Título: Ipesa, da Argentina, consolida-se no Brasil
Autor: Zanatta , Mauro
Fonte: Valor Econômico, 11/10/2008, Agronegócios, p. B9

Uma tradicional empresa argentina começa a consolidar no Brasil uma nova maneira de armazenar grãos nas propriedades rurais. Com a promessa de baixo custo operacional e manutenção da qualidade do produto, o sistema Silobag, composto por um "salsichão" de polietileno de 60 metros, pode proteger até 3 mil sacas (200 toneladas) de soja, milho, sorgo, trigo ou feijão. Jefferson Dias / Valor

Malinarich (esq.) e Baum: planos para a construção de uma fábrica no país

Fundada na década de 60, a Ipesa produz 100 mil toneladas anuais de resinas plásticas para embalagens e já vendeu 11,5 mil sacolões para armazenar 2,3 milhões de toneladas de grãos no Brasil, sobretudo nos mercados de Minas Gerais, Bahia, Goiás e Mato Grosso. A empresa, com faturamento projetado em US$ 200 milhões em 2008, investe para alcançar a marca de 5 milhões de toneladas (20 mil unidades) nesta safra 2008/09.

E já faz planos para construir uma fábrica de "salsichões" plásticos no país quando as vendas rondarem 150 mil unidades no Brasil. "Nesse caso, teríamos escala para atender ao mercado brasileiro", diz o agrônomo Héctor Malinarich, gerente comercial da subsidiária Ipesa do Brasil.

A alternativa plástica às grandes estruturas metálicas de armazéns tradicionais custa US$ 750 por unidade. A máquina usada para encher os "salsichões" custa outros R$ 20 mil em investimento fixo. No total, informa a empresa, o custo chega a R$ 0,70 por saca de produto. "A construção de um armazém convencional custaria entre R$ 12 e R$ 15 por saca ao longo de dez anos, com juros de 12%", calcula Malinarich. A diferença está na durabilidade, já que as resinas resistem, no máximo, 18 meses.

"Mas com o investimento num silo tradicional é possível armazenar por até 40 anos no nosso sistema", afirma. Ele lembra, ainda, que a opção por uma estrutura armazenadora de terceiros, como tradings e agroindústrias, não garante segurança e pode tem um custo ainda mais alto ao produtor.

O novo sistema, que começou a ser usado por aqui na safra 2004/05, pode auxiliar na solução de parte dos problemas de armazenagem brasileira, cuja capacidade estática está não tem acompanhado o crescimento da produção de grãos, fibras e cereais. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) registra capacidade estática par 125,7 milhões de toneladas de grãos, mas a safra brasileira já soma 141 milhões de toneladas.

Há um déficit, portanto, de 15 milhões de toneladas. "É um mercado bastante promissor", afirma o diretor da empresa no Brasil, Demian Baum. Na Argentina, segundo a empresa, 45% da produção de grãos do país - ou 30 milhões de toneladas - já usam o sistema da Ipesa como proteção.

A tecnologia desenvolvida pela Ipesa também promete ajudar a driblar os altos custos de frete e amenizar as deficiências logísticas de regiões produtoras mais distantes, como no norte de Mato Grosso. "O produtor pode guardar a safra e esperar o melhor momento para vender", diz Baum. E pode servir, ainda, a empresas que precisem trabalhar com a segregação entre grãos transgênicos e produção convencional. "Além de manter as características de umidade e cor, é possível fatiar o armazém para compartimentos menores", afirma Héctor Malinarich.

Para produzir os "salsichões", a indústria argentina leva a matéria-prima, por via marítima, do pólo industrial de Bahía Blanca, próximo de Buenos Aires, até a zona franca da cidade de Río Grande, situada na Província da Terra do Fogo (Patagônia), onde uma das quatro fábricas transforma o material no "Silobag". De lá, o produto volta ao porto de Buenos Aires, onde é reembarcada para outros países, da Europa, Ásia, África e Oceania.