Título: Petrobras deve anunciar lucro recorde
Autor: Schüffner , Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 11/11/2008, EU& Investimentos, p. D3

A queda vertiginosa nos preços do petróleo acentuada nos últimos dois meses ainda não deverá ter efeito no balanço da Petrobras. Pelo menos não no resultado do terceiro trimestre. Analistas do mercado financeiro esperam que a estatal divulgue hoje lucro líquido entre R$ 8 bilhões e R$ 10,4 bilhões entre os meses de julho e setembro.

Na opinião de um experiente analista que pede para não ter seu nome divulgado, a Petrobras terá no terceiro trimestre deste ano "o melhor resultado da história da companhia". O desempenho será puxado, entre outros fatores, pelo crescimento das vendas de combustíveis no mercado interno e ainda sem refletir de forma efetiva a queda dos preços do petróleo.

O Itaú prevê que o lucro líquido será de R$ 10,4 bilhões, 88% maior que o registrado no mesmo período de 2007, quando o resultado foi de R$ 5,672 bilhões. A receita líquida da companhia deve ficar em torno de R$ 57 bilhões de acordo com as projeções do Itaú Securities e do Credit Suisse, que também espera resultado de R$ 10,34 bilhões, enquanto o lucro antes dos juros, impostos, depreciações e amortizações (lajida) estimado é de R$ 19,1 bilhões.

O banco UBS espera lucro um pouco menor, de R$ 8,39 bilhões no trimestre, receita líquida de R$ 54,47 bilhões e lajida de R$ 15,2 bilhões.

Mônica Araújo, analista da Ativa Informa Research, espera um lucro de R$ 9,6 bilhões. Em seu relatório, ela destaca um aumento de 2,5% nas vendas de combustíveis, entre o segundo e o terceiro trimestres de 2008, e 5,6% na comparação com o mesmo período do ano passado. O destaque nas vendas de combustíveis da companhia ficou com o mercado externo, que teve aumento de 4% se comparado com o terceiro trimestre de 2007, enquanto o mercado interno cresceu 6,1% e 2% na comparação com o segundo trimestre.

As fortes vendas de gasolina e diesel no período de julho a setembro foram registradas pela Agência Nacional do Petróleo e Gás (ANP), que mostrou aumento de 6,7% nas vendas de gasolina entre o segundo e o terceiro trimestres deste ano e de 8,4% nas vendas de diesel.

"Além do maior volume de vendas, ainda esperamos um pequeno ajuste no preço de realização das refinarias, basicamente em função do impacto integral no trimestre do último reajuste de diesel e gasolina. Com esses dois fatores, a receita líquida cresce em qualquer comparação", destaca Mônica Araújo em relatório.

A variação cambial afeta R$ 26,9 bilhões em ativos totais da Petrobras, contra uma exposição de R$ 7,7 bilhões no passivo. Com isso, o efeito da depreciação do real frente ao dólar é de 20,2% no terceiro trimestre, o que trará efeito positivo, avalia a analista da Ativa Informa Research.

Quaisquer que sejam os números, o resultado robusto deste trimestre não deve se repetir tão cedo. A tendência a partir de agora pode ser uma queda do preço de realização do petróleo, redução do volume de vendas de derivados provocado pela retração econômica, queda de margens, aumento das despesas financeiras e utilização do caixa para investimentos. Esses efeitos devem ser visíveis durante o primeiro semestre de 2009, depois espera-se que o petróleo volte a subir e a situação melhore. Se poucos duvidam do aumento do preço do produto, a grande maioria desconhece quando a economia vai se estabilizar de modo a permitir um novo ciclo de aumento da demanda.