos Internacionais do Tesouro americano, David McCormick, fez uma exposição de cerca de meia hora sobre a economia americana. Bernanke tratou das causas da crise, destacando as falhas nos sistemas de avaliação de risco que permitiram a eclosão da crise nos EUA - para ele, o sistema não foi capaz de avaliar o risco do setor como um todo. Para corrigir esse problema, serão necessárias mudanças na regulação do sistema financeiro, disse Bernanke.

O presidente do Fed discorreu também sobre o estado em que se encontra a economia dos EUA. Segundo um dos participantes do encontro, Bernanke diz que não há preocupação com a inflação no curto prazo. Ainda que seja algo que exija um monitoramento constante, a debilidade da economia não traz o risco de grandes pressões inflacionárias. Para o presidente do Fed, 2008 e 2009 serão anos de atividade econômica fraca, dado o ajuste já em curso no consumo das famílias.

Segundo uma fonte, Bernanke disse que a política fiscal terá um papel na recuperação da maior economia do planeta, falando sobre as medidas nesse sentido que deverão ser adotadas pelo governo Obama. Outro presente ao evento contou que o presidente do Fed afirmou, porém, que há limites para o expansionismo fiscal, dado o crescente déficit público americano. Alguns analistas acreditam que o rombo no orçamento dos EUA pode atingir US$ 1 trilhão em 2009. Em entrevista na sexta-feira, o presidente eleito americano deixou claro que pretende usar medidas de estímulo fiscal para tentar reanimar a rastejante atividade econômica.

Meirelles falou rapidamente sobre o Brasil. Quem tratou do tema mais longamente foi Coutinho, que entrou em mais detalhes sobre como anda a economia real. Os executivos de instituições financeiras brasileiras falaram sobre as condições do crédito e da liquidez no sistema financeiro do país.